Entregue à Loucura

Capítulo 52

ARÁBIA

O galpão tinha uma entrada pela lateral que até então estava desativada, mas mostrei o caminho pra dois dos homens que levei e eles entraram por lá, indo direto pra cozinha e deixando o botijão de gás na parte debaixo, onde acontecia o desenrolo. 

Outros dois entraram e se juntaram à eles, ficando escondidos pelo salão. Um estava em um ponto estratégico pra mirar diretamente no botijão e explodir tudo caso fosse necessário. Cinco dos homens que vieram com TX aproveitaram a deixa e entraram também, se escondendo dentro do galpão gigante.

O restante ficou espalhado pelas redondezas, fazendo a vigia e a segurança de dentro da mata, sem da na cara que estavam ali. 

Assim que estacionei o carro, Uva e Fumaça desceram comigo e ficaram na porta esperando TX, que não demorou a chegar com os dois que faziam sua contenção pra todo mundo ver. Cumprimentei os três com um aperto de mão e entramos, puxando o portão pesado e já dando de cara com Cascavel rodeado de pelo menos cinco homens, os quais faziam sua proteção. 

Eu sabia que não seria fácil matar aquele filho da puta, mas meu plano era um só e eu esperava que ele desse certo. Minha favela estava em boas mãos, isso me deixava um pouco menos apreensivo, tive uma conversa com Grilo antes de sair e falei com ele que tudo dando certo o Complexo seria dele, então era pra ele agir como dono daquela porra toda, porque ele seria.

Fiz o mesmo com Fiapo, dei o papo para que reforçasse a segurança da Lara e das meninas que estavam com ela. Dei o papo no Caneta pra ficar atividade e apesar de achar que ele tava me escondendo algo, deixei passar e avisei que depois conversaria com ele.

- Pra quem disse que não viria em mais reunião nenhuma, até que tu foi bem pontual - olhou o relógio em seu pulso e me alfinetou.

- Fiquei curioso em saber o que tu queria em uma reunião só comigo e com o irmão - apontei com a cabeça pra TX que manteve teu olhar sério e os braços cruzados em frente ao peito.

- Nunca ouviu falar que a curiosidade matou o gato? - se aproximou e estendeu a mão para nós dois, apenas acenando com a cabeça pros nossos da contenção.

- E tu nunca ouviu falar que gato tem sete vidas? - entrei na sua, olhando nos seus olhos e vendo de relance todos os cinco que estavam mais pra trás se aproximarem.

- Chamei vocês aqui porque a informação que tenho é que o TCP vai invadir a favela de vocês - foi direto ao ponto - de todas os morros do Comando Vermelho, eles estão interessados no de vocês - apontou pra gente.

- Conta outra novidade - neguei cruzando meus braços em frente o peito, cansado dessa conversa fiada - e precisava chamar nós dois aqui pra isso? - questionei.

- Precisava, porque Samantha e Bárbara estão sendo o alvo da missão deles - dividiu seu olhar em mim e no TX - e se eu tiver certo, essa invasão vai acontecer - fez uma pausa olhando pro relógio - agora - exclamou colocando um sorriso cínico no rosto. 

Permaneci olhando pra tua cara, sem acreditar que podia ser tão descarado como está sendo. TX permaneceu calado, não gostou quando o nome de sua mulher foi citado, mas não falou nada, porque assim como Lara e minha filha, a mulher dele também estava protegida, mas bem longe daqui. 

- Agora vocês vão ficar aqui, esperando contato pra negociar - Cascavel falava com tanta confiança, jurando que teu plano estava dando certo - não quis entregar Parada de Lucas por bem, vai entregar por mal - coçou sua barba rindo - e de quebra ainda vai me entregar o Alemão de bom grado - continuei com a mesma postura olhando nos teus olhos. 

Seu celular começou a tocar, e essa foi a distração perfeita pra olhar discretamente ao nosso redor, sendo possível ver onde cada um dos nossos estavam, já com a mira na cabeça dos seus homens, esperando o aval pra atirar. Ele andou um pouco pra longe e atendeu o telefone, voltando poucos minutos depois.

- Parabéns, escondeu muito bem a Bárbara - olhou com ódio pro TX - mas tu - estralou a língua no céu da boca e negou com a cabeça, me olhando - não serviu nem pra proteger tua mulher, e adivinha - fez uma pausa - ela já está com eles.

Não falei nada, estava calculando quanto tempo demoraria pra cada um dos teus morrer e ele tentar uma reação, antes que eu conseguisse tirar tua vida. A morte rápida e indolor seria um presente que eu daria a ele, mas precisava ser muito bem feita, porque eu sei que tem mais homens dele lá fora e precisaria confiar 100% que os meus e os do parceiro daria conta de segurar no momento em que os barulhos do tiro começassem. 

- Não vai querer saber da tua mulher não, Arábia? - questionou - e aquele amor e gratidão todo que tu dizia sentir por ela? - debochou.

- Samantha é treinada pra esse tipo de situação, e eu tô ligado que enquanto não falarem diretamente comigo não vão fazer nada com ela - o que era verdade - agora me diz aqui, por qual motivo tu traiu o Comando dessa forma tão descarada e tá agindo junto com aquele bando de puta?

- Tu já foi mais inteligente, mas vou te explicar - respirou fundo - aquele morro que tu bate no peito pra falar que é teu, deveria ser meu, e ele é que eu quero.

- E tu acha que o Comando vai te aceitar depois de toda essa merda? - TX questionou.

- Muito provavelmente vão querer me matar - balançou seu corpo de um lado para o outro - mas tô pouco me fudendo pro Comando, meu negócio é pegar o Alemão e colocar no nome do TCP e eles ficam com a Rocinha, além de voltar a conquistar Lucas - contou seus planos.

- Tu é burro mesmo viu, o que tu ganha sendo chefe da alta cúpula em um mês, vai demorar 6 pra ganhar com o Alemão - fui sincero - e acha mermo que TCP vai querer traidor na facção? - ri indignado - acorda, Cascavel, tu não tá na Disney não porra.

Seu telefone voltou a tocar e dessa vez ele atendeu no viva voz, deixando claro que a ligação não seria pra ele. E entre eu e TX, sabia que era pra mim, já que era a minha mulher que estava nas mãos deles:

"NINO: Fala, mano Arábia - o tom de voz debochado era nítido em cada palavra que saia da boca do chefe da alta cúpula do TCP - vou direto ao ponto, tu tem algo que é nosso, e eu tenho algo que é teu.

ARÁBIA: que seria? - me fiz de idiota.

NINO: entrega Parada de Lucas pra facção que te entrego tua mulher sem nenhum arranhão - pude escutar o estrondo seguido do barulho de um tapa - fala filha da puta, pede pro teu maridinho te salvar dessa - depois de mais alguns barulhos de porrada pude ouvir a voz abafada e chorosa de Samantha.

SAMANTHA: amor, pelo amor de Deus, me ajuda - pedia desesperada - eles vão me matar e eu não quero morrer antes de ter nossa família, por favor, não deixa eles me matarem - pedia afoita.

ARÁBIA: faz o seguinte - olhei para todos ao meu redor e dei autorização pra disparar, esperando que TX entendesse que eu dependia dele atirar em Cascavel pra sair vivo dessa - Nino? - chamei por ele, ganhando tempo.

NINO: dá teu papo.

ARÁBIA: pode matar essa filha da puta - nesse momento todos os homens de Cascavel apontaram a arma pra mim e TX, e ele me olhou com os olhos arregalados - mas tortura bastante antes de matar, porque é isso que eu faço com quem me trai, escutou Samantha?

SAMANTHA: pelo amor de Deus, eu nunca te trai amor.

ARÁBIA: nem quando começou a passar informações do meu morro pra puta da Thais que tá deitando com o nojento do Cascavel por dinheiro? - Cascavel desligou a ligação na mesma hora e puxou a arma da tua cintura apontando pra minha cabeça."

- Atira porra - gritei - se apontou a arma pra cara de um homem tu tem que atirar.

- Desde quando tu tá sabendo da Thais? - ainda teve a cara de pau de me questionar, neguei com a cabeça rindo desacreditado e fiz o sinal que os meus precisavam pro tiroteio começar.

TX arrancou a arma da cintura e atirou nos joelhos de Cascavel, enquanto fui mais rápido e tomei a arma de sua mão, que disparou e acabou me acertando no ombro direito, enquanto seu corpo caia no chão. Foi o tempo que tive pra correr e me esconder atrás da pilastra mais próxima, junto com TX, enquanto os seguranças do Cascavel trocava tiro com os nossos que estavam escondidos dentro daquele galpão.