BLOSSOM 2

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Camila acordou se sentindo cansada, não conseguira dormir direito. Ela olhou ao redor no quarto, mas Lauren não estava ali. A mulher cambaleava pela sala, bêbada. Karla odiava esse comportamento de Lauren, em um momento, ela oferecia que Camila saísse e aproveitasse suas amigas, mas não conseguia controlar o ciúmes que sentia. Camila não conseguira se quer aproveitar o filme. Sabia exatamente o que a mulher estava fazendo em casa e quando chegou, preferiu subir para o quarto, deitar e tentar dormir. Não conseguiu. 

Jauregui subiu as escadas, segurando firme no corrimão e com um cigarro de maconha entre os lábios. Camila precisava implorar para conseguir sair sozinha e mudar a cabeça de Lauren, mesmo depois de elas já terem combinados de irem juntas. Mas mesmo assim a de olhos verdes concordou em deixá-la ir. Mas se arrependera. Ela não queria que Karla tivesse amizades, não queria que saísse sem a proteção dela. 

Quando chegou ao quarto, encontrou Camila sentada no chão, chorando. Camila amava Lauren como nunca amara ninguém. Ela a venerava e a respeitava. Mas sentia que ela mesma não era respeitada. Sentia como se fosse uma marionete, uma boneca. Nada mais que isso. E os sentimentos de solidão estavam invadindo seu ser como nunca antes. Como alguém que ela tanto amasse, podia se comportar daquela forma? Ficar tão cega por ciúmes que não conseguia enxergar a felicidade? Ela não sabia. E não sabia o que fazer. Não sabia o que fazer com tanto sentimento. 

Camila não olhou para Michelle quando ela se sentou ao lado dela, cambaleando.  Colocou a mão na coxa da menina e a encarou, os olhos verdes mais escuros e pequenos. 

- Como foi o filme? - Camila não respondeu. Ficou sentada, encarando a parede e retirou a mão da coxa. Michelle revirou os olhos.  - Foi tão ruim assim? - Karla se irritou. Ela estava magoada o suficiente e não queria ter de aceitar um comportamento tão infantil de uma mulher tão madura. Ela tentou se levantar, mas Morgado a segurou pelo braço. 

- O filme foi ótimo, Lauren. - e puxou o braço de volta, se levantando com certa dificuldade. Lauren repetiu os movimentos, se colocando de pé. 

- Você sabe como deve me chamar. - Lauren caminhou para mais perto de Camila. Elas ficaram ali, por longos segundos se encarando. 

- Tanto faz. - Camila passou pela porta, e caminhou depressa o suficiente para não ser encontrada por Lauren. Ela procurou o lugar mais improvável para ser achada e ali passou toda a noite. 


(...)


Lauren acordou com uma dor de cabeça insuportável: resultados de uma mistura de Wisky e vinho branco seco. Ela olhou ao redor, procurando grandes olhos castanhos que pudessem acalmá-la e tornar sua manhã melhor, mas não encontrou. Jauregui não gostava de sair de seu controle, mas a um certo tempo, Camila se tornara algo tão viciante, que ela quebrara todas suas regras para ser alguém melhor, ou tentar ser. Mas parecia chegar a lugar algum, pois vivia fazendo algo que magoasse a menina. Tinha a outra questão também, o fato de não querer ver a garota com ninguém mais. Ela não queria. Camila era só sua e devia estar sempre ao seu lado. Nasceram uma para outra e deviam morrer uma pela outra. 

No quarto da empregada, Camila não pensava o mesmo. Não conseguira dormir então seus olhos estavam fundos e levemente opacos. A fome também não a atingira: se sentia deprimida. Em cima da cama cinza, ela ficou ali por horas, na mesma posição, pensando em absolutamente tudo e pensando em nada. 

Lauren procurou por ela pela casa, sentindo um desespero desabrochar dentro de si quando não a encontrou nos quartos principais ou nos lugares de convivência comum. Mas procurou mais a fundo, e quando já estava praticamente pronta para ligar para os seguranças, ela ouviu um tossir, e o seguiu. Encontrando a menina deitada na cama da empregada. Camila não levantou os olhos para encarar Lauren e nem deu a ele um sorriso. Ficou deitada, na mesma posição, olhando o vazio. Ela estava vazia. Lauren a encarou, em pé no batente da porta. 

"Eu a quebrei."  Foi o que a mulher pensou imediatamente. Oh, como Lauren amava aquela garota. E como se odiava por ter deixado ela assim. 

- Como você está? - Mas Camila não respondeu. Não conseguia. Queria dizer a ela tudo o que estava sentindo, mas com que sentido? Lauren já sabia de tudo. Ela já sabia. Lauren se abaixou na altura da cama e levantou os dedos para acariciar o rosto da garota, mas ela recuou. Como se Lauren fosse bater nela, não fazer carinho. 

- Está com medo de mim, Camila? - Camila assentiu. Ela levantou o tronco do corpo. 

-  Sim, estou. - Jauregui não entendeu. Ou entendeu mas fingiu não entender. Camila levantou uma sobrancelha. 

- Lauren, você não é confiável. Eu não posso confiar em você e você não confia em mim. - Lauren não queria ouvir aquilo, mas ela sabia que era verdade. 

- Não sou confiável porque não quero você andando com qualquer pessoa? -  Camila se levantou. Ela respirou fundo. 

- Você tem ciúmes de qualquer pessoa que não seja você. - Lauren riu, irônica. 

- Eu estou tentando proteger você, se não fosse por mim, até estuprada você seria. - Michelle só percebeu o que disse depois que as palavras saíram da boca. Ela não deveria ter dito. E se arrependeu instantaneamente. 

Camila estava em choque. Ela nunca agradecera Lauren por impedir aquela situação, mas não achava que precisava. Mas, ao ouvir a mulher dizer aquelas palavras daquela forma. Ela se sentiu sem chão. E percebeu que talvez Lauren não sentia o mesmo que ela. 

- Lauren, eu vou até meu quarto. Eu não quero ser incomodada por você. Por favor, não me incomode. - Lauren assentiu. 

Mal saíra do quarto, Karla começou a chorar. Um choro sem soluços e sem gemidos. Apenas as lágrimas. As mãos dela também começaram a tremer, ela estava ansiosa. Camila subiu as escadas correndo e bateu a porta do quarto. Trancou. Mal conseguira fazer por conta dos tremores. Sua cabeça girava. 

Lauren ficou parada no mesmo lugar, percebendo o quanto havia sido idiota. Mas não sabia ser diferente, não sabia ser melhor do que era. E isso a matava. Como ela poderia ser alguém melhor para Camila se não sabia como fazer isso? Esse era seu jeito de amar, único jeito que conhecia. A obsessão. Era tudo o que ela sabia ser, tudo o que tinha para oferecer. 

Devagar, a mulher foi até a sala, e ficou encarando a escada, pensando se deveria ou não subir. Não sabia se deveria invadir a privacidade de Karla novamente. Mas queria. Queria ir lá e dizer a ela que aquilo era o puro e inconfundível amor.  

E foi então que Lauren ouviu algo, como um estrondo. Como se Camila tivesse caído ou algo assim, e sem mesmo pensar duas vezes, subiu as escadas correndo e parou em frente a porta. 

- Camz, abra. Você está bem? - Mas não obteve resposta alguma. 

- Camila, vamos, abra. Baby girl. - E mais uma vez nenhuma resposta. Lauren tentou olhar pela fechadura, mas não conseguiu enxergar Karla. Ela bateu de novo, desesperada. Com a força do corpo, empurrou a porta que se manteve parada. Tentou de novo e de novo e de novo. 

BABY GIRL LESBIAN •CAMREN•Onde histórias criam vida. Descubra agora