A Caçada Sangrenta

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I

Turvacampo era uma vila próxima a Porto Real; algumas horas de cavalo eram suficientes para chegar, ainda que a estrada fosse íngreme. Lá, uma fina camada de névoa embebia a campina nas primeiras horas da manhã; a elevada altitude da cidade distanciava-a da umidade do mar, e com isso, para além das pradarias, a vegetação era apenas composta por pinheiros. Era justamente o nevoeiro da alvorada que lhe atribuía aquele nome; era ele também que fazia com que fosse um tipo de cidade de veraneio para a família real, especialmente porque as brumas tornavam mais interessantes os jogos promovidos pela Corte.

Naquele dia, os jogos seriam apenas dois: um torneio entre cavaleiros e uma caçada entre príncipes. Uma caçada que teria tudo para dar errado se Aemond falhasse na missão de defender Aegon. Era esse pensamento que não o deixava em paz.

Quando aterrissou com Vhagar próximo às arquibancadas do torneio, o príncipe levantou muita poeira e alguns montes de terra. O ar agitado pelas grandes asas do dragão foi suficiente para acidentalmente arrancar do solo uma das bandeiras com o brasão Targaryen; a bandeira voou, arrastou-se no chão e bateu nos estábulos, agitando três cavalos e derrubando um. Criados correram para socorrê-lo.

Vhagar estava mais instável que o de costume; rosnava baixo e agitava o longo pescoço para um lado e para o outro, enquanto Aemond batalhava para manter as mãos firmes nas rédeas. Ele debruçou-se sobre as escamas para murmurar ao ouvido do dragão que se acalmasse. Enquanto isso, com o único olho funcional, vislumbrou seu sobrinho aterrissando graciosamente em Arrax.

Lucerys desceu sem grandes problemas de seu dragão e foi recebido calorosamente: seus irmãos mais jovens, Aegon III e Viserys II - ao qual pertencia aquela festa de aniversário - vieram correndo para abraçá-lo. Com Aemond, aconteceu o contrário: a multidão ao redor correu para a direção oposta quando Vhagar urrou. Aemond demorou alguns minutos para acalmá-la; logo que conseguiu, pulou sobre o chão e jogou as rédeas nas mãos de um serviçal qualquer.

O campo do evento estava elegantemente decorado. Havia arcos de flores amarelas, longas mesas de madeira com um farto banquete e jovens araucárias alinhadas, que pareciam ter sido plantadas exclusivamente para aquela ocasião. Aemond passou ao lado de uma das mesas e encheu os bolsos com castanhas, porque precisava ter com o que se distrair se não fosse dar com a língua nos dentes e contar a Aegon que ele corria risco de vida. Em seguida, o loiro rumou para a gigantesca tenda real, onde o rei Viserys acenava amigavelmente para seus súditos; em particular, para um grupo de Lannisters que acabavam de chegar a cavalo.

Viserys fingiu não perceber a chegada do filho, pois manteve os olhos distantes, mas assim que Aemond apoiou-se no parapeito de madeira da tenda, o sorriso no rosto do velho cresceu.

- Eu sabia que você ia me orgulhar - ele comentou.

- Sabia? - Aemond rebateu, sem muito interesse. Não era como se as conversas com o rei não lhe fossem úteis; o problema era que seu peito estava agitado. Tentava não pensar em Lucerys e em Aegon, mas sua mente não se desligava.

- É claro que sim - o rei olhou-o de lado com um sorriso gentil. Ele também tinha olhos lilases, mas um pouco mais claros do que a maioria da família. - Ouvi dizer que você fez uma proposta de casamento a Floris Baratheon. Isso é excelente para nós, Aemond.

- Eu sei.

- E ouvi dizer que você e Lucerys estão convivendo amigavelmente agora - ele continuou, erguendo uma mão para alocá-la no ombro do filho. Aemond o tinha passado em altura desde os dezessete anos. - É bom saber que vocês estão se dando bem.

O mais jovem assentiu com a cabeça; alcançou algumas castanhas do bolso do gibão e levou-as à boca. Mastigou nervosamente.

- Sei que você não gosta dos filhos de Rhaenyra - Viserys murmurou. - Mas faz tempo que não te vejo tão nervoso assim. O que te incomoda?

Behave Yourself - LucemondOnde histórias criam vida. Descubra agora