Visitando o passado.

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TW: menção a abuso sexual.

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Chiang Mai, dois meses após a investigação.

Pouca coisa parece ter mudado.

É o que Rebecca nota enquanto dirige aleatoriamente pelas ruas de Chiang Mai, tendo quase toda a cidade decorada em sua mente, como um mapa.

Ela nota que o complexo de casas antigas agora dá espaço para um shopping, a padaria de seu bairro onde ela comprava pão todas as manhãs agora é diversificada, e a árvore que ela gostava de apreciar no caminho para a escola, logo na entrada da praça, não está mais lá.

Rebecca está evitando chegar ao seu destino.

Se ela odeia tanto voltar e enfrentar seus maiores medos e remorsos, por que veio?

Ela sente que deve.

Rebecca não terá paz até resolver seus conflitos. Ficar cara a cara com eles do mesmo jeito que fica com os assassinos que desmascara.

Por que ela fica totalmente tranquila conversando com homens e mulheres que cometeram diversas atrocidades, mas aqui, onde mora seu passado, sua família, amigos de infância, ela treme de medo?

Talvez porque aqui Rebecca não possa esconder quem é, e isso a assusta.

Finalmente desacelerando seu carro, ela estaciona na primeira vaga que encontra, perto da praça de seu antigo bairro.

Mas longe de sua casa.

Ela bate seus dedos no volante enquanto fita a rua, assistindo uma antiga colega de escola atravessando a rua de mãos dadas com um garotinho, provavelmente um filho.

Eu deveria descer e cumprimentá-la. Rebecca pensa.

"Olá, é bom te ver novamente..." Rebecca sussurra dentro de seu carro enquanto assiste a mulher se afastando com o filho. "Me diga como estão as coisas."

"Você se casou e tem um filho? Isso é ótimo..." A doutora continua sussurrando até ver a mulher e o garoto desaparecendo no fim da rua.

Rebecca finalmente abre a porta e sai do carro, respirando fundo, olhando para as árvores que já perdem as folhas à medida que o outono se estabelece, e sentindo falta do verão em Paet Riu.

Falta das manhãs, sentada na cafeteria com seus óculos escuros e deixando o sol banhar sua pele.

Falta do café que vinha logo após uma rápida e insignificante conversa com Nam e depois ficar olhando Sarocha passar do outro lado da rua.

Falta dos amigáveis moradores do centro que a cumprimentavam toda vez que viam-na passar de bicicleta pelas ruas e becos de Paet Riu.

Falta das caminhadas com Bonbon, conversas com Bonbon, sentar no chão do apartamento e acariciar o pelo de Bonbon. Falta de Bonbon.

Falta das noites quentes, com ventos fortes, vinho gelado e prazer extasiante ao lado de Sarocha, sono desconfortável ao lado de Sarocha, longos jogos de xadrez com Sarocha, conversas profundas com Sarocha, os lábios de Sarocha, as mãos macias de Sarocha, com seus dedos longos e atraentes. Falta de Sarocha.

Mais do que tudo, falta de Sarocha.

Rebecca lamenta que tenha terminado do jeito que terminou. Despedida amarga, dramática e repleta de decepções.

Ela enganou pessoas boas e gentis, partiu o coração de Sarocha, perdeu Bonbon, e tudo isso para colocar um fim nos assassinatos. Valeu a pena?

Rebecca costumava pensar que sim. Antes de Paet Riu, ela fazia tudo em prol do sucesso investigativo.

As noites em Paet Riu são perigosamente atraentes.Onde histórias criam vida. Descubra agora