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Quantidade de palavras: 1115
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Ao fim do turno eu estava acabado, a dor de cabeça e o enjoo da ressaca me torturaram o dia inteiro. Não comi nada no horário de almoço então estava faminto. Eu dormi tão tarde que me admirava não ter desmaiado de exaustão.

Andando para casa com um copo de café que tirei do trabalho para não morrer durante o caminho, tudo o que eu queria era uma cama para deitar-me e descansar.

- Com licença...

Ouvi uma voz calma, doce e aveludada, um pouco rouca, mas muito linda.

- Você seria Aoto?

Virei-me em direção à fonte da voz e percebi uma silhueta estranhamente familiar. Cabelos platinados, olhos negros, pele pálida. Um homem maravilhosamente lindo. Me deu um aceno com a mão e um sorriso tímido. Pensei que ia me apaixonar por ele ali mesmo.

- Então... você é, ou não?

Sacudi a cabeça, tentando me recuperar do transe. Incrível como apenas sua presença foi capaz de me fazer quase esquecer quem era:

- S... sim! Sou sim!

Inclinei-me para frente, um movimento um pouco brusco.

- Ótimo.

Sua expressão mudou automaticamente, de um sorriso tímido e acolhedor, foi para uma expressão séria, preocupada e triste.

Ele, inicialmente, me chamou para conversar calmamente no banco da praça, que julgou ser o melhor lugar possível para aquela conversa.

Eu me senti intimado a ter aquela conversa com ele. Não o conhecia, só sabia que ele era muito familiar.

- Se você é Aoto... você deve conhecer Haruki, certo?

Me arrependi imediatamente de ter o seguido.

- Não tenho nada a ver com ele.

Respondi, de maneira curta e grossa. Confesso, não foi a coisa mais honrosa a se fazer, mas a raiva falou mais alto.

- Oh... mas, ah...

Ele lamentou.

- Como você vai responder uma pessoa se nem sabe o nome dela?

Depois de uma risada nervosa, prosseguiu:

- Meu nome é Ren, desculpe-me a indelicadeza.

Assim que as palavras dele se propagaram em meus ouvidos, eu congelei. Ele percebeu rapidamente minha reação.

- Está tudo bem?

E então, me surgiu uma fúria gigantesca.

- O que você quer comigo!?

Reclamei o mais alto possível, me levantando pronto para me retirar. Não me importava mais as pessoas encarando a nós e àquela cena. Ren assustou-se com a mudança de humor repentina, olhou para os lados nervoso, e vendo que estávamos chamando atenção tentou tomar uma expressão apaziguadora. Aquilo me fez querer socar aquele rosto lindinho dele.

- Eu... só queria conversar...

- Isso é alguma brincadeira com a minha cara? É isso mesmo?!

- Não! Não é isso, por favor, se acalme!

Ele levantou-se, tentando segurar meu braço, para me sentar no banco novamente e me acalmar.

- Ah, é!? Essa "conversa" por acaso é sobre você estar com Haruki?! Você quer esfregar isso na minha cara!? Você acha que já não sei disso?!

A expressão dele tornou-se mais confusa e preocupada.

- O quê? Não! Não é isso! Não entenda errado! Não estou com Haruki.

Ren defendeu-se, parecendo um pouco triste demais.

- Hah, como se algum de nós acreditasse nisso. Quer saber? Me deixe em paz.

De repente, todo o ódio transformou-se em remorso, e meu olhos lacrimejaram furiosamente.

- De qualquer forma, ele ama você agora...

Ri com a voz chorosa, e andei em direção à casa de Sayuri. Ren não gritou. Ele não fez nada. Só me deixou ir, chorando como um idiota.

Eu estava quase chegando em casa, ainda fungando pelo acontecido. Senti uma mão descansando em meu ombro e eu congelei. Me virei em direção à mão e avistei um homem de cabelos cor-de-rosa e olhos âmbar. Ao contrário do que esperava ver, o que era um sorriso animado, me deparei com uma expressão preocupada e séria, algo que nunca vi em Daw.

- Aoto... Você está bem?

Ele perguntou, antes que pudesse questioná-lo algo do tipo. Já esperava essa pergunta. Ele ficou me encarando o dia inteiro, e sempre que eu percebia ele me dava um sorriso amarelo. Como eu não tive coragem de responder, ele perguntou novamente, dessa vez segurando os meus ombros.

- O que aconteceu?

Comecei a querer chorar novamente e Daw me abraçou. Fiquei assustado com a proximidade tão repentina, mas assim que me acostumei, retribuí o gesto. Senti uma de suas mãos envolver a minha nuca, subindo vagarosamente até meu cabelo, e a outra envolver minhas costas carinhosamente, sua mão repousando em meu ombro.

Assim que terminei de colocar as lágrimas para fora, ele se afastou e se ofereceu para me acompanhar até casa. Não quis aceitar, afinal, não estava tão longe, mas ele foi de qualquer forma.

- Se você precisar, estarei aqui a qualquer momento.

Minha mão foi envolvida com as dele, dando uma sensação incrivelmente quentinha.

- Você é incrível, Daw.

Coloquei um sorriso no meu rosto e o agradeci. Ele sorriu de volta e soltou minha mão, se retirando.

Entrei em casa e Sayuri não estava lá, o que era esperado. Decidi deixar o dia encerrado e me deitar, antes que decidisse que enfiar um monte de remédios na minha goela fosse uma boa ideia.

Eu ainda estava deitado na cama, sem conseguir dormir, mesmo estando completamente acabado. Me perguntava como ainda conseguia chorar tanto.

Acabei me sentando na cama abraçado com meus joelhos, já que minha tentativa de descansar havia miseravelmente falhado. Pensei em Ren, que agora deveria estar feliz com Haruki, dormindo ao seu lado. Ao lado de quem costumava ser meu.

É tão ridículo o fato que mesmo depois de tudo, eu ainda esquentava minha cabeça pensando nos homens que o ruivo desgraçado estava beijando por aí. Eu não conseguia me entender. Eu o odeio tanto, mas ao mesmo tempo sinto falta de estar ao seu lado. Eu pensei se era a dor falando mais alto, eu sabia que era a dor falando mais alto. De qualquer forma, não devia estar tão apegado a alguém que havia me batido. Eu não devia pensar nele. Era ridículo. Era humilhante. Só consegui pensar em uma solução para esquecer disso tudo:

Bebida.

Pela segunda noite seguida, fui de bar em bar, bebendo todas.

Novamente me encontrei fugindo da cama de um outro homem e indo para casa embriagado e envergonhado. Triste e decepcionado. Me sentindo culpado e tolo... e sozinho.

As noites estavam cada vez mais frias, e eu não estava mais conseguindo aguentar. Meu nariz e boca estavam sangrando das brigas que arranjei mais cedo, meu corpo dolorido e exausto por falta de descanso e de tanto apanhar. Com apenas um passo em falso, fui parar no chão. Incapaz de me levantar. Incapaz de seguir em frente. Incapaz de fazer as lágrimas congeladas pararem de rolar. Incapaz de continuar consciente.
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Haha.

#‹𝑶𝒍𝒉𝒂𝒓 𝑪𝒂𝒓𝒎𝒆𝒔𝒊𝒎˚₊Onde histórias criam vida. Descubra agora