Risoto de cogumelo

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Como sempre, Lalisa havia pensado em tudo. Um fogo ardia alto na lareira da biblioteca quando voltamos para dentro. O calor aos poucos penetrou em minhas roupas molhadas. Lalisa subiu e voltou com roupas secas para mim. Enquanto eu me trocava, ela nos serviu bebidas.

Sentei-me e ergui a sobrancelha para o copo que ela me estendia.

— O que é isso?

— Conhaque. Pensei num café, mas decidi que isto nos aqueceria mais rapido.

— Sei. — Girei o liquido ambar no copo. — Vocé esta tentando me embriagar.

Ela bebeu seu drinque.

— Tem mais de quarenta por cento de alcool, entao é melhor que você se limite a um copo.

Apollo entrou e se sentou aos pés de Lalisa, na frente da lareira. A dona afagou sua cabeca. Eu comecava a perceber que lalisa e eu tinhamos ideias diferentes sobre o que significava “aquecimento”. Eu também comecava a me perguntar se “natural” era um codigo de domi para “nunca vai acontecer”. Isso não fazia sentido para mim. Ela havia suspendido tranquilamente nosso acordo de fim de semana em outras ocasides: fora me visitar na Colecao de Livros Raros as quartas-feiras e por duas vezes fizemos sexo nesta mesma biblioteca, a maha biblioteca, aqui, na casa dela, e não haviamos seguido as regras de sempre. Entao por que ela não deixava alguma coisa acontecer entre nos agora? As vezes tudo ficava confuso. Eu adorava a parte dominadora de Lalisa, a parte que podia deixar meus joelhos fracos e me derreter com uma simples palavra. Mas eu comecava a ansiar muito por esta Nova Lalisa  dos dias uteis. Se houvesse um jeito de combinar as duas... Seria possivel? Ela iria querer?

Mas se nós não iamos fazer um sexo quente na frente da lareira, ainda estavamos em minha biblioteca — e por falar em bibliotecas...

— A biblioteca veio com a casa, ou foi algo que você acrescentou depois de comprar? — perguntei.

— Nao comprei esta casa. Eu a herdei.

— Era a casa dos seus pais? Você foi criada aqui?

— Sim. Fiz uma reforma grande. — Ela ergueu uma sobrancelha. — Como na sala de jogos.

Aproximei-me um pouco mais dela.

— Foi dificil morar aqui?

Ela meneou a cabeça.

— Pensei que seria, mas fiz tantas reformas, que não parece mais a casa de infancia. A biblioteca, porém, é praticamente a mesma da época.

Olhei em volta, vendo o grande numero de livros, e tomei um gole do conhaque. Aqueceu minha garganta ao descer.

— Seus pais deviam adorar livros.

— Meus pais eram colecionadores. E viajavam com frequéncia. — Ela gesticulou para uma parte da biblioteca que tinha mapas e atlas. — Muitos livros foram encontrados no exterior. Alguns estao na familia ha gerações.

— Minha mãe gostava de ler, mas preferia principalmente ficcao popular. — Abracei os joelhos ao peito, surpresa de ela falar dos pais, mas sem querer que se sentisse pressionada.

— Ha um lugar para ficção popular em toda biblioteca. Afinal, a ficcao popular de hoje pode muito bem ser o classico de amanha.

Eu ri.

— E isto partindo da mulher que disse que ninguém lê os classicos.

— Não fui eu — replicou, levando a mão ao peito. — Foi Mark Twain. So porque citei não quer dizer que concorde com ele.

O conhaque percorria meu corpo, deixando-me toda aquecida e relaxada. Ela tinha razao: um copo era suficiente.

— Conte mais sobre seus pais — pedi, sentindo-me corajosa. Ou talvez fosse o conhaque. — Na tarde em que morreram — comegou ela, e me sentei mais ereta. Eu não pretendia que ela
me contasse sobre isso. — Estavamos voltando para casa do teatro. Nevada. Papai dirigia. Minha mãe ria de alguma coisa. Era tudo muito normal. Acho que sempre é assim.

The House Of Submission | JENLISA G!POnde histórias criam vida. Descubra agora