Rebecca, pseudônimo: Patricia.

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Acordar, checar as horas, se levantar, vestir a roupa íntima e logo em seguida escolher uma vestimenta apropriada para um ambiente de trabalho, arrumar a cama, alimentar Bonbon e a si mesma, checar a aparência no espelho, pegar todas as chaves, deixar o apartamento, esperar o elevador ficar vazio, descer até o saguão.

Dias como este são relativamente agradáveis aos olhos de Rebecca. O sol aparece o suficiente para dizer que está ali, discretamente, não despertando nas pessoas aquela sensação de estarem derretendo.

Cumprimentar Chen, ter uma conversa fútil com Krit e Mafai sobre o tempo e as surpresas da vida, se dirigir até a garagem, sintonizar a rádio, colocar a chave na ignição do carro, girá-la, atender uma ligação... espera, uma ligação?

Isso não costuma acontecer. Rebecca não gosta de lidar com imprevistos quando o assunto é sua rotina matinal, ela sente que precisa assumir controle disso para manter sua calma e sanidade, pois quando ela pisa em seu ambiente de trabalho, tudo é imprevisível e ela não possui controle de absolutamente nada, nem mesmo de seus próprios pensamentos.

Imprevisibilidade é algo engraçado. Com a perspectiva certa, alguém pode perceber que, às vezes, um imprevisto que parece ser enorme na verdade é apenas um carro saindo do controle na estrada molhada por alguns segundos, e outro imprevisto que parece ser bobo, como uma ligação por exemplo, pode ser como um enorme trem de carga saindo dos trilhos.

A ligação que Rebecca recebeu foi um trem saindo dos trilhos, ela apenas não sabia disso ainda.

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"Espera... você quer que eu me disfarce, como se eu estivesse em um filme de Hollywood? Isso é uma piada?" O tom de Rebecca vai além de deboche, é como se ela tivesse certeza absoluta de que aquilo era uma pegadinha.

"De modo algum. Todos os nossos investigadores foram identificados e assassinados, e por isso precisamos ser discretos." O homem desabotoa seu terno e coloca uma das mãos dentro do bolso de sua calça, como se o ato fosse assegurar uma postura de seriedade e convencer Rebecca.

Ela arrasta os braços pelo vidro da mesa, cruzando-os lentamente, seus olhos, castanhos escuros e penetrantes, se cerrando e analisando o comportamento do homem na sua frente.

Non é um homem alto, aparentemente forte, não há como dizer com certeza, pois o terno largo sempre esconde suas reais formas corporais. Mas ele não parece se importar em esconder os fios grisalhos que já dominam quase a metade de seu cabelo, e nem a cicatriz que vai de sua bochecha até o começo do queixo, uma marca de batalha, que ele honra, como se fosse um troféu. Rebecca tem um leve pressentimento de que é apenas um corte de faca que ele sofreu em uma briga boba de rua, quando ainda era jovem e ingênuo.

Ela pretende descobrir qualquer dia desses.

"E eu fui a primeira pessoa que passou pela sua mente?" Rebecca tem dificuldade em acreditar nisso.

"Não exatamente. Um dos meus homens se infiltrou em disfarce, mas acabou sendo descoberto duas semanas depois. Ele teve um momento de... fraqueza. Revelou mais do que era permitido. E isso retornou a acontecer com outros." Non explica, ainda não mostrando nenhuma mudança em seu semblante.

Rebecca inala, segura a respiração por alguns segundos, e depois exala. Seus olhos estão fixamente concentrados no homem, como se estivessem o escaneando.

"É claro. Os seus homens sempre deixam o ego e narcisismo entrarem no meio da investigação. Eles não conseguem se manter imparciais se isso significa que o orgulho deles será ferido. Você precisa da maestria, persuasão e camuflagem de uma mulher." Rebecca opta por provocar o detetive, esperando que seu método funcione.

As noites em Paet Riu são perigosamente atraentes.Onde histórias criam vida. Descubra agora