LARA
- Acorda filha - senti as mãos macias da minha mãe acariciando todo meu rosto - chegamos meu amor - despertei aos poucos, olhando ao redor para onde eu estava.
O fim de tarde trazia um clima agradável, o sol baixinho denunciava que logo anoiteceria.
- Demoramos muito?
- Só um pouco a mais que o esperado, meu amor - minha mãe me deu um meio sorriso - teve acidente na via - explicou o motivo da demora.
- Ah sim - lhe devolvi o meio sorriso e sai do carro, que já estava parado dentro da garagem da casa do Arábia - ninguém pode saber de mim ainda né - olhei em seus olhos que confirmaram, bufei e passei a mão em minha barriga, que já estava bem redondinha - de nós - balbuciei.
Segui dona Helena pra dentro da casa, as meninas estavam organizando as coisas que Caneta tirava, com ajuda de outros vigias, de dentro dos carros.
- Quando vocês vão me contar o que está acontecendo? - perguntei de repente, assim que entrei e vi que Vick ainda chorava baixinho - Diogo morreu? - tive que ser direta, e por mais que saber a verdade pudesse doer, ficar nessa incerteza estava me matando.
- Não, amiga - Vick largou o que estava mexendo e veio até mim - desculpa se meu choro te fez pensar isso - me abraçou e eu retribui, logo me desvencilhando do seus braços de forma sutil.
- Então que caralho ta acontecendo - não alterei o tom de voz, mas ele saiu mais ríspido do que eu imaginava.
Quando ela abriu a boca pra me responder, Grilo entrou pela porta balançando a cabeça para que Victória se calasse, e assim ela fez se afastando um pouco de mim. Sentei no sofá cansada e frustrada.
- Lalá, Arábia não morreu mas está em cirurgia - Grilo sentou ao meu lado e segurou minhas mãos - a situação dele não é boa, assim como a situação do TX e de alguns outros irmãos - ele parecia atordoado - mas assim que sair da cirurgia preciso que você vá até o hospital ficar com ele e nos dar notícias, sei que é um pouco arriscado, mas vou mandar alguns vigias contigo.
- A situação dele não é boa quanto? - quis saber.
- Ele até que não teve muitas queimaduras como o Pinguim - arqueei uma sobrancelha sem saber quem era esse, ele apenas negou com a cabeça e continuou a falar - o problema é que antes de tudo ele já estava perdendo muito sangue porque teve um tiro acertado em seu ombro, e no momento da explosão, alguns destroços perfuraram seu corpo, fazendo com que a hemorragia piorasse - abaixou o olhar para nossas mãos - ele está em um hospital de confiança, com médicos excelentes cuidando do seu caso, mas como você está grávida, preciso que se prepare para o pior - quando ele falou isso, parece que abriu um buraco embaixo do meus pés, seu celular começou a tocar ao mesmo tempo em que o barulho do meu choro começou a ser ouvido pela sala.
Ele se levantou para atender e minha mãe veio até mim.
- Deus sabe de todas as coisas, pega com ele que o que tiver que ser será - me disso e me abraçou, me deixando chorar o quanto quisesse em seu colo.
- Fumaça não resistiu, porra - Grilo deu um soco na parede - eu vou fuder tanto com o TCP, mas tanto, que esse Rio de Janeiro vai ficar pequeno - disse puto e saiu de casa guardando o celular no bolso.
Vick tentou ir atrás, mas Caneta a parou.
- Não posso ir atrás porque preciso cuidar de vocês, mas dê esse momento pra ele - disse com os olhos marejados, afinal, ele era muito parceiro do Fumaça - ele sabe o que tem que fazer, Arábia tá confiando nele e já deixou bem claro que esse morro vai ser do Grilo.
Victória não ficou nem um pouco feliz com a notícia, mas o que deixou o clima da sala pesado foi o radinho que Caneta recebeu pedindo para preparar um velório da hora pro amigo. Todos começaram a chorar e minha mãe me deixou um pouco, indo até o homem que fazia nossa segurança e o abraçando.
- É permitido sentir - minha mãe falou baixinho em seu ouvido enquanto ele desabava - sei que vocês entram nessa vida já sabendo o final, como você mesmo me disse hoje mais cedo, mas perder quem a gente considera nunca é fácil - me olhou rapidamente e voltou a abraçar o Iago.
- Obrigado, nena - disse em meio ao choro e se afastou - agora preciso cuidar do velório - antes dele pegar o celular e sair do cômodo, minha mãe pegou em sua mão e o parou.
- Agora você precisa sentir a dor da perda - olhou em seus olhos - daqui uma hora você preocupa com isso, afinal, o hospital sempre demora para liberar o corpo - ele assentiu.
Os dois ficaram sentados juntos em um dos sofás da sala da casa do Diogo. Eu, Camilla e Victória fomos para cozinha, dar um pouco de liberdade pra eles.
Eu e Vick não parávamos de chorar, e embora não conhecia os meninos tanto quanto nós, Camilla estava comovida com todo o sentimento.
- E se Arábia tiver o mesmo destino do Fumaça? - questionei atônita - não quero criar minha filha sem pai, muito menos agora, que a gente finalmente poderia se acertar - as lágrimas voltaram a preencher meus olhos.
- E você não vai - Camilla colocou meus cabelos para trás da orelha e me olhou - Arábia vai sair dessa e vocês vão poder se acertar, confia que Deus tem planos maiores pra vocês dois - sorriu sem mostrar os dentes.
- Mas quantas vezes mais vou precisar passar por isso? - questionei - nunca vou conseguir ter paz porque o homem que eu amo e que é pai da minha filha é simplesmente um dos maiores traficantes do país e está sempre correndo o risco, ou de ser preso, ou de ser morto - solucei.
- Infelizmente esse é o preço que pagamos por amar quem é dessa vida - Vick concluiu me olhando - sei que o fato de você estar grávida pesa mais, mas eu tenho uma vida com o Grilo, já passei por isso várias vezes, mas nada se compara ao que estou sentindo agora - suspirou - ele está revoltado, nunca o vi desse jeito e tenho medo que ele tome decisões precipitadas - disse pensativa, como se soubesse o que ele poderia fazer de cabeça quente.
- Vou fazer algo pra gente comer, porque a viagem foi longa, e vamos ver um filme para distrair a cabecinha de vocês - Camilla levantou e foi abrindo as caixas de comida que trouxemos e a geladeira, vendo o que tinha dentro.
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Entregue à Loucura
Fantasy"Depois de muito relutar, de muito brigar e de muito desdenhar, me vejo aqui, completamente entregue à loucura que é amar ele."