Itália - Setembro de 2019
Estava deitada na cama do quarto de hotel com um saco de jujuba e assistindo um filme água com açúcar quando kika saiu do banheiro e entrou no quarto toda arrumada e elegante para a festa dos patrocinadores do evento que era praxe após as corridas.
-Por que não está arrumada para a festa?- ela sentou-se na beira da cama para calçar a sandália e agarrou o meu pé coberto pela meia.
-Porque eu não vou a festa alguma. - falei fazendo careta
-Não vai aproveitar sua última noite aqui, Lia ? - ela franziu a testa me olhando - O que aconteceu com você?
-Esta tudo bem, só não quero sair. - falei olhando para ela.
-Você está estranha desde o beijo com o Leclerc. - Kika me olhou desconfiada.
-Estou cansada. - me enrolei na coberta - Quero dormir e voltar para casa.
-Por isso mesmo - ela sentou na cama ao meu lado - vamos para a festa, tomamos umas bebidas e voltamos para cá.
-Mas eu não me arrumei ainda. -falei com a voz cansada e rolei na cama.
-Coloque qualquer vestido, prenda o cabelo e faça uma maquiagem. - Ela falou sorrindo e eu fiz bico sendo puxada por ela para fora da cama - Vamos Lia.
Meia hora depois, eu estava vestida com um vestido longo e preto, sem detalhes alguns a não ser o formato tomara que caia e as pregas que a seda formava, o único que trouxe na mala para ocasiões especiais. Havíamos ido com Daniel que estava todo sorridente descendo do carro no local onde a festa estava sendo feita.
Eu e Kika segurávamos o braço de Daniel e os fotógrafos tiravam várias fotos antes de entrarmos no salão, cheio de pessoas. A recepcionista nos levou ate uma onde se encontrava alguns pilotos e para a minha infelicidade o piloto da Ferrari que ocupou meus pensamentos o dia todo estava lá.
Daniel me apresentou a George, Sebastian, Lewis, Pierre e Max que estavam presentes na mesa, sorri para todos e sentei ao lado de Daniel que começou a beber algumas doses de Whisky e eu o acompanhei. Kika entrou rapidamente no assunto e eu comemorei quando eles começaram a falar de motores.
-Você entende muito de carros - Lewis perguntou surpreso - Quantos anos você tem ?
-Tenho 20 anos - sorri para o piloto da Mercedes e ele sorriu de volta.
-Como aprendeu tanto sobre carros ? - Max perguntou curioso. - Daniel sempre fala de você, mas não me disse que era quase uma engenheira.
-Meu irmão sempre gostou de carros e eu sempre fui muito grudada a ele - sorri lembrando de Lucas - Lucas foi um grande professor.
-Lucas... Lucas Martinelli ? - George perguntou e eu acenei com a cabeça confirmando - Ele era um grande piloto e um menino de ouro.
-Conheceu meu irmão ? - franzi a testa olhando para George e ele confirmou com a cabeça.
-Encontrei ele algumas vezes em circuitos em comum - ele sorriu para mim e eu sorri de volta.
O jantar foi servido e continuamos todos conversando na mesa, os pilotos eram bem agradáveis, Kika e Pierre estavam alheios ao assunto da mesa conversando entre eles. Mas o silêncio de Charles me incomodava, o olhar dele estava impossível de decifrar.
-Não pensa em se tornar pilota ou trabalhar com automobilismo ?- - a pergunta fez com que os meus olhos pousassem nele.
Charles era lindo e sedutor e o sorriso malicioso que estampava seu rosto me tiraram um pouco a atenção que logo foi para os olhos brilhantes que olhavam para mim.
-Depois da morte de Lucas eu me mantive afastada do mundo das corridas, voltei agora para assistir por insistência do Daniel e de um convite especial. ... Oh meu Deus - me exaltei ao sentir um pé tocando minha perna por debaixo da mesa.
Julgando que Charles estava na minha frente e o sorriso dele tinha se multiplicado, não haveria de ser outra pessoa que estava fazendo aquilo.
-Eu acho que... - meus pensamentos foram completamente voltados para os círculos que ele fazia com o pé, subindo o seu vestido e gritei ao sentir um beliscão em minha coxa e todos olharam para mim o que fez com que Charles disfarçasse o riso.
-Está tudo bem com você? - Sebastian perguntou e eu assenti.
-Estou bem. - dei um sorriso trêmulo para ele e voltei a atenção aos homens. - É realmente tudo o que eu posso sonhar um dia. Mas um dia, quem sabe. Porra!
Mais uma vez gritei, sentindo o pé de Charles e notei que meu vestido já estava em minhas coxas, sabe-se lá como. Os homens ficaram inquietos, diante do palavrão que eu falei me fazendo ficar vermelha e Charles me olhou assustado.
-Porra! A Fórmula 1 é realmente emocionante! - tentei consertar, mas acabou ficando ainda pior.
Olhei para Charles e ele ria, abaixei os olhos para a faca em minhas mãos e naquele momento eu estava prestes a matá-lo. Mas tive outra ideia, propositalmente derrubei meu garfo embaixo da mesa pedindo desculpas e abaixei para pegá-lo. Entrei debaixo da toalha e vi o pé de Charles sem o sapato que estava do lado dele, com um sorriso diabólico engatinhei até ele e com toda minha força, fechei a mão e acertei as partes baixas dele fazendo com que Charles desse um pulo da cadeira e começasse a se contorcer e notei que tinha usado força demais. Peguei o sapato dele e sai debaixo da mesa, sentando-se em minha cadeira novamente e olhei para Charles que estava com lágrimas nos olhos.
-O que aconteceu Charles ? - Lewis perguntava para ele.
-Eu... - ele não conseguia dizer nada, tamanho sua dor. - Uma pontada... Apenas isso.
-Acho melhor levá-lo ao médico, vai que é algo grave. - falei com minha melhor cara de preocupação - Pode ser uma infecção ou apêndice acho melhor verificar.
-Vou ligar para uma ambulância. - Pierre falou e eu tentei disfarçar o sorriso.
-Não... - Charles falou se contorcendo
-Pode ser grave - continue a falar segurando o riso e Kika me olhava sorrindo debochada - Quem sabe uma úlcera ou um câncer.
-Cala a boca - ele gritou para mim e eu comecei a rir.
Todos a mesa se assustaram com o jeito que Charles reagiu e ficaram mais preocupados, mesmo ele tentando dizer que estava bem. Charles olhava para mim com o olhar furioso e eu sorria cada vez mais. A ambulância chegou e eu me levantei da cadeira, com os sapatos dele e pedindo que entrassem com a maca.
Charles estava vermelho de tanta vergonha e os pilotos choravam de rir da situação que era cômica, a festa inteira tinha sido parada pela entrada dos paramédicos que obrigaram Charles a deitar na maca que foi levada para fora do salão de festas passando pelos fotógrafos e eu o seguia gargalhando ate a porta da ambulância que foi fechada ao som dos protestos dele que dizia que estava bem.
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DRIVE
FanfictionA perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais... Quando se perde muito, as pequenas coisas se tornam essenciais.