Cap. XIV - Residência Hyde

69 8 29
                                    


Chegando ao local, Wednesday abre as portas espanando a poeira e as teias de aranha presentes no local. Ela inalou aquele odor de mofo e poeira, o que lhe trouxe uma breve nostalgia.

- Wow, eu acho que tive uma lembrança por aqui. - Tyler diz tossindo um pouco, por causa da poeira.

- Oh, sim. Você já esteve aqui, aliás nós dois estivemos. - diz Wednesday com um sorriso de canto.

- Opa, não fizemos o que estou pensando, não é? - diz o garoto espantado.

- Não, mas quase. - ela diz.
Ela estava pensando no dia em que o torturaria por horas até que conseguisse a sua confissão. Aquela sensação era boa. O seu único arrependimento é de ter envolvido outras pessoas nisso, gostaria de terminar seu trabalho sozinha.

- Então, nós dois já...? - Tyler pergunta em tom sugestivo.

- O quê?! Não! Que nojo. Quanta depravação! Santo Nero! - ela diz espantada.

- Oh, desculpe-me não sabia o que você havia sugerido. Só sei que o lugar me é familiar. - ele diz soltando um riso anasalado.

- Ok. Não temos muito tempo. Temos que dar um jeito nisso aqui. - ela diz lhe lançando um olhar de repreensão.

- Você é quem manda, mestre. - ele diz rindo.

- Como? - ela diz o fitando ameaçadora.

- Nada. - Tyler diz cessando seu sorriso.

Eles começam então a arrastarem alguns móveis e colocá-los em lugares diferentes. Wednesday conseguiu um colchão inflável para comportar Tyler no galpão por alguns dias.

- Acho que é isso. - diz o jovem, simples.

- Sim, finalmente posso ir-me. - diz Wednesday, virando-se para a porta.

- Wednesday, espere. - diz Tyler, segurando em seu braço. Ela o olha curiosa, esperando o que ele tem a dizer.

- Obrigada por me ajudar a me instalar em algum lugar. Eu realmente não conseguiria sair daquele inferno de hospital sem você. - ele diz, um belo sorriso pequeno beirando a sua face.

- Não mesmo, Galpin. Mas, por nada, mesmo assim. Bem, preciso ir agora, há muito a ser feito ainda. Tenho que arrumar mantimentos e comidas para abastecer este galpão. Até mais ver, Tyler. - diz Wednesday em despedida.

- Tchau, Wednesday. - diz Tyler.

***

"O País das Maravilhas, por fim, não é um lugar muito maravilhoso e fantástico, ele na verdade é frio e nublado.
Onde vivem as crianças em suas pobres almas como cativeiro.
Sobre o que pensa a jovem cachinhos de cobre, ninguém faz ideia. Ela é incomunicável em seu mundo-fantasia. Sua língua própria é a abobrinha."

Wednesday digita em sua máquina datilográfica. Depois de algumas horas em seu dormitório vazio, surgiram ideias criativas. A sua poesia inventada é colocada agressivamente no papel. Wednesday sentia um pressentimento ruim e não comentara a ninguém sobre.

Enid abre bruscamente a porta do quarto, tirando todo o estado de concentração sobre Wednesday.

- Enid! Não entre sem bater, principalmente desta forma agressiva. Isso atrapalha todo o meu processo criativo. Quantas vezes é preciso dizer... - diz Wednesday antes de ser interrompida por sua amiga loira.

- Wednesday, você precisa ver isso. - diz Enid fitando os olhos de sua amiga solenemente, parecendo aflita.

Enid apresenta um vídeo que havia visto em seu celular minutos antes. Era uma reportagem de televisão, nela informava sobre o incêndio que ocorrera no Hospital Especializado de Bucareste.

"Os policiais entrevistaram alguns funcionários do local, mas o responsável pela tragédia no HEB ainda não foi identificado. As investigações permanecem em aberto, por enquanto iremos recolher novas informações de acordo com os próximos passos e depoimentos. Um deles, quem prestou foi o doutor neuropsiquiatra Ulisses Lecter. As imagens nos foram cedidas pela equipe de investigação responsável pelo caso." - Diz uma jornalista apresentadora do caso.

- Nossa! Bizarro, não é, Wednesday? - pergunta Enid, enquanto pausa o vídeo.

- Totalmente. Mas continue, gostaria de ouvir o depoimento do doutor. - ela diz em resposta.

- Ok. - diz Enid, finalmente, apertando o botão de play.

"Eu estava em um atendimento quando tudo ocorreu. Vimos enfermeiros correndo pelos corredores e o alarme de incêndio soando. Tudo parecia caótico. Ficou mais ainda à partir do momento em que saímos do hospital, alguns dos nossos pacientes desapareceram e outros foram levados à outras bases de atendimento emergencial. Muitos dos pacientes, bem, dos que eu tratava, pois eram da cidade de Jericho, foram realocados para as suas residências na mesma cidade, deixando os nossos tratamentos." - disse o doutor em um depoimento à polícia civil da cidade de Bucareste.

- Wednesday, me responda uma coisa. Você não tem nada a ver com isso, tem? - pergunta Enid, em tom de preocupação.

- Claro que não. Além disso, só soube da localização de Tyler após o conhecimento de toda a tragédia. Eles o abandonaram em outra clínica. - diz a sua amiga, sem nenhuma expressão.

O seu rosto nunca demonstra nada. Por isso é difícil dizer quando mente.

- Bem, isso é suspeito. Mas eu prefiro acreditar que tenha razão. - diz Enid. - Além do mais, estou cansada. Está ficando tarde e preciso estar preparada para as atividades de amanhã. Boa noite, Wens! - conclui se despedindo.

- Noite terrível para você, Enid. - ela diz, sem muita empolgação.

Wednesday fazia algumas perguntas dentro de sua mente. Pensava no depoimento do doutor. Se ele era responsável pelo tratamento de Tyler, sobre o que mais sabia, se estava disposto a responder mais questionamentos.

Ela decidiu que precisaria de mais informações. E nada melhor do que retirá-las da principal fonte. Falaria com o doutor ainda nesta semana. Não sabia quando, e nem onde, mas precisava de sua declaração sobre o caso.

***

O Corvo e o Cisne Negro Onde histórias criam vida. Descubra agora