Capítulo 53 - narração dupla

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ARÁBIA

A trocação tava sinistra, eu já sabia que ia rolar isso, mas não imaginava que seria na intensidade que está sendo. O dono da CDD deve estar achando que vai rolar invasão, porque já da pra ouvir o barulho de fogos de artifício se misturando com os tiros. Enquanto atiro nos que estavam a minha esquerda, TX tenta pegar os da direita, enquanto os outros nos dão cobertura e Cascavel fica no chão, rastejando como a cobra que ele é. 

- Vai lá e dá um tiro na cara daquele fudido pra acabar logo com isso - TX pediu enquanto atirava de volta, revidando as balas que vinham em nossa direção - vai porque tu ta sangrando pra caralho e precisa ir olhar esse ombro.

- Então tenta sair do galpão e ir avisar o Linguiça que ninguém tá querendo invadir o morro dele - eu estava ofegante, com a adrenalina sendo sentida em cada parte do meu corpo, não permitindo que eu sinta a dor do tiro.

- O caralho que vou sair e te deixar aqui, ainda mais ferido porra - desviou um pouco o olhar dos homens que estavam tentando nos matar e escondeu atrás da pilastra completamente - entramos juntos e vamos sair juntos, irmão nenhum fica pra trás - citou uma das leis da facção, apenas concordei e voltei a atirar, ele fez o mesmo.

Não demorou muito pra tropa do Linguiça subir e invadir o galpão. Quando olhei pra porta principal e dos fundos sendo invadidas pelos homens do Linguiça juntamente com os meus, eu entendi que agora estávamos em vantagem. Escolhi os irmãos certos pra participar dessa missão e cada um deles ia ser recompensado por isso.

Pinguim, um dos frente da CDD, foi o primeiro que reconheci sendo daqui. Ele portava um fuzil em mãos e assim que apareceu em meu campo de visão, sendo o primeiro e seguido de outros homens também com fuzil, balançou a cabeça positivamente para mim e começou a atirar de forma desenfreada. Tive que gritar pros meus se esconderem no momento que percebi que ele não saberia distinguir quem era quem. 

Os tiros se intensificaram e ao percorrer o olho pelo salão que foi palco para várias reuniões importantes, bati o olho no botijão que tinha pedido um dos meus pra descer e deixar em ponto estratégico pra explodir essa porra. 

- Irmão, do jeito que Pinguim ta atirando vai acabar pegando no botijão e fazer um estrago aqui dentro - falei com TX que logo arregalou os olhos e eu tive que explicar de forma resumida o que estava acontecendo.

- E tu só lembra disso agora - estava sem saber o que fazer, eu também - o negócio é sair desse galpão ou procurar um lugar bem longe do botijão.

Concordei e varri o lugar com os olhos, mirei exatamente do lado contrário do botijão. À  uns 15 metros dele e uns 7 metros de onde estávamos, tinha uma divisória de metal, onde tinha algumas coisas penduradas e dava acesso à sala principal, onde tinha uma porta por onde conseguiríamos sair.

- Bora pra trás daquela divisória, que de lá fica mais fácil de sair - falei mais alto para que ele pudesse me ouvir - tenta chamar atenção dos nossos pra isso - pedi e tentaria fazer o mesmo.

Corri com ele cobrindo minhas costas, logo depois ele fez o mesmo com Caneta e Fumaça cobrindo suas costas. Antes mesmo que pudéssemos parar atrás dessa divisória o barulho do estouro veio forte, assim como o cheiro do gás e as labaredas de fogo iluminando todo o lugar. 

Não conseguia ver e ouvir muita coisa, o barulho estridente fez com que eu ficasse momentaneamente surdo e a pressão exercida pelo gás projetasse meu corpo pra longe. Só conseguia pensar que não queria morrer sem conhecer minha filha, por isso me obrigava a ficar de olhos abertos, mas não demorou muito pras minhas vistas escurecerem e eu perder o sentido de vez.

LARA

Desde que terminei com Lucas ele não para de vir aqui em casa tentar reconciliar, fora as inúmeras ligações que ele me faz todo santo dia, cada hora por um número diferente. Por isso pedi um dos vigias pra ir lá no centrinho e comprar um chip novo pra mim.

- Teu chip novo, folgada - Caneta jogou em cima de mim, estava deitada na sala vendo um filme qualquer - mais algum desejo? - perguntou com cinismo.

- Se der, pede os meninos pra comprar melancia e limão - engoli a saliva que acumulou em minha boca - tô com desejo disso desde ontem, e se eu não comer minha filha vai nascer com cara de quem chupou limão - ele riu.

- Vou pedir os meninos pra ir lá, vou vê se tua mãe quer alguma coisa também - me olhou com cara de safado me fazendo gargalhar, e saiu indo atrás da minha mãe que estava no quarto.

Pode parecer que não, mas eu tinha sim notado o clima tenso que estava na casa hoje, achei que poderia ser por causa do Lucas, mas vi que tinha mais coisa envolvida. Caneta fazia de tudo pra eu não perceber, mas os outros vigias estavam com armas maiores, além de ter dobrado a quantidade de homens espalhados por essa casa. 

Quando do nada começou uma movimentação maior, dois entraram correndo perguntando por Caneta, na mesma hora que ele saiu correndo de dentro do quarto.

- O que tá acontecendo? - levantei de uma vez e tive que voltar a sentar quando senti minha pressão cair - caralho - murmurei baixinho com a mão na minha cabeça. 

Minha mãe veio logo atrás dele, que logo sumiu lá pra fora com os outros.

- Tá tudo bem, Larinha? - se aproximou me ajudando a levantar - vamos lá na cozinha tomar uma água.

- O que está acontecendo mãe? - notei que ela sabia de algo quando sua preocupação se tornou exagerada ao ponto de usá-la para me distrair - e não mente pra mim, nós estamos correndo risco de vida? - questionei.

- Não meu amor - me respondeu sem olhar pra mim, mas seu olhar era de preocupação.

- Então porque parece que o número de homens dentro dessa casa aumentou e estão todos fortemente armados? - semicerrei os olhos em sua direção e ela bufou.

- É pro cê ficar tranquila - falou com o sotaque mineiro carregado, me preocupando mais ainda - ai, toma essa água com esse calmante, que eu te conto o que tá acontecendo - mexeu nas gavetas da cozinha e encheu o copo no filtro que tinha na porta da geladeira, me entregando os dois logo em seguida.

Não questionei, apenas tomei o comprimido, a tempo de ver Vick entrar chorando pela cozinha e Camilla tentando acalmá-la.

- Alguém pode me falar o que está acontecendo - o calmante ainda não tinha agido no meu organismo, em deixando mais apreensiva e com medo de ouvir o que eu não gostaria.

- O Diogo - Vick tentou falar aos prantos, mas sua voz não saia e agora estava me negando a ouvir o que minha mente me fazia acreditar que era o motivo dos choros da minha amiga.

Ela veio até mim e me abraçou, eu já estava em prantos pedindo pra que falassem o que de fato estava acontecendo. Minha mãe e Camilla nos olhavam encostadas na pia, com olhar de pena, enquanto Victória estava nos meus braços, chorando tanto quanto eu. Quanto mais eu insistia pra ela falar, mais ela chorava.

- Arruma as coisas que em 30 minutos estamos saindo - Caneta entrou na cozinha anunciando, assumindo uma postura rígida, ao contrário de como ele costumava ser.

Me desgrudei de Victória ainda sem entender o que de fato estava acontecendo, mas não perguntaria mais. Se for o que estou pensando, tornar aquilo real doeria muito mais.

Arrumei minhas coisas ainda chorando, fui rápida porque não tirei tudo da mala. Fui na lavanderia e peguei algumas peças que estavam no varal, arrumei as comidas que estragariam e coloquei dentro de uma caixa, fechando as que ficariam muito bem. Quando terminei de fechar minhas coisas e as cosias da caixa Caneta entrou pegando tudo e colocando dentro dos carros.

Logo enfiamos dentro do carro e ele seguiu viagem calado, ouvindo apenas a música que tocava no rádio. O calmante começou a fazer efeito e adormeci por todo o caminho.


Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora