Tome o que Você Quer

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I

Não era verão; era outono. Mesmo assim, Lucerys suava. Suas vestes de dormir, compostas por uma longa túnica de seda, nunca haviam parecido tão pequenas e tão coladas ao seu corpo. Sua cama, antes morna e convidativa naquela época do ano, parecia escaldante; mas não. Era ele quem escaldava.

Pela segunda vez em pouco tempo, seus lábios haviam se colado aos de Aemond; a cada vez que acontecia, a necessidade por mantê-los ali parecia ainda maior. E agora, enquanto corria os próprios dígitos por aqueles lábios, tudo o que queria era que os do tio ainda estivessem presos aos seus.

Lucerys tinha um convite oficial. Por outro lado, tinha também um aviso de Jacaerys: aquele para que se mantivesse distante de Aemond, pois o tio tinha mais do que bons motivos para conduzi-lo a uma armadilha. Qual dos caminhos deveria tomar? Certamente que sabia qual queria tomar.

Se parte sua sabia que ter consciência agora era crucial para se manter vivo, a outra parte ansiava pela inconsequência. Lucerys passara a vida inteira tendo que se conter por um motivo ou outro; passara toda a sua existência treinando reverências, golpes elegantes de espada, danças requintadas de salão. Por uma vez na vida, não podia se arriscar? Por uma única vez, não podia se permitir apenas fazer o que desejava? Se Aemond quisesse a sua morte e estivesse apenas planejando-a, era melhor encará-lo de uma vez do que se esconder para sempre de si mesmo. Com isso em mente, Luke levantou-se.

Silenciosamente, vestiu seu gibão, armou-se com espada e saiu do quarto. Caso fosse interceptado por algum guarda, alegaria um passeio noturno por insônia ou outro motivo qualquer.

Ele passou pelo longo corredor de tapeçarias que adornavam a Torre Oeste, desceu a escada em caracol, passou pelas estátuas do hall que antecediam a Sala do Trono, passou à Torre Leste. Em seguida, veio mais um longo corredor e mais uma longa escada, que dessa vez, subiu. Passava por muitas portas com muitos guardas, mas eles não o questionavam; ao invés disso, assentiam com a cabeça em um cumprimento, ao que Lucerys respondia. Quando chegou ao andar de Aemond, seu coração já estava na garganta.

Respirou fundo, observando o percurso vazio. Naquela parcela da fortaleza não estava apenas o quarto de Aemond, mas também o de Aegon e Helaena. No entanto, mesmo que os três fossem de suma importância para os Sete Reinos, nenhum homem fazia guarda à porta de seus aposentos. Era estranho. Era possível que Aemond tivesse dado um jeito de dispensar os vassalos de todo o corredor, apenas para retificar o convite que lhe fizera?

Lucerys apertou os punhos e seguiu adiante. A cada passo lento que dava, tornava-se mais difícil puxar o ar para os pulmões. Quando chegou à porta do tio, lutou para engolir em seco, o pomo-de-adão por pouco não entalando na garganta.

Ergueu a mão. Bateu na porta.

Em uma fração de segundos, e como se estivesse esperando-o há uma eternidade, Aemond abriu. Estava com os longos cabelos soltos e vestido com trajes formais também; enfiou a cabeça no corredor, olhou para ambos os lados para se certificar que ninguém estava ali e puxou o sobrinho para dentro com toda a força que tinha, fechando a porta às costas do mais jovem em sequência.

- Você é idiota? - Murmurou. - Por que demorou tanto?

Luke abriu a boca para falar, mas nada saiu. A verdade é que seus lábios estavam tremendo, assim como suas mãos e pernas. Graças aos céus, estava encostado na porta; não fosse isso, certamente já teria caído no chão. Olhava Aemond de cima a baixo, sem conseguir acreditar no que via. Por tudo que era mais sagrado, o que estava fazendo ali?

O tampão tinha voltado ao olho esquerdo do tio. Ele vestia roupas pretas da cabeça aos pés, não como se estivesse prestes a dormir, mas sim a sair para um dia cheio. A única diferença era que o rosto estava mais corado em comparação à palidez natural e os fios loiros estavam totalmente soltos, caindo como cascatas platinadas por ambos os ombros.

Behave Yourself - LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora