Cap.03 Yandra parte 02

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— Sabe senhora Maura, um dia eu pude dizer que era feliz antes de meu pai morrer de desgosto pelo que minha mãe fez! Senhora Maura, minha mãe se encantou pelo meu pai. Também ele era um indígena lindo de olhos cor de mel.— Sorrio-lhe

— Como os seus, né?

— Sim. Ela pensou que ele era rico. Não, a fala certa é que ela não tinha ninguém e precisa de um teto.  Meu pai se apaixonou por ela e como um homem apaixonado levou-a para a aldeia. Não demorou muito para que ela engravidasse de mim. Pois bem, após dar à luz ela simplesmente nos abandonou e foi viver a vida dela Meu pai seguiu um bom tempo atrás dela. Eu fui criada pela minha avó. Bem, quando eu estava com cinco meu pai chegou desolado. Na época eu não sabia que ele havia encontrado minha mãe e ela já estava casada com outro. Vi meu pai adoecendo e definhando aos poucos até que ele se foi.  Eu já estava com 10 anos quando isso aconteceu. — Dou um suspiro e coloco o tomate na vasilha, volto minha atenção para a cebola, enquanto corto continuei falando: — Até eu ter dez anos eu sorria.  Mas quando eu fiz 16 anos, ela voltou!—  Parei e voltei no tempo me lembrando.  — Ela não vai ficar, a senhora a criou, mas ela é minha filha! Minha avó chorando já de idade, não pôde lutar contra minha mãe.  Minha mãe levou-me à força e me deu para um casal, que fez da minha vida um inferno! Na casa havia mais três crianças,  na época claro. Cada uma mais difícil de lidar que a outra! Um rapaz três anos mais velho que eu, era o pior e este infeliz não tinha quem o dominasse a não ser minha mãe! Sabe senhora Maura, todos eles eram albinos.

— Todos?

— Sim!

— Continuando,  quando eu tinha 19 anos e meio ela buscou-me.

—  Sua mãe conhece a dona da casa, por isso te empregou aqui?— é mais complicado que isso, porém eu somente respondo:

— Sim, é!

— O que aconteceu na noite em que a senhora Darah perdeu o bebê?— Meu coração se aperta e as lembranças vem e eu falo…

— Eu estava na cozinha fazendo meu trabalho, ela me chamou. Não ia subir para o andar de cima. Entretanto acabei subindo. Não dou detalhes demais. Eu só queria falar sobre o dia.

— Você subiu?

— Sim. Ela estava com a mão na barriga.  Perguntei se ela estava bem? Ela exigiu que eu falasse sobre o meu bebê.— mudo a narrativa somente para que ela não me faça perguntas demais.

— Yandra, estou falando com você?— Saí dos meus pensamentos e respondi:

— Desculpa, eu me perdi nos meus pensamentos.

— Porque ela queria saber sobre sua filha?

— O patrão queria uma menina. Imagino que ela queria saber se eu teria uma menina. —  Menti.

— Atá, então vocês duas brigaram.

— Não senhora Maura. Assim que eu contei que teria uma menina…—  respirei fundo antes de acrescentar:   —  Ela tentou me agrediu— não detalhei sobre ela ter enfurecido por eu ter mentindo o sexo da minha filha.

— Meu pai.— Ele leva a mão à boca em choque.  — Ela te empurrou?

— Eu lutei, mas infelizmente meu pé escorregou e eu cai escada abaixo.

— Foi nesse momento que o patrão chegou?

— Sim. O patrão entrou e encontrou-me sangrando e caída nos degraus. Senhora Maura, eu estava com muita dor, eu estava em  desespero, com a pouco força que  eu tinha eu só gritava: 'por favor salve a minha filha.' Que eu morresse naquele momento e ela vivesse. Só queria que minha filha sobrevivesse. Ele pegou-me em seus braços.Eu implorei pela minha filha enquanto ele olhava-me com o olhar perdido.

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