XVI

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Tinha chegado a maldita hora de conversar com a mulher que mais o desprezou a vida toda; Sua própria mãe.

– Você tem certeza que está pronto? Sabe que pode adiar esse momento pelo tempo que quiser. - Jeon disse, preocupado com o namorado.

– Eu sei, mas uma hora esse encontro vai ter que acontecer e, já que estamos aqui, não quero mais esperar. - Andou pelos corredores cinzentos, procurando a cela em que sua mãe se encontrava.

O lugar cheirava a mofo e o chão parecia estar coberto por um lodo gosmento e escuro. O ambiente tornava a situação mais desagradável do que já era.

– Tem razão. É melhor acabar com isso logo de uma vez. - Apertou o passo para alcançar o parceiro, já que ele parecia estar com pressa. - Você acha que consegue fazer isso sozinho? Eu preciso resolver algumas coisas na cidade. Ao que me parece, duas gárgulas resolveram abrir um estúdio de tatuagem na mesma rua. Não quero que causem desordem no centro, ainda mais agora que o tumulto pela invasão de Lilith no palácio acabou de ser sessado. - Segurou um dos braços do menor, o vendo assentir. Viu que o outro tinha um olhar confiante e então sentiu que podia deixá-lo resolver aquilo sozinho. Inclinou-se para deixar um beijo na testa do amado, como um carinho de despedida.

Desde o princípio foram só ele e sua mãe, então sim. Ele sabia que precisava resolver aquilo sozinho. Era um problema dele. Mas não pode evitar de se sentir apavorado, pois ainda guardava receio e mágoa dentro do peito.

– Eu vou sentir se algo estiver dando errado, então não fique assustado na minha ausência. Eu volto logo. - Acenou breve e se virou para sair.

O humano se voltou para um dos corredores escuros, de onde ele escutou o barulho de um objeto sendo arrastado.

Sabia que não havia o que temer, mas não conseguiu evitar que seus braços se  arrepiassem enquanto andava pelo corredor escuro em busca da origem do som.

Observou curioso com os olhos arregalados, a imagem da mãe arrastando uma vasilha de alumínio pelo chão, até que estivesse próxima o suficiente da cela em que estava dentro. Ela pegava a comida com as mãos, parecendo desesperada por um pouco de arroz.

– Mãe? - Se aproximou, vendo a mulher se assustar pelo chamado repentino e se sentar no canto da cela, escorando as costas nas barras de ferro enferrujadas. Caminhou um pouco até estar com os pés próximos a vasilha, a pegou e levou para dentro da cela, estendendo-a para que ela pegasse de suas mãos.

– Não me chame assim, garoto. Você sabe que eu não mereço... - Pegou a vasilha com arroz e começou a comer, dando pouca importância para o rapaz, que se sentiu mais confortável em se sentar distante da mulher no cubículo enferrujado em que ela estava. - Veio fazer o que aqui? - Não chegou nem a erguer o olhar, pois não se sentia digna de olhar nos olhos daquele garoto que tratou como um boneco, tentando controlar cada um de seus atos e movimentos.

– Por que você simplesmente não saiu? A porta da cela esteve aberta esse tempo todo. - Ao invés de respondê-la, retrucou com uma outra pergunta.

– Eu poderia? Não sei o que devo fazer nesse lugar, mas sinto que mereço este sofrimento. Sabe? Comer só arroz empapado e gelado, dormir em um colchão duro e empoeirado e viver nessa cela medíocre como uma presidiária. - Algumas lágrimas começaram a descer pelo seu rosto agora magro, e suas mãos tremeram ao que segurava a vasilha com cada vez menos força. - Fui uma péssima mãe, talvez a pior de todas. Mas a verdade é que eu nunca quis ser uma mãe. Não estou dizendo isso para diminuir o peso das minhas atitudes passadas, é só que...

– Você achou que tinha o direito de me ter e me tratar como se fosse merda, é isso?! - Vacilou um pouco o tom de voz, dando espaço para um choro abalado. - Se eu pudesse escolher, você acha que eu teria escolhido ser desse jeito?! Acha que eu quis ser maltratado pela minha mãe a vida toda, apenas por ser quem eu sou? Eu nunca quis nada disso!

Belzebu Jjk+PjmOnde histórias criam vida. Descubra agora