En passant.

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Rebecca abre seus olhos e se depara com a visão de Sarocha, mas não deitada ao seu lado.

Sarocha está ajoelhada no chão, à beira da cama, seus cotovelos apoiados no colchão, dedos entrelaçados e próximos à testa, e olhos fechados.

Sarocha está rezando.

Rebecca não faz nenhum som ou movimento, não querendo tirar a concentração de Sarocha. Ela apenas observa como os lábios da veterinária se movem rapidamente, sussurrando as preces. Entre os intervalos, Sarocha faz o sinal da cruz e depois volta para sua posição original.

A doutora não pode deixar de admirar a dedicação que Sarocha tem por sua fé e religião. Rebecca sabe que ela reza todas as manhãs, o terço todas as noites, e percebeu que até mesmo antes de comer algo, Sarocha reza.

Isso faz Rebecca imaginar exatamente o quanto deve ser conflitante para Sarocha viver o que está vivendo. Com todas as crenças cristãs enraizadas em sua mente, como se manifestar sua fé e dedicação pela religião fosse tudo, seu mundo.

Ela cresceu assim.

Vinte e quatro anos de ensinamentos e crenças não desaparecem do dia para a noite, e Rebecca não quer que Sarocha faça isso. Ela só tem curiosidade em saber como a veterinária está lidando com tudo isso.

Será que quando confessa para o padre, ela conta sobre mim? Rebecca imagina.

Mas antes que Rebecca possa imaginar mais, Sarocha termina suas orações.

Ela abre os olhos e fica levemente surpresa quando percebe que Rebecca está acordada.

"Oh, você acordou..." Sarocha se coloca de pé, passando as mãos em sua calça, exatamente em cima dos joelhos. "Eu não sabia, me desculpa."

"Você pode rezar dentro do meu quarto, Sarocha." Rebecca assegura. "Só porque eu não faço, não quer dizer que me sinta incomodada por você fazer."

Sarocha apenas assente com a cabeça, observando Rebecca se levantar da cama e sair do quarto casualmente, voltando com um copo de água na mão.

"Você não é muito fã de roupas, não é mesmo?" Sarocha percebe como a mais velha fica extremamente à vontade, mesmo estando totalmente nua.

"Não," Rebecca confirma. "Mas eu uso porque não quero sofrer nenhum tipo de coerção social."

"Essa é a única razão para eu usar isso aqui." Sarocha passa seu dedão por baixo da alça de seu sutiã e solta-o contra seu ombro novamente, um estalo sendo ouvido.

Sarocha não parece estar incomodada pela nudez de Rebecca, mas a última ainda sim decide se vestir antes de abrir as cortinas de seu quarto. Ela não quer ter outra foto tirada pela equipe de Non.

"Então... hoje você não fugiu pela escada de incêndio," Rebecca cerra seus olhos enquanto abre as cortinas, sua visão se acostumando com a claridade. "Isso é um bom sinal?"

"Eu não sei," Sarocha dá de ombros, sua visão concentrada em abotoar seu cinto. "O que você considera um bom sinal?"

"Fugir pela escada de incêndio me diz que você está assustada e confusa, não fugir me diz o contrário." Rebecca explica.

"Eu não vejo assim," Sarocha discorda. "Porque ainda estou assustada."

"E confusa?"

"Bom... depende." Sarocha diz. "Eu nunca estive confusa sobre o que, ou melhor, quem eu quero, que no caso, é você, uma mulher. Meu problema sempre foi descobrir por que eu te quero e quais consequências esse desejo traria."

As noites em Paet Riu são perigosamente atraentes.Onde histórias criam vida. Descubra agora