Capítulo 57 - Bônus

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CANETA

Fumaça entrou pra essa vida junto comigo e com o Uva, nós três bem novinhos começamos como aviãozinho, até que com o passar dos anos ganhamos a confiança do Arábia e subimos de cargo. Sempre foi Arábia e Grilo juntos, mas sabíamos que eles nos consideravam pra caralho, confiavam as piores missões em nós três, porque sabiam da nossa capacidade. 

Quando recebi a notícia que Fumaça morreu, minha vista ficou preta e por alguns segundos eu morri também. O clima da favela estava pesado, Grilo tentava tomar conta de tudo, tinha os outros vigias pra fazer a segurança das mulheres da casa, Uva ainda estava no hospital, mas estava bem e Arábia corria risco de não sobreviver à cirurgia. 

Estou organizando um velório digno pro meu parceiro, ele vai fazer falta demais pra todos nós. Lara teve que ir pro hospital e com isso do enterro não fui fazer sua segurança, fiquei pelo morro organizando tudo e fazendo a segurança da casa do Arábia. Helena estava me dando um suporte fora do normal, e se eu ainda não estava rendido por ela, eu acabei de ficar. 

- Entra e come alguma coisa, ficar sem comer e sem dormir não vai te fazer bem - chegou na porta da casa me chamando, enquanto fechava o robe que usava por cima do pijama - acabei de preparar um macarrão ao molho branco com um bife acebolado - deu um sorriso sútil.

- Tu não existe mermo - balancei a cabeça e a segui para dentro da casa. 

- As meninas já jantaram, te chamei pra gente jantar junto e conversar, pra aliviar sua mente um pouco - me guiou até a mesa que já estava com os pratos, copos e a travessa das comidas - pode ficar à vontade para se servir.

Ela esperou que eu me servisse e logo em seguida colocou seu prato. 

- Larinha mandou notícias do Diogo - começou a falar - ela disse que ele vai ficar bem - suspirei aliviado.

- Ela deve ter me avisado, mas com a correria de ajeitar velório e organizar a segurança, eu não me atentei - deixei que meus ombros caíssem cansado - depois do enterro vou trocar de lugar com um dos caras do hospital.

- Conversa sobre isso com o Grilo antes, porque pelo que conversei com Lara, o hospital está cheio dos homens daqui e da favela do TX, porque ele também está internado lá, e parece que a situação dele é um pouco mais delicada que a do Arábia - comentou - então seria de mais valia tu ficar por aqui, até porque ouvi uma conversa de que essa guerra toda pode estar apenas começando.

- Não quer ficar longe de mim mermo, né nena - tirei onda com a cara dela - mas que conversa tu escutou? - arqueei uma das sobrancelhas.

- Parece que a ex do Arábia se juntou com a amiga e estava ajudando um tal de Cascavel - parecia se esforçar pra lembrar - parece que eles tentaram usar ela pra ameaçar Diogo, mas não deu muito certo, a história está muito confusa, Uva que contou pro Grilo, depois pergunta ele pra entender melhor - suas sobrancelhas estavam juntas, demonstrando confusão.

- Tudo bem, depois me preocupo com isso - voltei a comer - o que está achando da sua vinda pro Rio?

- Não esperava viver metade das coisas que vivi esses meses - riu - vim só pra ajudar Lara a contar sobre a gravidez, mas tudo saiu do nosso controle e estamos aqui agora, jantando na casa de um dos maiores traficantes do Rio de Janeiro, no Complexo do Alemão - gargalhei.

- E tu se apaixonou por um dos soldados dele - conclui piscando um dos olhos e ela se engasgou - sou novinho mas sou experiente - fiz hora com a cara dela.

- Ai Iago - ela se recompôs - não vou dizer que estou completamente apaixonada, mas você me encantou de uma forma diferente - suspirou - ainda é difícil pra mim pensar que você tem a mesma idade da minha filha.

Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora