O Deleite do Reino

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I

Lucerys estava de volta às vestes requintadas. O gibão em tons azuis e pretos era feito de cetim; fios de prata desciam sobre os botões fechados, correndo por todo o seu tronco. O tecido caía-lhe como uma luva, serpenteando o corpo esguio e musculoso, mas se antes a combinação de cores trazia luz aos seus olhos, agora apenas o apagavam. Estava pálido e grandes olheiras marcavam sua pele. Não apenas isso; olhando-se no espelho, achou-se envelhecido. Talvez aqueles dias fora do castelo tivessem sido rudes com ele; a ansiedade de não saber sobre o futuro também não estava ajudando. Se Viserys tivesse aceitado recebê-lo na noite anterior, talvez não estivesse com as feições tão cansadas.

Deu as costas ao espelho, saiu de seus aposentos e caminhou pelo corredor pedregoso da Fortaleza. Encaminhou-se ao quarto do Rei, que a muito custo, tinha aceitado recebê-lo. Quando parou à frente da porta, crispou os lábios com desgosto. Harwin estava lá, como um guardinha oficial.

— Suponho que minha mãe tenha te liberado de suas funções — murmurou, com a voz monótona e as feições indiferentes. Harwin abriu a boca para responder, mas o mais jovem o interrompeu. — O Rei aceitou me receber. Saia da frente.

— Você vai ficar me tratando assim até quando, Príncipe?

— Agora você se preocupa com isso? — Lucerys arqueou as sobrancelhas. — Deveria ter pensado nisso antes de delatar nossas posições a Daemon, Sor Harwin.

— Não foi a Daemon — Harwin justificou-se por entre dentes, soando ofendido. Uma raiva característica brilhou em seu olhar azul ao ser tratado por aquele título. — Foi à sua mãe.

— Bem, não foi ela que foi nos buscar, foi? Pela última vez, saia da frente.

Harwin não saiu. Resignado, continuou observando Lucerys com aquela expressão, uma mistura de raiva e frustração nublando seus traços. O cenho franzido não se dissolvia. Cedo ou tarde, teria que cumprir com o que Lucerys pedia e abrir passagem, mas a amargura o deixava imóvel como pedra. O olhar de Lucerys tampouco recuou; continuou fuzilando-o de volta durante longos segundos, até que a carranca na face de Harwin quebrou-se.

— Eu não sabia o que fazer — sussurrou, soando desesperado. Os olhos azuis desceram ao chão, como os de um cachorro submisso. Meneou a cabeça, pensativo como se buscasse as palavras certas. — Pensei que não fosse te ver nunca mais. O que você queria que eu fizesse? Mentisse para Rhaenyra, quebrasse meu juramento e ainda corresse o risco de nunca mais te encontrar?

— Eu nunca vou te perdoar, se é isso que você está tentando me convencer a fazer — o príncipe sussurrou de volta, o ódio no olhar abrindo espaço à tristeza. — Para mim, a partir de hoje, você e Daemon são a mesma coisa. Pela última vez, me deixe entrar, Sor Harwin.

Por um momento, Harwin pareceu ressentido ao ponto de cair em lágrimas. No entanto, não o fez. Fechou o rosto numa nova expressão de desgosto, abaixou mais a cabeça e deu um passo para o lado. Sem esperar por um segundo sinal, o príncipe abriu a porta do quarto de Viserys e entrou.

Os aposentos estavam mergulhados numa grande escuridão. As cortinas fechadas impediam que os raios do Sol entrassem; três frestas abertas da persiana banhavam o chão com três faixas de luz, todas imóveis sobre o grande tapete. Havia um cheiro de madeira velha e velas apagadas. Lucerys vislumbrou a silhueta de Viserys deitado em sua cama, virado em sua direção; o lilás dos seus olhos exaustos não era visível na penumbra.

— Sua Graça — Lucerys murmurou, a voz tão frágil que desapareceu no meio do chamado. Sentiu-se tão nervoso, que as mãos transpiraram. Como deveria lidar com Viserys? O que sabia era que seu avô tinha muitos motivos para nem sequer querer vê-lo; mesmo assim, curiosamente, era Aemond quem estava trancafiado numa torre. E não Lucerys.

Behave Yourself - LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora