CAPÍTULO 01

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"as luzes mais intensas são aquelas que produzem as sombras mais fortes.

Dizem que a escuridão teme a luz, foge dela, desaparece na sua presença, mas talvez a verdade dos fatos seja justamente o contrário. E se a escuridão for quem faça a luz se extinguir? Desejando possuí-la, tê-la para si, envolvê-la por completo?

    Chama e sombra; luz e escuridão. Completos opostos, antíteses, essências contrárias, paradoxos disformes... mas uma é insignificante sem à outra para realça-la, e talvez a única coisa de que a sombra mais escura e fria que exista só precise do seu próprio feixe de luz para torna-la algo puro"

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A DOCE E QUENTE LUZ:

   Tobias Hamlet não achava que era um deus da moda ou algo assim, até porque metade das suas roupas eram velhas e de segunda mão, mas ele definitivamente achava que aquele seu uniforme de trabalho era um atentado para os olhos humanos, e talvez fosse por isso que a maioria das pessoas que frequentassem aquela pequena cafeteria fossem idosos ou pessoas dos subúrbios, exatamente como ele, que não queriam gastar um centavo à mais indo no shopping ou em alguma lanchonete, preferindo optar por aquela velha cafeteria de esquina, completamente esquecida entre os bares e lojinhas de quinquilharias. A roupa consistia numa calça jeans (da sua escolha, e como o rapaz não tinha muitas opções, sempre era uma calça surrada), mas a parte de cima precisaria ser necessariamente aquela maldita camisa quadriculada, com listras vermelhas e azuis cruzadas, como se ele estivesse prestes à participar de uma festa junina ou de uma tourada, além de que se isso não fosse o suficiente, havia também um avental preso à sua cintura. 

     A "cafeteria Hansons" tinha apenas um funcionário, o próprio Tobby, que tinha que cuidar da limpeza, dos pedidos e do caixa, mas pelo menos seus dias de trabalho eram apenas de segunda a quinta, além de que o serviço não era muito pesado (o seu único trabalho era de limpar, pois ter clientes frequentes eram um milagre divino, e sem clientes para atender, ele também não precisaria ir para o caixa). Tobby achava seriamente que aquela cafeteria fazia parte de um esquema de lavagem de dinheiro ou algo assim, porque o dinheiro que eles conseguiam por mês sequer dava para pagar os setecentos dólares que ele recebia mensalmente, mas mesmo assim continuavam abertos sem problema algum.

     A cafeteria não tinha mais do que uns dez metros quadrados, sem cozinha (o café era feito logo ali atrás do balcão, para que o cliente conseguisse ver. Além de que os pães e bolos eram comprados numa padaria alí perto e revendidos por um preço um pouquinho mais caro). O lugar era baseado em uma típica cafeteira do século passado, com mesinhas circulares de madeira que tinham jarros bonitos e delicados com flores em cima; cadeiras acolchoadas; o papel de parede era florido e de tons pastéis amarelados, combinando com todo o resto do lugar, que tinha uma paleta que variavava entre tons claros e escuros de marrom). O balcão de madeira escura e polida ficava na parede da direita, e logo atrás dele, onde Tobias ficava a maior parte do tempo, ficava também uma série de prateleiras, com vários tipos de grãos distintos, tubos de chantilly, açúcares e adoçantes diferentes, além de era onde ficavam as xícaras e copos de vidro e porcelana também. durante o inverno os aquecedores ligavam automaticamente, mas durante todo o resto do ano o clima era bastante aconchegante por si próprio.

     Tobby estava digitando de forma tranquila no seu velho e todo trincado celular quando uma senhorinha que parecia ter uns setenta anos entrou na cafeteria, fazendo aquele pequeno sino que havia preso na parte de cima da porta tintilar levemente. Ela era uma cliente fixa do lugar e ia até a cafeteria quase todo dia. A senhorinha tinha uma pele pálida marcada pela idade, olhos escuros, cabelo grisalho e óculos engraçados com aquelas correntinhas presas nas armações.

MEU STALKER [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora