Paet Riu, População: (?), (-1)

510 92 26
                                    

Acordar, checar as horas, se levantar, vestir a roupa íntima e logo depois algo casual, arrumar a cama, alimentar Bonbon e a si mesma, checar a aparência no espelho, pegar todas as chaves e a coleira de Bonbon, deixar o apartamento, esperar o elevador ficar vazio, descer até o saguão.

Durante toda a primeira semana passada em Paet Riu, essa foi a rotina matinal de Rebecca, e hoje, no começo da segunda semana, ela pretende continuar.

Como sempre, ela troca breves palavras com o senhor Wo e qualquer outra pessoa que esteja no saguão. Logo em seguida, Rebecca começa a pedalar até o centro da cidade, bem devagar para que Bonbon consiga acompanhá-la.

"Bom dia, Patricia, o de sempre?" Ela se senta na mesma cafeteria que se sentou no primeiro dia, e pede sempre o mesmo café.

"Bom dia, Nam. O mesmo de sempre." Rebecca observa a atendente assentir e retornar para dentro do estabelecimento.

Rebecca descobriu que a cafeteria, que também é confeitaria, pertence à família Poolsak, e a filha ajuda os pais ao máximo que pode. Nam não se importa mais em anotar o pedido de Patricia, ela já decorou.

Geralmente, Rebecca fica sentada ali do lado de fora, trabalhando. Perto do horário de almoço, ela volta para o hotel, almoça e tira uma hora de descanso, retornando para a cidade sem Bonbon, e chegando no prédio quando a noite já caiu. Ela fala com Non todos os dias, às vezes por celular, às vezes pessoalmente.

Rebecca ainda não decidiu se essa rotina está fazendo bem ou mal para ela, psicologicamente. Como pró, ela possui a estabilidade, a certeza de que imprevistos serão pequenos e não a desviarão de seu objetivo. Como contra, ela possui... também a estabilidade. Não há desafio, ela não sente aquela pressão e dificuldade pela qual pegou um gosto ao longo de sua vida.

Rebecca provisoriamente deduziu que a rotina é neutra.

Nada a afeta demais, nem de menos. Nada a faz extremamente feliz, mas também não a deixa triste. Ela explicou sua decisão para si mesma, lembrando que a necessidade de uma rotina vinha porque, em Bangkok, ela não possuía estabilidade o suficiente, o controle escapava de suas mãos como areia, e isso a frustrava demais. Aqui em Paet Riu, ela pode controlar o quanto quer, isso faz com que a rotina perca seu status de necessidade, mas não faz mal algum, então ela continua praticando.

Aqui, ela não precisa de equilíbrio.

Uma coisa que chama muito a atenção de Rebecca, é que ela não ouve ninguém falando sobre os assassinatos que estão ocorrendo. Uma cidade pequena, onde quase nada acontece e as notícias correm rápido, ela achou que chegaria aqui e a presença de um assassino em série seria o grande assunto do momento.

Será que eles não ligam? Ou será que não sabem? Será que alguém está encobrindo as mortes? Ou será que os moradores ficam com medo de falarem sobre o assunto? Rebecca tem muitas perguntas, e ela sempre as responde, uma hora ou outra.

Todas as informações espalhadas na mesa de Rebecca pareciam estar debochando da mulher. Tanta quantidade, mas pouca qualidade, ela possui muita coisa que não significa quase nada.

A paciência de Rebecca está sendo testada.

O celular toca, e Rebecca fita o nome de Non na tela por alguns segundos, já se preparando para uma possível conversa desagradável.

"Boa noite, senhor."

"Boa noite, Dra. Armstrong. Como estamos indo?"

"Eu diria que os passos são lentos, mas dados no caminho certo."

"Sem joguinhos mentais. Seja específica."

"Eu tenho muitas informações, mas poucas pistas."

As noites em Paet Riu são perigosamente atraentes.Onde histórias criam vida. Descubra agora