Capítulo 58

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ARÁBIA

Nos últimos dias tenho escutado Lara conversar diariamente comigo e com a bebê, mas não consigo ter nenhuma reação. Ouço ela tratando meus funcionários bem e seu choro baixinho, quando reza à noite pedindo pra Deus nos dar mais essa oportunidade. Não sou ninguém digno dessa chance, por isso sei que se Ele a ouvir vai ser por mérito dela, que merece muito ser feliz. 

E a primeira coisa que penso quando abro os olhos e enxergo o teto branco do quarto do hospital, e logo em seguida os monitores marcando meus batimentos, é que Deus ouviu suas orações.

- Ai meu Deus - ouço seu grito eufórica - ele acordou - pula da cadeira que ficava ao lado da maca que eu estava deitado - Geleia, vai chamar a enfermeira - foi até a porta e pediu pra um dos meus soldados.

 - Ficou feliz mermo que eu acordei hein - falei com um pouco de dificuldade assim que ela chegou próximo, fazendo carinho nos meus cabelos - dormi por quanto tempo? 

- Três dias - me ofereceu um sorriso - nós duas estávamos ansiosas pra você acordar logo - passou a mão em sua barriga que estava bem redondinha, diferente de como vi há meses atrás.

Meu olhar abaixou pra tua mão e um sorriso brotou em meus lábios. Não resisti e coloquei minha mão em cima da sua, fazendo um carinho nela e na barriga que abrigava minha filha.

- É Clarinha, papai estava doido pra ter você pertinho - falei ainda olhando para a barriga, mas logo subi o olhar para os olhos da Lara - vocês, tu também faz parte disso - me surpreendendo ela abaixou e depositou um beijo em meus lábios, que foi interrompido pela enfermeira.

- Vejo que já está ótimo, Arábia - uma enfermeira que já atendeu muitos dos meus por aqui entra pela porta.

- Como que não fica bom quando a primeira coisa que vejo na minha frente é minha mulher e minha filha - jogo essa e vejo Lara arregalar os olhos e me repreender em silêncio.

- Tá certo, tem que ficar feliz mesmo, tua mulher não saiu do teu lado desde quando você saiu da cirurgia - ofereceu um sorriso - vou te avaliar e administrar sua medicação de hoje, mas fique ciente que não é porque tu acordou que já vai receber alta, e não adianta nem chiar no meu ouvido.

- Ouviu né, sem discussão - minha mulher falou antes que eu pudesse contestar.

Logo a enfermeira anotou os dados que apareciam no monitor, olhou meu soro, a administração das medicações e por fim fez alguns exames físicos. 

- Tu está se recuperando bem, Arábia, mas preciso que você fique aqui mais dois dias em observação, não queremos que as suturas da cirurgia infeccionem e precisamos monitorar sua saúde, você perdeu muito sangue.

- Ele vai ficar quanto tempo precisar, pode ficar tranquila.

Estava puto de ter que ficar mais tempo afastado da minha favela, mas não vou contestar, pelo menos não dessa vez. Vou fazer todas as vontades da Larinha, quero ficar bem por ela e pela Clara. 

Logo a enfermeira saiu e nos deixou a sós novamente. 

- Deita aqui, vem - fui um pouco para o lado e bati no espaço que liberei - quero sentir seu cheiro e nossa filha. 

Ela veio de bom grado, mas com todo cuidado para não me machucar ainda mais. Queria sua cabeça em meio peito, mas por conta dos ferimentos não foi possível.

- Eu só lembro de ter tomado um tiro no ombro e uma explosão, mas o resto é um eterno borrão - suspirei frustrado tentando me lembrar novamente - como os parceiros estão? TX como está?

- Por conta de explosão você teve várias perfurações pelo corpo, não foi nada muito sério, mas te fez perder muito sangue - se virou de frente pra mim, encostando a ponta daquele barrigão na minha cintura - foi preciso entrar contigo pra cirurgia para retirar a bala do ombro e eles aproveitaram para ver as perfurações um pouco melhor, limpando e fechando todas elas - concordei - você precisou tomar sangue também, TX ainda está se recuperando, mas está muito mais debilitado que você - respirou fundo e desviou o olhar.

Entregue à LoucuraOnde histórias criam vida. Descubra agora