Se banhe em preces, se deite em pecado.

605 90 61
                                    

Sarocha acorda confusa, olhando à sua volta por alguns segundos antes de perceber que está no apartamento de Rebecca.

Ela suspira profundamente e volta a fechar seus olhos, agindo como se fosse voltar a dormir.

Da cozinha, Rebecca se encosta na pia e observa Sarocha enquanto toma seu café. A veterinária ainda não notou a presença dela.

Mas então, Sarocha se levanta. Ainda com os olhos fechados, ela se senta no sofá e boceja, a palma da mão esfregando cada um de seus olhos lentamente.

Rebecca pega outra xícara e despeja café dentro, logo depois caminhando até a sala e se sentando ao lado de Sarocha.

Quando a veterinária finalmente abre seus olhos, ela agradece a xícara que Rebecca estica em sua direção e começa a tomar o café.

As duas ficam em silêncio por longos segundos, tomando o café, olhos vidrados na xícara que exala o vapor do líquido quente.

"Você deve ter se assustado quando entrou e me viu dormindo no seu sofá." Sarocha finalmente quebra o silêncio quando fita o cobertor que Rebecca usou para lhe cobrir.

"Digamos que eu fiquei curiosa." Rebecca leva a mão até o bolso de sua calça e tira o terço de Sarocha de dentro. "Aqui." Ela entrega o objeto para a veterinária.

Sarocha pega o terço e fita cada ponto que simboliza as orações que ela repete todas as noites. "Eu me sinto mais segura dormindo no seu sofá do que na minha própria cama."

Rebecca não entende exatamente o significado por trás das palavras de Sarocha, mas imagina alguns cenários, se baseando nas marcas que a veterinária carrega nas costas.

Sarocha percebe que Rebecca apenas assente com a cabeça, os olhos nunca deixando a xícara em sua mão.

"Estranho... quando nos conhecemos você ficava sempre querendo saber demais, e agora se contenta com as respostas vagas." Sarocha comenta.

"Ultimamente, eu mesma respondo as perguntas. Na minha mente." Rebecca responde.

"Sobre o que eu falei, qual a resposta por trás?" Sarocha pergunta.

"Você sabe." É tudo o que Rebecca diz.

A doutora sente o olhar de Sarocha nela, mas não se incomoda com isso. Rebecca secretamente gosta de ver alguém analisando-a. A doutora se pergunta se fazem isso do mesmo jeito que ela, e se conseguem enxergar o que ela não vê no espelho.

O som do despertador no celular de Sarocha interrompe o momento, e a veterinária rapidamente tira o aparelho de seu bolso para desarmar o alarme.

"Isso significa que você precisa rezar agora?" Rebecca pergunta.

"Não." Sarocha acaba rindo da pergunta de Rebecca. "Significa que eu preciso acordar. Eu não tenho hora para rezar, contando que faça isso todas as manhãs, serei perdoada."

Sarocha se levanta, e Rebecca se levanta junto. A doutora pega a xícara vazia que estava na mão de Sarocha e leva junto com a sua até a cozinha. Enquanto isso, a veterinária dobra cuidadosamente o cobertor que Rebecca usou para cobri-la.

Quando Sarocha se inclina para posicionar o cobertor em cima do sofá, o cordão em volta de seu pescoço cai para frente, lembrando Rebecca da descoberta que fez ontem.

Sarocha fica confusa quando Rebecca se aproxima demais, pegando o pingente entre seus dedos e apreciando-o. "É muito bonito. Onde você comprou?"

"Não comprei. Meu pai me deu quando eu era criança." Sarocha responde e isso tira qualquer dúvida de Rebecca.

As noites em Paet Riu são perigosamente atraentes.Onde histórias criam vida. Descubra agora