O Respiro da Alvorada

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I

Quando Aemond despertou naquela manhã, tateou a grama ao redor e não sentiu o corpo do sobrinho. Com um sobressalto, abriu o olho e escaneou o ambiente ao redor, tentando se mexer o mínimo possível; não vendo ninguém, sentou-se e colocou-se de pé. Havia pequenos galhos presos aos seus cabelos, que imediatamente removeu com os dedos. Uma andorinha bicava animadamente o tronco do pinheiro sob o qual ele estivera deitado.

Maldito Lucerys. Ele tinha aquela mania de fazer as coisas por si mesmo. Qual era a dificuldade em acordar Aemond antes de se embrenhar novamente pela floresta? O loiro olhou ao redor, percebendo os rastros: pegadas lentas sobre a terra seca. Ele obviamente não tinha saído correndo; tinha partido devagar e na surdina, não tendo pressa alguma para chegar ao seu destino. Talvez tivesse optado por sair silenciosamente para não despertá-lo.

Por um momento, Aemond arrependeu-se de confiar nele. No que estivera pensando? Que por terem dormido juntos, seriam confidentes? Que compartilhariam tudo o que lhes passava pela cabeça? Como tinha sido idiota. Lucerys passava-o para trás a cada pequena oportunidade.

Um novo som chegou aos seus ouvidos: água sendo agitada. O rio. Era possível que Luke fosse ingênuo o suficiente para se permitir um banho matinal, sim. Logo ali, na floresta onde eles certamente ainda estavam sendo procurados por guardas reais.

Sem fazer barulho, Aemond seguiu os rastros, parando atrás de um punhado de galhos de pequenas árvores. Pela fresta natural formada pelo espaço entre os ramos, enfiou o único olho lilás.

O rio era largo, mas as águas eram calmas; elas serpenteavam lentamente através de grandes pedras que agora também serviam de suporte para as roupas de Lucerys. Mesmo que o cenário fosse cercado por altos pinheiros e existisse alguma distância entre Luke e Aemond, era fácil identificar a pele leitosa do mais jovem em meio à floresta. Os primeiros raios de Sol incidiam sobre o espelho d'água, refletindo sobre o seu tronco úmido. Os cabelos castanhos de Luke já tinham seus cachos desmanchados pela umidade, e deles se soltavam grossos pingos que voltavam à corrente d'água.

Ele mergulhava e voltava à superfície diversas vezes, como se fosse uma criança brincando no verão. Mas era outono, e a manhã estava tão fria, que Aemond via de longe os pêlos arrepiados dos seus braços. Ou pensava ver. Talvez não visse detalhe algum; estava preso no contexto geral da imagem, alheio a qualquer pensamento que antes existisse em sua mente.

Ficou pateticamente ali, parado, espreitando na moita durante longos minutos. A busca dos guardas reais era um problema distante quando tinha à sua frente um sobrinho que tomava banho em meio ao mato e esfregava o cabelo para se livrar dos restos de terra da noite na floresta. Minutos talvez tivessem se tornado horas de observação se o banho durasse tanto; ou ao menos se um sapo não tivesse coaxado alto ao ponto de Luke se sobressaltar e olhar ao redor, encontrando a íris lilás que o observava.

A princípio, Lucerys pareceu duvidar do que via. Aemond não moveu um músculo sequer, consolado pela hipótese de que ainda poderia se manter oculto se não fizesse barulho. Que ilusão. Luke era muitas coisas, mas não idiota.

- Perdeu alguma coisa? - Ele perguntou, e precisou falar alto, pois sua voz competia com o som da água que batia constantemente nas pedras.

- Você não aprendeu nada em todos esses anos - Aemond respondeu rispidamente, tentando pensar numa saída para o seu problema. - Está se dando ao luxo de tomar banho ao lado do inimigo.

- Ao que parece, ainda não me encontraram.

- Por sorte. Você encobriu porcamente os seus rastros.

- É porque não tentei encobri-los de você. - E sorriu.

Behave Yourself - LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora