Durante uma vida inteira

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Nos vemos nas notas finais.

I

Uma corrente de vento uivava pelo corredor Norte da Fortaleza Vermelha quando Lucerys parou em frente ao quarto de Viserys. Não havia guardas. Nenhum sequer. Tal como previsto, Daemon havia limpado os corredores, fosse com a desculpa de um treinamento noturno ou alguma suposta reunião de emergência. Não importava. O que importava era que a porta do quarto do Rei estava ao seu alcance.

Sem nem sequer bater, Lucerys virou a maçaneta e enfiou a cabeça para o lado de dentro. A única silhueta deitada sobre a cama era de um homem corpulento e cansado; Alicent não estava presente, assim como não estivera durante anos. Os aposentos dela eram separados.

— Luke — a voz rouca e arrastada chamou seu nome, e Lucerys imediatamente entrou e fechou a porta às suas costas. Ignorou a bola de emoções que se formava em sua garganta. Suas mãos tremiam um pouco, e o fato de carregar uma adaga acoplada às costas não ajudava em nada. Lucerys nem sequer era bom com adagas, mas buscou manter as pernas firmes para caminhar até o avô e sentar-se na cama.

Os olhos lentos de Viserys piscaram em sua direção. Ele nem era tão velho assim em idade, mas a cada dia, parecia definhar mais. A morte de Aegon certamente havia contribuído para aquilo.

— Quando você era criança, me visitava muito mais vezes durante a noite — ele sorriu com a lembrança. — Você se lembra? Só você fazia isso. Nem meus filhos fizeram.

Lucerys tentou esboçar um sorriso em sua direção; não soube o resultado. Arrastou as mãos sobre a cama de forma a segurar as de Viserys, os olhos azuis descendo para os dedos que imediatamente entrelaçaram-se aos seus.

— Sei que você não veio por causa de nenhum pesadelo dessa vez. O tempo não corre para trás, para meu azar. — Ele fechou os olhos e soltou um longo suspiro, o que resultou em uma breve crise de tosse. O neto comprimiu os lábios endurecidos e apertou as mãos dele nas suas.

— Minha mãe pede pela sua presença — sussurrou. As palavras que saíam de sua boca chegava a doer, como se não quisessem ser verbalizadas.

— Por que agora? É tão cedo.

Lucerys meneou a cabeça e deu de ombros.

— Não sei. Eu sou só um mensageiro.

— Ajude-me a me vestir.

O mais jovem ofereceu o braço para ele, e Viserys apoiou-se com dificuldade para se sentar sobre a cama. Fez tanta força nos músculos de Luke, que mesmo que ele tivesse os do braço treinados, quase caiu junto sobre o colchão. Depois de sentado, Viserys apoiou-se de novo, dessa vez, para se colocar de pé. Ergueram-se juntos.

O Rei caminhou para o banheiro e fechou a porta. A adaga que estava às costas de Lucerys estava bem encaixada, mas parecia uma intrusa. Pinicava-o; arranhava-o. Quando a porta do banheiro novamente foi aberta, o Rei caminhou em direção à cadeira, sobre a qual estavam as suas roupas do dia.

O processo foi tão lento quanto poderia ser. Com Viserys sentado sobre uma segunda cadeira de madeira, Lucerys fez o trabalho de desabotoar suas vestes de dormir e removê-las. Ajoelhou-se no chão para acertar os pés de Viserys nos buracos da calça, subiu-a contra a resistência da pele enrugada. A respiração acelerada de seu avô indicava que o mais simples dos movimentos custava-lhe muito; o silêncio do quarto era quebrado por grunhidos de incômodo que deixavam os lábios dele.

— Tem dias em que penso que não vou aguentar a Coroa — ele admitiu num sussurro, mas Lucerys manteve os olhos baixos. Concentrava-se em fechar com os dedos frios os botões da calça de linho. Em seguida, colocou as botas nos pés. — Agora, me ajude a levantar.

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⏰ Última atualização: Feb 02 ⏰

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