Capítulo 59

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ARÁBIA

Já não via a hora de sair dessa hospital, Lara tá aqui o tempo inteiro, tentei convencer ela de ir pra casa descansar um pouco e tomar um banho mais relaxante, mas quem disse que a teimosa me ouve. Tenho conversado bastante com o Grilo e com o Caneta, os dois são os que mais estão me dando suporte lá de dentro do Complexo.

- Depois de dois dias acordado, acredito que sua alta deve ser hoje - Lara disse saindo do banheiro enquanto enxugava seus cabelos com a toalha - quando voltarmos minha mãe deve ir pro meu apartamento, Vick volta pra casa dela e Camilla já foi liberada, então teremos sua casa só pra nós.

- Nossa casa - me levantei com um pouco de dificuldade por conta dos pontos, que começaram a repuxar - sei que a gente já falou sobre isso, mas o assalto no Paraguai vai ter que acontecer - cheguei em sua frente e fiz um carinho em seu rosto, desviando para o banheiro logo em seguida.

- Mas não pode esperar 3 meses? - veio atrás de mim e ficou na porta enquanto eu mijava - assim que a Clara nascer você vai.

- Não é assim que funciona, mô - dei descarga e lavei as mãos - o Grilo descobriu que o rombo do Comando está muito maior do que imaginamos - bufei por ter que falar sobre isso com ela - 5 milhões foi só o que ele descobriu aquele dia, mas esse valor já se multiplicou por 10 - ela me olhou assustada por se tratar de muita grana - e sem essa grana vai ser mais difícil de reerguer, ainda mais que tem favela que conquistamos agora, como Lucas, que não lucra o tanto que as demais lucram. 

- Tudo bem, não quero saber mais sobre isso, só tenta chegar vivo em casa e a tempo da Clara nascer, eu preciso de ti, mas pode ter certeza que ela precisa muito mais - desviou seu olhar do meu - sabia que TX está melhorando? Deve ficar mais uma semana por aqui, mas logo logo vai receber alta.

- Graças a Deus, o mano do Vidigal ajudou nóis pra caralho - ela me olhou feio pelo palavreado e eu ri - não sei se vai dar pra esperar o mano ficar 100% pra fazer a reunião, queria dar uma chegada no quarto dele.

- Pede a enfermei... - antes que ela terminasse de falar, a enfermeira Cida entrou no quarto.

- Oh boquinha hein - ri e Cida nos olhou sem entender nada - ela estava falando pra eu pedir uma enfermeira pra me levar até o quarto do mano TX.

- Já estou com sua alta assinada pela médica, vim apenas conferir se está tudo bem e retirar seu acesso - porra, não tinha notícia melhor - antes de tu ir embora pode passar no quarto 401 aqui nesse mesmo corredor, é lá que ele está - assenti.

Ela fez todos os procedimentos que já eram de costume, retirou a agulha do meu braço e refez todos os curativos. Enquanto Lara ficava de olho em cada detalhe, para que ela pudesse fazer em mim em casa.

- Nada de pegar peso por pelo menos duas semanas, sem esforço exagerado, caso sinta alguma coisa retorne ao hospital e se mantenha sempre hidratado - foram as recomendações da enfermeira antes de nos liberar - e é pra usar essa tipoia por pelo menos uma semana - se referiu ao bagulho que não deixava meu braço solto no corpo.

Tirei a roupa do hospital e coloquei uma minha que Lara havia levado. Enquanto ela terminava de arrumar nossas coisas, fui até o quarto que o irmão estava. 

- Recebi alta, manda um dos seus preparar o carro que vou só trocar um papo com TX e estou indo embora - falei com Geleia assim que passei pela porta e ele assentiu, me seguindo de longe fazendo minha segurança.

Bati na porta que tinham os números pregados logo acima, ouvi a voz de Bárbara mandando entrar. Quando entrei e vi meu irmão quase todo enfaixado, mas acordado e rindo de alguma coisa que a mulher tinha falado, meus olhos encheram de lágrimas. 

- Qual foi, irmão - ele continuou com o sorriso no rosto enquanto me olhava - desfaz essa cara ai que o importante é que tô vivão, chega mais - caminhei em direção a sua maca. 

Cumprimentei sua mulher com um acenar de cabeça e ela saiu nos deixando a sós. Sentei na cadeira que tinha exatamente igual a do meu quarto.

- Tô recebendo alta hoje - olhei em sua direção - meu corpo está todo costurado, só não pior que tu, irmão - ri e ele me acompanhou.

- Fico feliz que tu tenha se recuperado, preciso que as feridas pelo meu corpo comecem a cicatrizar pra poder receber alta também, mas acredito que ainda vá demorar algum tempo.

- Mas tu vai sair daqui bem pra caralho e pronto pra outra - ele riu negando com a cabeça - até porque vai ter outra - seu sorriso se fechou e ele me olhou sério.

- Do que tu ta falando?

- Ninguém sabe do paradeiro de Samantha e Thais, não acho que estejam mortas, senão a foto do corpo delas já estaria rodando pelos grupos de whatsapp - ele me olhou atento - e no geral, o filho da puta do Cascavel morreu, mas deixou um prejuízo de um pouco mais que 50 milhões - ele soltou um palavrão baixo - e sem a grana o Comando vai estar fragilizado, acredito que as invasões possam voltar a qualquer momento também, sem tirar que agora sabem da Lara e da sua gravidez - passei a mão no rosto nervoso. 

- Caralho, e como tu tá querendo resolver esse b.o? 

- Vou ver quem é a associação que está responsável pela fronteira, tô querendo realizar um roubo no Paraguai...

- Tá maluco, porra? - seu tom de voz subiu dois oitavos - tua mulher tá a poucos meses de ganhar tua filha e tu quer me lançar uma dessas?

- Mesmo com a porcentagem do lucro de cada favela, o comando ainda vai estar fraco, e eu preciso fazer alguma coisa pra mudar isso, porque depois que eu assumir a cadeira, quero criar minha filha longe do morro - fui sincero - ainda não tenho o plano todo esquematizado, só vou saber mesmo quando sair daqui e conversar com Grilo, pra fazer uma reunião com geral pra ontem, mas como tu não vai poder participar presente, quero conversar contigo pra não ter surpresa quando receber a ligação.

- Suave - relaxou o corpo na maca e me olhou - fala o que tá na tua cabeça.

- Não sei quem está pela fronteira, mas se for alguma que dê pra negociar, vou juntar com os manos do FDN ou da ADA pra realizar o roubo - encostei as costas na cadeira - vão ser cinco roubos ao mesmo tempo, quatro de carro forte e um de banco, pra conseguir recuperar pelo menos os 50 milhões, porque os caras só vão aceitar entrar nessa se forem levar boa parte da grana, e a gente precisa só do valor que nos foi roubado, o resto nóis conquista com as vendas.

- Boto fé, mas quem tu vai convocar pra essa reunião?

- Todos os donos de área do Comando Vermelho vão estar presente, a reunião vai ser no meu morro, depois vou passar a visão pra quem comanda a facção em São Paulo, Minas e Paraná, pra só depois ver a necessidade de nos juntar a outra facção - ele concordou - eu estarei presente no roubo, mas tudo será planejado minuciosamente, em um mês estamos indo pro Paraguai recuperar nossa grana - ele riu - só preciso descobrir quem é a associação que está lá e proteger minha mulher e minha filha, enquanto não souber que Samantha está morta. 

Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora