16(Clary)

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Jace abriu a porta do carro para mim, e ajudou-me a descer. Eu agradeci com um sorriso, me permitindo ser levada por seus braços. Aquela noite que se iniciou tão péssima, estava tendo um desfecho que eu estava adorando. Tê-lo por perto era agradável. E eu estava amando, mais do que gostaria de admitir.

- Clarissa. - Jace me chamou, como de costume, pelo nome que eu atendia, e não por seu apelido. - Eu preciso que você saiba de algo.

- O que seria? - perguntei, me virando para encará-lo. Os olhos do meu sequestrador me fitavam como chamas penetrantes. Eu sabia que olhá-lo da forma como me permiti, era prejudicial para mim. Sabia do zero ao dez como aquela história terminaria; comigo estando de coração partido. Mas mesmo que fosse me destruir, no meu coração, eu sabia que eu queria.

- Naquela época, quando você era uma adolescente. - era perceptível certo nervosismo em sua voz. -  Eu estava apaixonado por você.

A revelação me pegou desprevenida. Eu imaginei que tínhamos sentimentos um pelo outro, mas jamais pensei que Jace seria capaz de admitir tal sentimento, em voz alta. Essa reação eu esperava de mim; embora eu não o faria. Mas nunca esperei vir dele. E naquele momento, ouvindo suas palavras, que entregaram um sentimento genuíno, eu soube que também sinto algo por ele.

E eu não estou pronta para dizer isso em voz alta. Ou para mim mesma. E talvez, eu jamais esteja pronta para proferir à Jace. Porque dizer que está apaixonada por alguém, é igual dizer que ama. Se você diz, essas palavras são abdicadas. Porque não se pode tê-las de volta.

E o ser humano é capaz de controlar tudo; seus pensamentos, atitudes, sonhos e futuro. Mas não podemos controlar os outros e suas ações. Essa é a regra; e também a única verdade. E a decepção, de dizer palavras tão significativas sem ter uma correspondência, é dolorosa demais.

Por isso, eu jamais teria dito algo assim à ele naquela época, ou agora. Eu sempre carreguei comigo, à sete chaves, o medo de dizer essas três palavras. Porque nunca vi mamãe dizê-las para meu pai, ou ele dizer para ela. E eles eram o meu espelho de um relacionamento que um dia eu queria ter, quando era criança.

Mas quando cresci e entendi o que acontecia, eu passei a desejar com todas as minhas forças, que nunca obtivesse um relacionamento assim. Porque se Jocelyn demorou tanto tempo para finalmente se libertar daquela relação, o que garante que eu conseguiria me deixar ir? Que garantia eu tenho que meus futuros filhos não há de crescerem no mesmo lar tóxico e abusivo que por anos, eu vivi?

Qual era a minha garantia?

No fundo, eu sei que estar com Jace não irá me arrastar à algo desse aspecto. Mas eu não sei como reagir se meu coração diz sim, e minha cabeça grita um infinito não.

- Mas é bom que você jamais soube. - ele proferiu, muito perto de meu rosto. - Porque depois o sentimento deixou de existir. - e aquelas palavras doeram, em algo que não era só em meu coração. Era na minha alma, era perfurante. Jace as cantou com tamanha indiferença, e isso pareceu atingir um ponto dentro de meu coração, que eu não podia descrever. Era como se o que ele sentiu, pouco importasse, porque ele não se deixaria levar. Como se eu fosse algo que foi passageiro. Algo que quase não existiu em sua vida, e em seu possível coração.

Algo que não houve nem um mero esforço, para ser esquecido...

Foi essa a gigante sensação que me preencheu, quando Jace falou tais palavras, com uma voz risonha, que entregou ainda mais sua indiferença. Eu senti quando tudo quebrou dentro de mim. Senti quando meu coração pareceu despedaçar, e sem piedade alguma, ser pisoteado da forma mais cruel que alguém poderia arrancar o coração de um ser humano. Aquela foi a minha vez de sentir como só paixão pode causar tanta dor.

O Sequestro | - O Épico Amor De Wayland Onde histórias criam vida. Descubra agora