I
Aemond revirou-se tanto na cama, que perdeu a noção das horas. Era plena madrugada e ainda não tinha pregado os olhos. Suas pálpebras pesavam muito, mas a cada vez que as fechava, aquele rosto surgia novamente em sua mente: Lucerys. Olhos azuis que carregavam uma maturidade muito além da idade; uma melancolia eternamente presente, quebrada somente por um ímpeto de desejo que tinha expressado no fosso dos dragões; a pele macia, a boca quente, os músculos já definidos dos braços puxando a nuca de Aemond. Em seguida, as pernas trêmulas, que sempre fugiam depois que ele o observava durante um tempo.
Desistiu de se deitar sobre o travesseiro e ao invés disso lançou-o no próprio rosto. Por todos os deuses, a ansiedade misturava-se ao ódio em seu corpo de uma forma que nunca tinha experimentado. Pela primeira vez, o ódio não era só de Lucerys; era de si mesmo. O garoto devia-lhe um olho. Tinha chamado-o de pervertido e fazia questão de lembrar ao tio o quanto ambos tinham nascido para se detestar. E ao mesmo tempo... o olhar. A língua quente contra a sua. Aquele bastando imundo.
Foi a garganta seca que fez com que se levantasse do colchão; ou isso, ou a agitação em seu peito. De qualquer forma, Aemond colocou-se de pé ainda nos trajes de dormir e serviu-se da água que estava numa garrafa de prata. Pondo o líquido em uma taça, notou como suas próprias mãos ainda tremiam. Como dormiria naquele estado? Impossível.
Precisava dar um basta naquela situação de uma vez por todas. Matá-lo estava fora de cogitação, mas talvez se realmente lhe arrancasse um dos lindos olhos, poderia voltar a se lembrar de quem ele era. Suas famílias não existiam para conviver bem; o que o destino havia traçado já estava definido. Mas como arrancar-lhe um olho, se a cada vez que o via, seus desejos apontavam para outro caminho?
Observou-se no espelho. Não ficaria bonito se fosse um olho azul de Lucerys ao invés daquela bola de safira no buraco de sua pálpebra esquerda? Um belíssimo tom para compor com sua outra íris, lilás. Já tinha se imaginado tantas vezes com aquele olho azul. Tantas vezes, e mesmo assim, parecia um plano cada vez mais difícil de ser executado...
Se ao menos não tivesse perdido a chance na noite anterior. Se ao menos não tivesse hesitado.
— Não! — Um grito agudo veio do corredor, e era feminino. Certamente que não de sua mãe.
Já imaginando do que se tratava e sem perder tempo, Aemond envolveu o corpo em seu roupão, pegou a espada e saiu pelo corredor afora.
— Aegon, não! — O grito veio de novo, abafado por uma grossa camada de parede.
Aemond imediatamente dirigiu-se para o quarto do irmão, deparando-se com dois grandes guardas à entrada. Filhos da puta. Separavam qualquer tipo de conflito na Fortaleza Vermelha, exceto aqueles que eram oriundos das brigas de marido e mulher.
— Saiam da frente — rosnou por entre dentes. Os homens entreolharam-se e abriram passagem. Em questão de segundos, Aemond abriu a pesada porta de madeira do quarto de Aegon e encontrou uma cena grotesca.
Helaena estava no chão. Erguia uma mão acima da cabeça para se defender, olhos cheios de lágrimas direcionados agora ao irmão mais novo. À frente dela, estava Aegon, com uma mão erguida e segurando uma caixa de madeira. Parecia prestes a dar com a caixa em cima de Helaena. Também Aegon lançou um olhar ao irmão, surpreso com sua chegada.
Aemond não se controlou. Por tudo o que era mais sagrado, estava a noite inteira sem dormir e no limite de sua paciência. Deu passos pesados em direção ao mais velho e arrancou-o do conflito, lançando-o com força em direção à parede mais próxima.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Behave Yourself - Lucemond
FanficOlho por olho, literalmente. É assim que funciona a mente de Aemond: Lucerys lhe deve um olho e ele tem que pagar. No entanto, uma única tentativa de cobrança pode levar ambos por caminhos nunca antes imaginados. [Lucemond] [+18] 🥈 Segundo lugar n...