XXVI - O matriarcado ascenderá!

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Gaye esperava pacientemente – ao menos por fora –, ao lado da entrada da sala de Micah. Ela discutia com duas informantes notícias sobre os ataques que Rosefall sofrera nos últimos cinco dias. Estavam enfurecidos, e o exército não apoiava a decisão do Mestre de Guerra, porque a ideia havia surgido – segundo os boatos – da boca de uma mulher. O iminente colapso da economia e fechamento das fronteiras faziam as provisões se tornarem mínimas, e os governantes estudavam formas de pedir auxílio para os países de fora do continente.

Quando as duas moças saíram da sala, Gaye pôde finalmente entrar, vendo Micah com cara de poucos amigos. Haviam olheiras sob seus olhos eternamente cansados, manchas escuras e profundas e que acentuavam a diferença de seus olhos, que – de bicolores como os de Urd – tinham pouca visão em um deles. A cicatriz em seu lado direito também parecia mais evidente, quase como se a nova pele tivesse se desgastado com o tempo.

— Diga que tem boas notícias — ela suspirou e se jogou para trás, colocando os pés sobre a mesa.

— Sinto muito — sentiu-se diminuta sob a decepção nos olhos da mulher, que não se moveu um centímetro.

— O que foi? Por que demorou tanto?

— Não consegui falar com Urd antes do ataque, e Gawain proibiu a todos de irem vê-la enquanto ela se recupera.

— O que andou fazendo este tempo todo?

— Caso não saiba eu ainda sou uma princesa — enraiveceu-se batendo o pé.

— Se não fosse, não estaria aqui — Micah apertou o lado da cabeça com o indicador como se estivesse acionando a alavanca que a faria pensar devidamente. — Soube que a namoradinha de Urd morreu no ataque.

— Não fale assim, ela era uma boa garota.

— Sei que era, mas teve o pior fim que poderia esperar.

— Mas por que está tocando no assunto? Você a conhecia?

— Não, mas talvez a morte dela deixe Urd mais acessível, pode ser que ela precise de um ombro e de sede de vingança.

— Do que está falando?

— Alguém da corte enviou ao rei de Mastfall uma carta informando que um dos superiores quem ordenou o assassinato de Bishen.

Gaye ergueu as sobrancelhas com assombro, o nome de Bishen parecia pólvora naquela situação.

— Não haviam motivos para que o rei duvidasse — Micah continuou. — Pode ser que haja um traidor, e se as coisas piorarem vão piorar primeiro para nós, quem acha que são atingidos primeiro numa guerra? Os homens armados e com sede de sangue? Pois saiba que não, os primeiros a serem atingidos são as mulheres e os civis, são aqueles que já estão em guerra há muito tempo, contra sua própria nação.

— O que está sugerindo que eu faça?

Micah se ajeitou na cadeira, baixando os pés e empertigando-se.

— Estou sugerindo que consiga apoio, precisamos descobrir o traidor e precisamos descobrir rápido, nosso tempo está acabando.

— Vou fazer o melhor que puder.

Micah meneou a cabeça negativamente.

— Não Gaye, se acredita mesmo em nossa causa fará o impossível, ou então nossa guerra estará perdida. Vamos entregar o traidor ao rei e acabar com isso logo, é o único jeito de impedir o que quer que estejam tramando — Micah ponderou profundamente consigo mesma e completou. — Mas, se achar que não pode trair sua família, encontrarei alguém para fazê-lo.

De Trevas e Sangue  [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora