Capítulo 5: Sentimentos Confusos

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– Pega um – Vitor diz, entregando a Arthur um enorme pedaço pesado de vidro – Agora faz assim – Vitor lança  o vidro em sua mão contra a parede, quebrando-o por inteiro e fazendo um barulho avassalador que ecoa por toda a vazia igreja.
Arthur afasta seu braço para lançar o vidro, lançando-o em seguida. O vidro se estilhaça por completo, produzindo o mesmo barulho. Quebrar vidros deixa Vitor mais relaxado. Deixa Arthur mais relaxado também.

Porém, a cabeça de Arthur batuta uma mesma ideia que surgiu assim que os dois desceram da moto. Os dois, sozinhos no meio do nada. Isso nunca tinha passado pela cabeça dele. Nunca. Vitor é um outro cara e Arthur nunca se sentiu atraído por outro cara. Mas ele está mesmo atraído por Vitor? O momento na moto mexeu com ele, de um jeito positivo. Arthur sente vontade de beijar Vitor. Não. Mas ele não pode, não pode estragar a amizade de anos dos dois. Não pode porque para ele é errado. O que seu pai pensaria disso? Vitor iria gostar? Iria retribuir? Os pensamentos vão e vêm na cabeça de Arthur, enquanto ele e Vitor estilhaçam dezenas e dezenas de pedaços de vidro. Arthur vê o sorriso de satisfação no rosto de Vitor. Ele é tão feliz. Trata Arthur tão bem, mesmo depois de tudo que ele o falou e que o magoou profundamente. Mas está de consciência tranquila agora, já evoluiu, já aprendeu e, de alguma maneira, está indo do lado oposto ao que fez. Um dia já foi homofóbico com Vitor e agora... agora está atraído por ele. Vitor não pensa em nada. Só quebra, quebra, quebra, incansavelmente. Quebrar o ajuda a estourar todos os sentimentos mais internos dele. Sabe que sua família é homofóbica e que, quando se assumir, provavelmente vai ser expulso de casa. Por isso quebra. Quebra, quebra, quebra.

Depois de muito quebrarem, os dois voltam para casa para o almoço. O trajeto da volta foi igual ao da ida: Vitor abraçado a Arthur, que voltou pensando em como perdeu uma oportunidade de ficar com Vitor. Meu deus, o que ele está pensando? Não pode fazer isso, sabe que não pode ficar com Vitor. Mas algo nele o atrai. Eles almoçam um grande prato de nhoque e logo em seguida param para descansar.
– Eu tô exausto e mal começou o dia – Arthur fala.
Vitor ri, dizendo em seguida:
– Eu também, mas não vamos parar, vamos ver um pouco de TV e já já saímos para ir até o curral. Vamos lá e você conhece meu tio e o pessoal que trabalha tirando leite.
Eles assistem um pouco de Jovens Titãs em Ação – é um dos desenhos favoritos de Arthur – e logo em seguida saem. Dessa vez vão andando pela estrada. Viram dessa vez à direita. No caminho, os dois papeam sobre o que acharam do novo episódio de uma série da Netflix. E reclamam da Netflix, como pode um streaming cobrar por residência? Os cachorros os acompanham. Eles dão uma leve corrida em determinado momento, logo chegam ao curral.

Arthur conhece o tio de Vitor, Marco, que o mostra todo o lugar e o apresenta a ordenha. Eles andam um pouco, vêem algumas vacas e logo voltam para casa. Eles jogam Banco Imobiliário no chão da sala, depois tomam banho. Vitor faz questão de chegar só de toalha no quarto, dizendo que esqueceu a cueca lá. Arthur acredita. Vitor pede ao amigo para se virar para que ele ponha a cueca, fazendo-o lentamente. Arthur se vira e os dois deitam. Estão cansados. Mas ainda devem jantar. Arthur olha o relógio, ainda são seis da tarde, mas impressionantemente ele já está caindo de sono. Ele sente como se o tempo passasse diferente ali. Eles jantam, se despedem de dona Graça e seu Carlos e logo vão para o quarto.

Vitor logo dorme. Arthur está cansado, morrendo de sono, mas de alguma forma sua cabeça ainda continua pensando em mais cedo, em como se sentiu atraído pelo amigo. E agora eles estão ali, sozinhos de novo. Arthur não entende o que está acontecendo com ele, é difícil aceitar vindo de um lar tão conservador, mas mesmo assim ele se permite sentir. Seu pau endurece pensando em Vitor, que está virado para o canto. Na noite anterior, Vitor fazia a mesma coisa e, hoje, Arthur repete a cena, sem saber que o amigo está apaixonado por ele. Arthur reflete um pouco sobre tudo, pensa um pouco na escola e nos pais, logo volta a pensar em Vitor. Ele quer falar. Estica o braço para encostar em Vitor e chamá-lo, mas não consegue. Em vez disso, deixa seu braço repousar nas costas dele. Quer se aproximar. Ele mexe o corpo para mais perto de Vitor. Encosta o pé nos pés dele. Meu deus, ele está nervoso, nunca fez nada parecido com isso antes. Imagina-se beijando Vitor. Não, ele tem que dormir, amanhã é um novo dia. Arthur dorme.

Até o Próximo Anoitecer - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora