10(Clary)

52 5 3
                                    

Quando acordei, surpreendentemente tarde para quem tinha o costume de despertar cedo, às meio dia e dezesseis, senti uma eletricidade dolorosa percorrendo por todo o meu pescoço. Tentei com um esforço heróico, ficar em pé, mas a dor em mim, também se manifestava em meus pés. Minha cabeça parecia explodir de dor e minhas têmporas apertavam com a careta que fiz. Céus, o que raios...

- Jace. - sentado de frente para a cama, em uma poltrona, estava Jace, com seu típico sorriso de matar alguém. - Você não tem medo de perder a vida, não é mesmo? O que faz aqui depois de ter me apagado?

Jace estava com uma calma de se ter dúvidas. Senti raiva por isso. Não era justo ele me tirar do controle e prosseguir sempre tão calmo.

- Bom dia também, Clarissa. - sua voz era provocativa. - Perdão, não. Boa tarde.

Seu sorriso torto era uma tentação que minhas mãos ardiam para ter entre elas.

- Para com isso, babaca infeliz. - rosnei para ele, me controlando para não surtar e agredi-lo outra vez. - Você está fazendo tudo errado, como sempre faz.

- Uau, você vai me julgar outra vez. - ele foi irônico. - Me conte uma novidade realmente exclusiva.

- Aqui vai; eu quero arrancar desse sorrisinho metido que você tem agora. - disse o fuzilando furiosamente. Sua pose tranquila com a situação e com tudo o que eu dizia, era uma ascendência de raiva em mim. Como Jace poderia ser tão medíocre à aquele nível de provocação. - Com as minhas mãos batendo fortemente em seu rosto.

Jace suspirou, ainda me fitando divertindo-se com a situação.

- Não sei se reparou, Clarissa. Mas você já fez isso uma vez. Duas, na verdade. - discursou. - Você me bateu duas vezes. E não rebati, em nenhuma das vezes.

Na verdade, por incrível que aquilo soasse, Jace tinha razão. Uma vez o agredira porque ele o fez comigo, estava na minha razão. Mas agora, dessa vez, o agredira por um surto momentâneo de uma recordação perdida. Praticamente por nada, na verdade. Não queria admitir, mas vê-lo com o rosto ferido por arranhões e manchas de machucados que eu o causara, me condenou a uma culpa que eu não queria sentir. Não podia me permitir sentir menos do que muita satisfação em tê-lo ferido por minhas mãos. Não depois de tudo o que ele me fez.

Suspirei, cansada demais para discutir com Jace. De repente, apenas deixei que ele tivesse o controle de me fazer desistir, com suas palavras arrogantes e persuasivas.

Estava fraca para lutar contra aquele homem que me tirou tudo o que era meu por direto, de maneira mais atroz possível. E não poderia mais me enfachar com a máscara de moça forte e lutadora. Quando o olhei, seus olhos exalava a soberba em me ver desistir. E eu apenas podia suspirar e deixar que meus olhos juntasse as gotas de água, que eu não deixaria cair, jamais. Não em sua frente.

- Por favor, Jace. Estou pedindo do jeito que gosta. - disse eu, sendo irônica, ainda com a tristeza me invadindo. - Me deixe em paz. Sai daqui, não estou mandando, estou pedindo. Por favor.

Com a minha súplica, eu testemunhei enquanto Jace revelava uma face que eu não conhecia. Uma face surpresa. Estava surpreso por me ver implorar e eu também fiquei, quando encontrei seus olhos.

- Não quero discutir Clarissa, assim como você não quer. - ele falou, calmo como o vi algumas vezes, poucas estas. - Precisamos falar de Valentim.

Então me lembrei de suas últimas palavras antes de me injetar. Máfia. Jace falou algo sobre alguma máfia.

- Não estou afim de conversar com você, Jace. Principalmente se o assunto for de algo tão desgastante. - falei, torcendo o nariz com repúdio apenas em lembrar de meu pai. - Mas... Você falou algo sobre máfia. Isso me despertou o interesse, mas para uma outra hora.

Jace pareceu não se agradar com o fato de que deixei claro meu desinteresse em conversar com ele. Mas ao passe em que levantei o assunto sobre o que - por um motivo desconhecido - ele queria evitar.

- Me surpreende você ser filha dele e realmente não ter um grau de ideia do filho de uma serpente que seu pai é. - Jace alfinetou, revirando os olhos para as minhas perguntas que para ele eram irritantes.

- Na verdade ele não é, não. - protestei, encontrando o olhar de um ser frio e sem emoções, cujo Jace era o nome. O olhei profundamente, por um tempo demasiado, até que os pensamentos me engolisse para dentro de minha cabeça, a cada dia mais confusa.

Jace e eu estávamos por construir uma relação que não se resumisse a ódio ou impurezas, mas o fato de que ele me escondia coisas importantes sobre minha família, se tornou demais para que eu simplesmente aceitasse sem mais e menos. Precisava saber mais do meu pai, e talvez, saber um pouco mais dele, era a peça final para que pudesse confiar nele. Quero confiar nele, as vezes sinto que seria mais fácil se essa confiança já existisse. E outras vezes, a ideia apenas de acreditar em algo que saia daquela boca, parece absurda até mesmo para mim.

- Na verdade não, o quê? - perguntou, puxando-me para a realidade que eu fugia, sempre que tinha a chance.

- Valentim não é filho de serpente. - Jace me olhou com descrença de até então essas serem minhas palavras. Senti um aperto em meu coração, me lembrando da mulher doce e sorridente que era minha avó, mãe de meu pai. - Fale o que quiser, mas minha avó é bastante receptiva. Serpentes não são bem assim.

Jace suspirou em decepção com minha ironia, revirando dos olhos que eu ainda não sabera decifrar de que cor era. Um azul profundo contendo uma profundidade a mais.

- Eu estava realmente animado para o nosso passeio, ruivinha. - Jace ironizou com suas palavras, provocando-me com seu maldito sorriso presunçoso. - Mas acontece que você é um pouco devagar para se aprontar.

Suas palavras me deixara confusa, e estava pronta para perguntar sobre o que dizia, mas Wayland correu para a porta do quarto, girando a maçaneta. Senti uma dor absurda em meu pescoço, quando movi a cabeça para olhar em outro canto que não fosse seu maldito rosto, exaltando o quanto se sentia superior por me irritar, com meio palavriar.

- Iremos sair. - falou, com uma seriedade de despertar o medo em qualquer um. Mas não em mim. - Aonde não importa. Saberá quando chegarmos. Se apronte, Clarissa.

Engoli em seco quando ao terminar de falar, Jace me direcionou um olhar predador, e um sorriso sensual. Jace estava tentando me seduzir? Porque se fosse esse o caso, isso o tornava ainda mais babaca do que eu já o achava.

- E se prepare, docinho. Porque hoje você me verá com roupas mais... - ele dizia, parando por um instante, mordendo dos próprios lábios. - Tentadoras. Tente não babar muito, ruivinha.

E saiu, me direcionando um olhar final. Um olhar que era com certeza, mais tentador do que suas palavras.

Ah, Jace Wayland, me seduza, isso mesmo. Mas jamais vou facilitar pra você, babaca.

O Sequestro | - O Épico Amor De Wayland Onde histórias criam vida. Descubra agora