Capítulo 4: Vento

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Os galos cantam logo cedo. Arthur está um pouco incomodado com o cacarejar, porém ao longo dos dias irá se acostumar. Vitor já está acostumado, costuma gostar do canto dos galos.
- Bom dia, best - Vitor diz, soltando uma gargalhada sincera quando olha para Arthur e percebe seu cabelo todo bagunçado.
- Bom dia, amigo - Arthur também ri - Dormiu bem?
- Eu dormi, e você? - Vitor questiona.
- Dormi, mas acho que vou demorar um pouco a gostar dos galos - Arthur fala, mudando a entonação da voz para soar mais engraçado.
Eles riem.
- Bom, vamos escovar os dentes e comer, temos um longo dia de coisas longas para serem longamente feitas - Vitor diz, rindo.

Depois de comerem, os dois saem. Vitor e Arthur se despedem de dona Graça e seu Carlos, chamam os cachorros para os acompanharem e vão explorar a vasta propriedade da família.
- Vamos para um dos meus lugares favoritos aqui - Vitor diz.
Eles passam por uma porteira que separa o quintal de todo o pasto da propriedade. Andam por todo o pasto, atravessando-o e observando várias palmeiras avulsas e diversos pés de madeira de lei e árvores frutíferas. Eles sobem uma leve inclinação no morro e chegam numa planície que leva a um outro morro.
- Vamos, por aqui.

Eles sobem mais um pouco. Arthur está ofegante. Ele está ansioso para saber onde Vitor está o levando. Fica admirado com o tamanho da propriedade da família de Vitor, consegue ver dali do morro a casa, o rio onde tomaram banho, os pastos, as árvores, os pomares, os brejos e uma enorme mata que fica um pouco ao norte de onde eles estão. Após alguns passos, eles chegam ao topo do morro. Eles conseguem observar tudo que Arthur já havia notado na subida, mas ainda mais: conseguem ver o outro lado da propriedade, conseguem ver todos os morros ao redor, o gado branco andando por algumas áreas da propriedade. A vista de lá é, de alguma forma, inspiradora e o vento bate em seus rostos, uma leve brisa que alivia e esfria. Arthur aprecia o momento, há somente um leve mormaço da manhã, ainda são 9 horas e eles já andaram bastante, mas ele não quer parar, está gostando. Um dos cachorros lambe a mão de Arthur.
- Gostou?
- É incrível. É simples, mas de alguma forma tocante.
- À noite é possível visualizar todo o rastro da Via Láctea. É lindo. Se quiser, podemos vir.
- Sim, lógico.
Depois de mais um tempo ali, eles descem.

De volta à casa, Vitor conta que tem uma novidade para mostrar

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De volta à casa, Vitor conta que tem uma novidade para mostrar. Ele mostra a Arthur uma moto.
- Você sabe que se alguém nos vir podemos ser presos, né? Somos menores, não podemos pilotar.
- Arthur, a gente tá tão longe de qualquer policial que se precisarmos de ajuda eles só chegam aqui amanhã. Para de ser careta. Eu pedi meu vô para trazer a moto pra cá só porque você disse que tinha aprendido a pilotar.
De fato, Vitor pensou nisso. Há algumas semanas, Arthur disse na aula que seu pai tinha o ensinado a pilotar. Ele logo imaginou que seria interessante para a viagem que eles andassem de moto, então, no dia anterior pediu o avô que um dos funcionários da propriedade trouxesse a moto que estava no curral para que eles andassem.
- Tá bom, vamos.
- Quero ver se você realmente aprendeu hein - diz Vitor, dando um leve sorriso que instiga Arthur a mostrá-lo.
Arthur liga a moto.
- E onde vamos? - Arthur pergunta.
- Vamos para um pouco longe. Quero te mostrar uma outra coisa legal.
Vitor sobe na garupa. Arthur acelera, subindo a leve rampa que conecta a propriedade à estrada. Eles saem e viram à esquerda, descendo conforme o fluxo do rio.

O vento está batendo nos rostos dos dois. A estrada está com baques, então Vitor segura na barriga de Arthur. Arthur sente as mãos do amigo em seu corpo. É estranho dessa maneira, eles costumam se tocar, porém para Arthur o jeito com que Vitor segura parece um pouco... romântico. Ele sabe que casais geralmente andam assim em moto. Mas não se incomoda. Nunca tinha parado para pensar em Vitor dessa forma, mas não se importa que ele o segure. Na verdade, ele está achando bom. Já Vitor segurou no amigo apenas para se segurar, não imaginou que ele poderia pensar naquilo como uma investida. Mas rapidamente pensa que Arthur pode achar estranho. Vitor tira o braço.
- O que foi? - Arthur pergunta.
- Nada, por quê?
- Por que me soltou?
Vitor percebe que Arthur não ligou para seus braços ao redor de seu corpo. Arthur está se sentindo diferente. Ele acha estranho aquele contato tão próximo dos dois, mas está gostando. Vitor não responde à pergunta de Arthur, está congelado. Arthur pega o braço de Vitor e põe de volta em torno dele. Arthur não sabe porquê está fazendo isso, mas está. Ele quer o braço de Vitor em si. Vitor acha estranho, mas logo põe o outro. Eles não estão muito rápido, porém o vento está soprando agradavelmente. O sol bate em seus rostos e ilumina a imponente paisagem. Pelo retrovisor, Arthur observa Vitor sem ele perceber. Arthur sente os braços de Vitor, olha novamente para o reflexo dele e solta um leve sorriso de canto de boca. Depois de mais alguns minutos pilotando, eles chegam onde Vitor queria. Uma igreja abandonada.
- Sério?
- Sim. Parece bobo, mas a prefeitura usava esse terreno como lixão de vidro. Então quando eu posso, venho aqui descarregar a raiva. Entro na igreja e quebro todo o vidro que eu posso.
- E os santos não ficam magoados? - Arthur diz ironicamente, dando um sorriso bobo em seguida.
Arthur olha para os lados, não há nada na estrada. Nenhum animal, nenhuma pessoa, nenhuma casa, nada. Eles estão no meio do nada. Algo inusitado passa pela sua cabeça.

Até o Próximo Anoitecer - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora