Um Pouco de Gratidão

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I

Era noite, hora do jantar, mas a mesa de refeições não estava cheia como de costume. Ao invés disso, as cadeiras eram apenas ocupadas por Viserys, Aemond e Lucerys. O rei, tendo agora somente um dos olhos e carregando um semblante exausto, apoiou um cotovelo na superfície de madeira e repousou a testa na mão. Soltou um longo suspiro.

— Quando Alicent ficou grávida de Aegon, eu fiquei tão feliz — murmurou. — Eu já estava em idade avançada, já tinha tido Rhaenyra e era grato pelo que possuía. Então, pensei: "os deuses estão me presenteando, agora com um garoto. Por que estão sendo tão bons comigo?" — Suspirou novamente. — Na noite que eu soube daquela gravidez, fiz apenas mais um pedido aos céus. Só mais um. Eu pedi: "por favor, atendam a um último pedido deste velho. Façam com que meus filhos se dêem bem. Façam com que meus netos se dêem bem. Que tios e sobrinhos convivam bem. Que madrastas e enteados sentem-se na mesma mesa". Eu pedi... — e pausou. — Por que vocês fazem isto comigo?

Ninguém respondeu. Aemond encarava Lucerys, que por sua vez encarava a tábua de madeira.

— Vocês têm tudo. São príncipes com futuros brilhantes pela frente — Viserys reiniciou. — Frutos de verdadeiras histórias de amor. Lucerys, você é meu neto e sabe que logo vou partir — e recebeu um olhar triste de Lucerys. — Aemond, você é meu filho — e recebeu um olhar relutante de Aemond. — Vocês partilham do mesmo sangue. O meu sangue.

Um novo silêncio instalou-se na mesa, ao que Viserys reclinou as costas na cadeira.

— Eu não sou como Daemon. Não vou ficar fazendo ameaças a vocês. Não vou repreender homens que há muito tempo já passaram dos dezoito anos. Vocês não são mais crianças. Não podem mais culpar os hormônios. Não podem mais culpar as pirraças — meneou a cabeça negativamente. — Então me diga, Aemond. O que ocorreu na sua cabeça para cortar o rosto de meu neto? — Encarou Aemond. — E você, Lucerys, o que te deu para ofender meu filho à entrada do próprio quarto? — E olhou Lucerys. — O jantar não vai ser iniciado enquanto vocês não fizerem as pazes. Eu não vou tolerar mais um dia de ameaças mútuas neste castelo. Vocês sabem a vergonha que estou passando por ter que ter essa conversa com vocês a essa altura? Você são homens formados! — Tentou gritar, mas a voz rouca não permitiu. Começou a tossir.

Lucerys olhou o avô com pesar e arrastou uma mão sobre a mesa até encostar na sua. Viserys segurou-a de bom grado, mas continuou tossindo durante alguns segundos. Quando cessou, Luke cortou o silêncio:

— Fui eu. — E ao dizer isso, recebeu um olhar desconfiado de Aemond. — Fui... eu que comecei. Quero dizer... Aemond estava me encarnado em todos os jantares, e eu... estava ficando nervoso, então... — mordiscou os lábios. — Me desculpe por te envergonhar — disse a Viserys.

— Eu também não tinha intenção de te envergonhar — Aemond falou, firme, pulando a parte em que se desculpava. Ainda encarava o sobrinho. — Mas existem coisas que não podem ser consertadas, Sua Graça.

— É assim? — O rei perguntou. — Coisas que não podem ser consertadas? Você quer dizer que estou fadado a conviver com uma guerra silenciosa entre vocês dois? Este é o destino que você quer para mim, Aemond?

Aemond cerrou os punhos sobre o apoio de braço da cadeira.

— Existem palavras que não podem ser retiradas — murmurou entre dentes. — Existem órgãos que não podem ser devolvidos — rosnou, referindo-se ao próprio olho.

— É disso que se trata? — Viserys perguntou. — Coisas que não podem ser devolvidas? E quanto à Coroa? A Coroa era de Rhaenyra. Passaria ao irmão dele — indicou Lucerys. — E ao invés disso, passou ao seu.

Behave Yourself - LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora