Capítulo 6

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LARA

Nem percebi quando acabei pegando no sono, só acordei quando meu celular começou a tocar incansavelmente, me irritando. Olhei para o lado e o homem da noite de ontem estava dormindo ao meu lado, então procurei rapidamente meu celular pelo quarto e achei jogado no chão. É, a noite ontem foi uma loucura, quanto tempo não fodia como ontem.

Olhei a tela do celular e tinha o nome da Victória, nem tinha avisado que ia dormir com ele, mas recusei sua chamada e entrei no wpp mandando uma mensagem.

Eu: Vic, não atendi porque o Igor tá dormindo ainda, mas tô bem, na casa dele, assim que ele acordar vou pedir pra ele me deixar ai.

Vic: Porra Lara, fiquei preocupada contigo, não apareceu até agora pô (áudio).

Eu: Marca ai que vou acordar ele aqui e pedir pra me levar.

Vic: OK.

Deitei na cama de novo e abracei o corpo do homem deitado ao meu lado, comecei a fazer carinho em sua bochecha com o dorso da minha mão e chamar por ele.

- Igor - passei a mão por todo seu rosto - acorda nego.

Ele abriu os olhos ainda com aquela sensação de não saber onde está, mas logo abriu um sorriso de canto e me olhou melhor.

- Bom dia nego - dei um beijinho em sua boca - juro que queria te deixar dormir, mas minha amiga acabou de me ligar falando que precisa de mim, será que tinha como você me deixar lá na casa dela?

- Bom dia pretinha - sua voz saiu mais rouca que o normal - claro pô, se veste ai que só vou no banheiro e te levo la - retribuiu o selinho e levantou da cama.

Após me arrumar e alguns minutos, ele saiu do banheiro já vestido, pegou a chave da moto na cômoda que tinha em frente a cama com uma televisão apoiada.

- Bora Lara - me puxou pela mão me dando um abraço assim que me coloquei de pé - quer comer alguma coisa, ir tomar café na padaria, sei la?

- Não, ta de boa, chegando lá eu como alguma coisa - desbloqueio o celular olhando a hora - se bem que já tá na hora é de almoçar né - rimos.

Avisei Victória que estava indo e pedi o endereço da casa dela, falei com ele e depois de um tempo chegamos na sua rua, ela já estava na porta de casa me esperando. Desci da moto, agradeci a noite e a carona, além de ter dado um beijo rápido de despedida.

- É, parece que a noite foi boa hein - Vic disse assim que me viu, me analisando de cima a baixo.

- Bota boa nisso, a sua também não deve ter sido ruim, nem abanou o rabo ontem - disse rindo entrando em sua casa.

Ela me contou que pouco depois que saí do camarote ela e Grilo também foram embora, mas que eles dormiram na casa dela e que havia pouco tempo que ele foi embora, já que o Arábia ligou pra ele chorando, deixando ele preocupado.

- Aquele homem, todo armado, com cara fechada, chorando? - perguntei sem acreditar.

- Aquilo ali é uma armadura que ele usa amiga, ele não pode nem sonhar que to te contando isso, mas eu acho que ele deve ter brigado com a mulher por causa da morte do filho deles, ele era um exemplo de pai e marido, mas desde que invadiram aqui e mataram o Henry ele transformou em um homem que ninguém entende - ela suspirou - antes dele casar com a Samantha a gente era amigo, fomos criados juntos, mas depois que eles casaram ela meio que impôs dele não me encontrar mais por ciúmes, nunca rolou nada entre a gente, era uma relação de irmão, e o que incomodava ela era que ele falava coisas pra mim que não falava pra ela, mas como ele era muito apaixonado, ele aceito - o olho dela já estava enchendo de lágrimas.

- E você sente falta demais da sua amizade com ele né?

- Demais amiga, ele era meu porto seguro, tá ligada? - limpou uma lágrima que escorreu - era a única figura paterna que eu tinha na minha vida, nunca tivemos nenhuma maldade com o outro, interesse, nada, era relação de irmão mesmo - respirou fundo - e a morte do Henry também me pegou em cheio, porque sempre tivemos o acordo que seriamos madrinha e padrinho dos filhos um do outro.

- Mas você tinha contato com o Henry mesmo a Samantha não gostando de você?

- Pelo menos esse acordo nosso aquele filha da puta cumpriu - riu sem ânimo - então a Samantha foi obrigada a me tolerar pelo menino, que era doido comigo - as lágrimas voltaram - ai ele se foi pra sempre, desde então eu não conheço mais o Diogo que cresceu comigo, por isso que ele tá sempre tentando fazer as vontades da Samantha, sem tirar que ela é doida pra tentar outro filho, mas ele não aceita porque se culpa até hoje pela morte do meu afilhado.

- Amiga, se quiser de parar de falar desse assunto paramos, mas ele teve alguma culpa da morte do filho?

- Claro que não, aconteceu porque mataram o Fubá e o Farinha, que eram responsáveis pela segurança dos meninos, enquanto isso ele estava em confronto defendendo a favela - ela olhou para o teto e secou as lágrimas - mas ele não poderia ter feito nada, a Samantha não morreu por sorte, porque ela ficou três meses no hospital se recuperando.

- Nossa, que pesado - fiquei sem ter o que falar - mas vamos pensar em coisas boas agora, vai se trocar pra gente ir almoçar em algum lugar aqui mesmo, porque na volta já vou descer pra minha casa.

- Quem disse que você vai embora hoje? claro que não - olhei pra ela com uma cara que fez ela soltar uma gargalhada - mais tarde tem pagofunk na quadra, e claro que tu vai comigo.

- Pra que? se você vai ficar o tempo toda grudada no Grilo.

- Hoje não, hoje ele vai tá de plantão - dei risada - não ri não que é por isso que chama crime organizado.

Como ainda tinha roupa pra ficar mais um dia, além de poder pegar emprestado com ela, resolvi que ficaria, mas algo me dizia que não era uma boa ideia.

Fomos almoçar no mesmo bar de ontem, voltei para casa dela e ficamos até as quatro da tarde jogadas no sofá, vendo filme e conversando fiado. Depois disso fomos arrumar e acabou que escolhi um look bem pagode mesmo, peguei um short emprestado com ela e usei um body que tinha trazido, que tinha as costas toda aberta.

Enquanto estava terminando de passar minha maquiagem ao lado de Victória, ela deu um grito do nada. Olhei assustada pra ela que começou a rir.

- Tive uma ideia amiga - lá vem ela com essas ideias malucas - porque você não vem morar aqui comigo e a gente abre alguma coisa aqui?

- Meu apartamento eu até coloco pra alugar, Vic - olhei pra ela - mas e minhas clientes lá do asfalto?

- A gente da um jeito, elas sobem o morro ou a gente tira um dia da semana pra fazer só atendimento a domicílio, o que acha?

- Pode até ser, mas preciso conversar com minha mãe e ver a logística primeiro.

- Sua mãe não mora e nem vem aqui no Rio, Lara.

- Mas é ela que me ajuda nas contas, que me deu o apartamento e querendo ou não ela é minha mãe né. É uma decisão muito séria pra eu tomar agora, me maquiando, já bêbada, pra ir em um pagofunk na quadra cheio de traficantes armados - falei o óbvio.

- Você é muito boba - revirou os olhos - mas tá bom, vamos vê se conseguimos ajeitar as coisas esse mês ainda, que ai mês que vem você já vem.

Apenas balancei a cabeça concordando.

Essa não era uma ideia ruim, apesar de ainda sentir muito medo daqui, sei que é uma boa opção. Mas preciso conversar com minha mãe, que mora em Minas, tenho que ver como vou fazer com minhas clientes, tenho que arrumar alguém para alugar meu apartamento e precisamos ter algo montado aqui já, uma estética.

Fiquei com aquilo em mente.

Logo terminamos de nos arrumar e como a quadra era a duas ruas daqui, subimos andando mesmo. Meu coração estava acelerado, minha ansiedade estava atacando, não estava entendendo esse sentimento todo.

Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora