Pimentinha!

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É claro que eu reparei né.

Mas, não consegui ficar brava, ele não parecia estar omitindo a palavra pra me enganar ou algo assim... Deve ser só coisa dele mesmo né.
Quando comecei a fazer as malas pra viagem eu fiquei olhando pra gaiola de pimentinha, a minha Calopsita, que quase sempre fica com a gaiola aberta, mesmo preferindo o tempo inteiro sua gaiola ou ficar dormindo nos lençóis.

Foi aí que eu pensei em montar um cronograma, alguém ia precisar cuidar da Pimentinha enquanto eu estivesse fora esse mês.

— Mãe, você pode dar comida e limpar a gaiola do Pimentinha enquanto eu estiver fora? — perguntei após descer as escadas, encontrando ela com o cesto de roupas nas mãos.

— Ah Karina, fala com a sua irmã, eu não tenho tempo pra isso não — ela parecia mais cansada que o normal.

Eu não ia pedir pra minha irmã, tinha perigo de eu nem ter mais uma calopsita ao voltar.

Por isso eu separei tudo do meu pássaro, coloquei a calopsita no ombro e saí.

— Tô saindo — aviso enquanto calço os sapatos, era um pouco depois da hora do almoço, dei de cara com o meu pai enquanto passava pelo portão de casa.

— Onde a mocinha está indo? — meu pai perguntou ajeitando seu quepe policial.

Ele é um homem grande meio parrudo de barba, ela estava mesclada de fios pretos e brancos assim como seu cabelo, o meu pai tem olhos bem afiados e meio cerrados como um gato ou uma raposa.

— Vou deixar o Pimentinha na casa do Shuji — Sorrio e saio correndo antes de ele processar a informação e me impedir.

Sim, o nível de incompetência e irresponsabilidade da minha querida irmã é o suficiente pra que eu queira deixar o meu animal de estimação com alguém como Shuji Hanma do que com ela.

Eu estava na esquina quando liguei pro meu namorado... Meu Deus... Ainda é estranho chamar o Hanma de namorado, mesmo gostando, é estranho pra porra.

— Shuji, abre o portão pra mim — é a primeira coisa que eu falo assim que ele me atende — tô aqui na frente.

— Mentira, eu tô aqui na frente e não tem nenhuma baixinha de cabelo curto aqui — Ele diz e ao fundo eu escuto barulho de água.

Na hora que eu posso visualizar direito, tinha um carro azul parado na frente da casa do Hanma e a rua estava molhada...

— Tá lavando um carro? — perguntei enquanto me aproximava, ainda no telefone.

— Eita porra, você tá aqui mesmo — na mesma hora eu vejo Shuji surgir de repente de trás do carro.

Foi aí que eu tive um probleminha, a essa altura do campeonato, eu já tinha posto a Pimentinha pra dentro da gaiola que eu estava carregando, eu meio que deixei a gaiola cair quando eu vi o Shuji... Ele... Ele...

Que droga! Calma, ele estava com o cabelo pra baixo, meio úmido, usando uma bermuda que eu acho que era jeans, e estava sem camisa... Eu me demorei bastante na parte do "sem camisa" bastante mesmo.

— Tchutchuca — eu não dei importância pro apelido ridículo enquanto recuperava a sanidade e a gaiola do meu pássaro — Que isso?

Vejo Hanma coçar os olhos e puxar os óculos que deviam estar pendurados em outro lugar que não a cara dele.

— A minha calopsita — Estendo a gaiola pra que ele veja o pássaro que parecia sua versão animal, que estava meio agitada no momento — Vai cuidar dela enquanto eu estiver fora.

— Vou? — ele arqueia as sobrancelhas, olhando melhor para Pimentinha e em seguida pra mim — Você tem mesmo uma calopsita...

— Eu não mentiria sobre isso — Levanto meus ombros.

— e EU tenho que cuidar? — ele cruza os braços sobre o peito, me encarando por cima dos óculos...

— Para com isso agora — digo imediatamente, quem escutasse o tom que eu disse isso poderia imaginar que ele estava fazendo algo que me assustava.

— Com o que? — ele realmente não entende como esse olhar nos óculos é tão sexy?

— Nada... Eu te espero lá dentro... — olho para o carro e depois pra ele — de quem é isso?

— Do vizinho, ele vai me emprestar mais tarde — vejo ele coçar sua própria nuca.

— Pra quê? — o meu tom era só um pouquinho ciumento.

— Eu ia buscar a chata da minha namorada pra sair, mas ela fez questão de aparecer do nada com um passarinho amarelo — ele me olha totalmente sem vergonha, escrúpulos ou pena dos meus nervos.

Eu só dei as costas e meti o pé dali pra dentro de casa.

— Senhora Hanma — Chamo ela enquanto tiro os sapatos.

A casa do Hanma é o tipo de casa que nunca seria a casa do Hanma, mas era obviamente uma casa de vó, tons pastéis meio amarelados ou rosados nas paredes, fotos velhas, muitas plantas e remédios em cada móvel.

— Querida, que repentino você aqui — vejo a senhora sorrir quando eu a encontrei na cozinha, estava cortando uma fruta em formato de estrela — O que é isso?

Ela perguntou olhando pra Pimentinha.

— A minha calopsita que o Hanma vai cuidar por uns dias — Sorrio um pouco.

— Que Deus ajude ela — a velhota dá uma risadinha.

— Amém — Murmuro — senhora, eu posso esperar lá no quarto do Hanma?

Eu ficava meio sem jeito olhando para ela fazendo as coisas aqui e eu com uma gaiola sendo chata e olhando a velha vivendo a vida dela.

— Você é a namorada dele, eu acho que pode subir, não é? — Ela dá uma risadinha.

Esses dois tem o dom de me deixar querendo morrer de vergonha. Eu corri lá pra cima.
O quarto do Shuji não foi difícil de achar, mas foi difícil acreditar que era dele.
Todo arrumadinho, lençóis brancos com listras azuis, travesseiro sem mancha de baba, na mesinha de cabeceira tinha a caixinha de óculos, um porta retrato e nele tinha uma paisagem de uma espécie de avenida movimentada, as luzes dos carros faziam riscos no ar, do lado da janela tinha uma escrivaninha e acima uma prateleira com câmeras velhas, cada uma delas tinha um defeito eminente e o principal defeito da última e que parecia mais espremida no espaço era a completa destruição da lente principal.

— O que ele tava fazendo pra quebrar desse jeito? — Murmurei depois de deixar a gaiola e a sacola das coisas de Pimentinha no chão.

Enquanto eu segurava delicadamente aquela pequena sucata fotográfica, vi que tinham albuns de fotografia e materiais de papelaria a rodo bem organizados na mesa, eu fiquei meio curiosa, então botei a máquina no lugar e peguei um álbum pra dar uma olhada, parecia o álbum mais novo de todos da pilha.

Em nada me surpreendeu nas primeiras páginas, eram fotos lindas com anotações normais de data e lugar, mas todas de paisagem, objetos, animais... Nunca pessoas.

Bem, até eu virar lá pra sétima página, era uma foto do Kisaki, não era direta e ele nem estava posando pra ela, era o Tetta com os joelhos juntos do peito sentado em um carpete usando uma roupa super casual, tipo camiseta e calça jeans, muito puto olhando pra frente, ao lado tinha uma anotação com a letra do Hanma "Só pra lembrar do dia que eu ganhei no Mario Kart 04/02/05".

Eu acabei rindo, uma coisa válida de se pontuar sobre esse álbum era que todas as fotos eram envolvidas em uma página inteira de colagem, como uma moldura de papel que seguia o tema da foto, essa do Kisaki bravo tinha carrinhos.

Eu estava prestes a virar mais uma página quando escuto a porta se abrindo, me deu um sustinho, eu estava muito envolvida no álbum!

— Deu pra mexer nas coisas dos outros agora, esquentadinha? — Ouvi a voz do Hanma bem atrás de mim... Era bem menos amigável que o normal.

Eu nunca vou dizer que te amo - Shuji Hanma Onde histórias criam vida. Descubra agora