XVIII - Do mesmo sangue

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Urd Lewis não conseguiu dormir bem a noite pensando nas coisas que havia escutado por parte de Gaye. E também devido a tudo que acontecera naquele dia. O sono inquieto e a culpa exibiam-se no rosto marcado por olheiras que a deixavam ainda mais velha do que naturalmente já parecia. Depois de um banho quente e de alguns bons minutos se encarando pelo espelho, resolveu se vestir, sem esperar que ninguém viesse lhe ajudar.

Ainda não acreditava em toda a situação, encarava o quarto ao redor com todos os móveis de mogno e a prataria e não acreditava que estava mesmo fazendo isso. Sentiu raiva de si mesma, esta que se dissolveu quando lembrou do que Gaye lhe dissera na noite anterior. A porta se abriu antes que terminasse de vestir sua camisa, os olhos de Gawain passearam-lhe pelo corpo quando este surgiu sob o umbral, vestindo-se totalmente de preto.

— Você deveria bater — Urd murmurou rouca, o cansaço expondo-se na voz.

— Somos noivos Urd, precisamos nos tornar íntimos — ele deu ênfase na última palavra, entrando e fechando a porta atrás de si.

Urd revirou os olhos.

— Para onde estamos indo?

Gawain se aproximou dela e estendeu as mãos, segurando os botões de sua camisa para terminar de fechá-los.

— Precisamos terminar as formalidades antes de nos casarmos, como deixou bem claro será uma cerimônia confidencial apenas conosco e uma testemunha que provavelmente será Gaye ou um guarda qualquer — ele ajeitou a gola da blusa dela. — Tem alguém em mente?

— Não.

Ele meneou a cabeça em afirmativa, o sorriso sereno ainda estampado nos lábios, então foi até a cadeira e pegou o casaco de veludo que combinava com o seu, ajudando-a a vesti-lo. Urd curvou-se para trás para enfiar os braços nas mangas, e Gawain ficou parado atrás dela, tirando as tranças para que ela pudesse fechá-lo, depois deixou os cabelos caírem pelas costas.

— Como herdeiro ilegitimo preciso de aliado, por isso fico feliz por ter uma mulher inteligente ao meu lado — ele murmurou e a segurou por alguns segundos, fazendo-a suspirar.

— Espero que eu não esteja fazendo uma má escolha.

Gawain virou-a para ver o rosto dela, a sobrancelha arqueada de um jeito provocador.

— Não confia em mim?

Urd aproximou-se dele, fazendo-o perder a compostura por um instante, então quando suas bocas quase encostavam-se, ela sussurrou contra os lábios dele.

— Eu nunca confio em ninguém — Gawain fez menção de terminar o beijo, arfando quando Urd afastou-se abruptamente, então ele limpou a garganta quando ela sorriu vitoriosa. — Agora vamos.

***

Urd caminhou ao lado de Gawain pelo palácio, sentindo-se cada vez mais exausta ao ter de retribuir todos os cumprimentos das pessoas que desfilavam pelo local e exibiam uma falsa cordialidade. Não sabia bem que tipo de formalidades ele estava falando, mas seu estado letárgico não a permitiu formular perguntas enquanto caminhava, até ver-se em frente à entrada do subsolo.

— Aonde estamos indo?

— Estamos indo ao submundo — Gawain brincou, mas Urd não achou graça, segurando-o pelo pulso para que olhasse para ela.

— Fale!

— Estamos indo ver minha mãe — ele desviou o olhar.

— Por que não me disse isso antes?

De Trevas e Sangue  [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora