Cap. X - Perrengues e desgostos

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Depois de uma longa caminhada e algumas caronas, chegaram em um hotel simples e não muito chamativo localizado à via menos movimentada da cidade.

Wednesday reservou um quarto com duas camas de solteiro na recepção. Ao chegarem no lugar, perceberam que havia muita poeira e cheiro de mofo. No teto apresentava um vazamento.

Wednesday voltou a recepção e relatou as condições. Perguntou se não haviam mais quartos disponíveis.

- Sinto muito, mas receio que seja o único quarto com camas de solteiro disponível. - disse a recepcionista.

- E eu receio que não esteja fazendo o seu trabalho devidamente. - diz Wednesday, desafiando-a com o olhar.

- Senhorita, você quer o quarto ou não? Há uma suíte com cama de casal um andar acima. Posso checa-la para ver se não há vazamentos. - diz a moça, séria.

- Que ótimo. - diz Wednesday, frustrada.

***
A recepcionista loira volta após alguns minutos e confirma o estado do quarto. Parece melhor do que o proposto com camas de solteiro. Ela segue a recepcionista com Tyler, e segura as chaves entregues pela funcionária do hotel.

Realmente, era um quarto que possuía melhor aparência do que o outro. Estava limpo e os lençóis de cama haviam sido trocados recentemente.

Wednesday deixa sua bolsa sobre uma cadeira próxima à cama, retirando algumas roupas e as dobrando para colocá-las em um armário disponível na suíte.

Ela evita conversar com o garoto que estava logo atrás dela, a observando em cada passo. Parecia um olhar predatório. Ela se sente desconfortável e ameaçada. Ela geralmente caça os animais, não é caçada por eles.
- Teria como ter um momento de privacidade? - indaga Wednesday, irritada.
- Oh, sim. Claro. Eu realmente preciso de um banho. - diz o garoto, envergonhado.
- Ótimo. - diz Wednesday.
Tyler caminha até um armário onde ficavam toalhas limpas. Ele pega uma peça íntima dobrada por Wednesday em uma gaveta.

Entrando no banheiro ele se escora na parede por um tempo. Se fazia perguntas. Quem exatamente era a garota gótica de cabelos e olhos negros que ele acompanhou? Será que era mesmo confiável? Quais seriam as suas intenções? Eles já se conheceram? Como ela sabia seu nome? Ele se sentia confuso. Ameaçado, mas protegido ao mesmo tempo. Ela lhe parecia familiar. Tanto que não exitou em segui-la até aqui.

Ele deixou as suas dores irem para o ralo juntamente com a água morna que escorria em seu corpo nu.
Haviam muitas cicatrizes a serem curadas, muitas perguntas a serem respondidas. A exaustão o levou diretamente para a cama após o banho.

Tyler estava evitando admira-la. Ele surtaria se pensasse sobre o seu possível relacionamento passado por mais tempo. De forma gradual, seus olhos se fecharam e ele pôs-se a dormir.

***
Wednesday o observava dormindo. Parecia um anjo da Renascença esculpido por Michelangelo. Quem vê, não pensa que é um monstro capaz das piores atrocidades.

Ela decidiu tomar um banho, e após ele, ligou para seus pais.

- Olá, minha querida! Meu bombonzinho amargo. Como está? Todos estamos preocupados. Não tivemos mais notícias suas. Nem morta, nem viva. O novo diretor nos ligou inúmeras vezes. Disse que havia fugido. Isso é verdade, minha filha? - Gomez fala do outro lado da linha.

- Sim, é verdade. Mas não entrem em pânico. Se perguntarem novamente, digam que autorizaram a minha saída por questões familiares. Estou em fuga do perigo que ronda aquela escola. Ok, preciso desligar. Podem me rastrear. Eu estou pagando os tratamentos de um amigo e gastos com os custos da minha estadia através do seu cartão. Espero que não se importe. Adeus, pai. - finaliza Wednesday em voz baixa, desligando sem ao menos esperar uma resposta.

Ela volta a realidade e percebe que terá que dividir a mesma cama que seu ex psicopata. Ela criou uma espécie de barreira entre os dois usando os travesseiros extras. Ela teve dificuldade em dormir. Lentamente conseguiu alcançar o sono profundo.

***

O Corvo e o Cisne Negro Onde histórias criam vida. Descubra agora