Despedida.

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Com o tempo eu percebi que tinha algo errado com aquela gyaru, a tal Marin era bem legal, mas ela parecia perdida e meio triste demais mesmo quando conversava com a gente bem animada.

— Abre a real pra gente, garota, o que tá acontecendo? — Perguntei depois de ela pagar refrigerante pra gente.

— Você me sacou né — ela dá uma risadinha, finalmente transparecendo como estava triste.

Os olhos pintados com sombra rosa ao redor e cheios de brilho, rimel que deixava seus cílios enormes e a pele bronzeada, nada disso ocultou o semblante desvivido dela.

— Acho que todo mundo te sacou assim que sentou com a gente — Kisaki diz enquanto mexe o gelo em seu refrigerante. Ela pagou um copo grande para todos nós.

— Foi mal — ela da uma risadinha sem jeito — Os meus amigos me trouxeram aqui sabe... Mas eu acabei me perdendo deles e... Ninguém parece estar me procurando.

Ela saca o celular rosa metálico que tinha um macaquinho de pelúcia rosa  pendurado. Mostrando para nós as zero chamadas que recebeu e também que estava com sinal.

— Que escrotos — Hanma murmura enquanto acende um cigarro.

— Me dá um trago? — Ela perguntou, mesmo estando meio triste e essas coisas, eu senti ciúmes desse pedido. É um beijo indireto no meu namorado!

— Toma um aqui — Ele estende um cigarro só pra ela.

— Valeu — Ela sorri e ele acende — mas enfim... Eu já desconfiava que eles não sentiam lá muito a minha falta.

— Então por que eles ainda eram seus amigos? — o Kisaki parecia meio indignado.

— Eu não tenho mais muita gente querendo minha amizade, sabe — ela enrola uma mecha de seus cabelos bicolores no dedo indicador.

— Melhor sozinha do que com pessoas que te esquecem — parecia uma bronca meio pessoal.

— Mas eles... — Marin começa a chorar, mas parecia estar fazer força para segurar isso.

Kisaki segurou o ombro da garota que continuava tragando o cigarro.
Kisaki falava algo bem baixo para ela, eu não pude ouvir já que Hanma passou o braço ao redor dos meus ombros e me puxou pra si.

— ainda bem que você não dividiu seu cigarro com ela — Digo baixinho. Se eu não ouvia a conversa dela com Kisaki assumi que eles também não ouviam a nossa mesmo que estivéssemos andando numa linha relativamente próxima.

— Não divido nem com você, quem dirá com uma menina que eu não conheço, sua ciumenta — Ela sorri suavemente, jogando o cigarro no chão, pisando em cima logo depois — mas eu gosto disso.

Demos um beijinho rápido e a garota levantou a cabeça finalmente, ainda com lágrimas manchando seu rosto maquiado, porém sorrindo.

— Você tá certo né — ela abraça os ombros de Tetta, dando tapinhas.

— Mão pesada — ele murmura e me faz rir.

Eu parei um pouco para admirar o momento, me sentia tão a vontade com essas pessoas, até com essa menina estranha que a gente acabou de conhecer. O ar só festival era gostoso, o clima de praia era revigorante, mas ao mesmo tempo me deixava triste.

— Eu vou ficar com saudades disso por um mês — Resmungo afundando meu rosto no peito de Hanma, me ancorando no cheiro misturado de perfume masculino forte e cigarro.

— Pelo menos você não vai me deixar pra sempre — Hanma me aperta em um abraço que eu tenho certeza que é impossível ser mais gostoso.

— Se comporta enquanto eu estiver longe, Shuji... — Falo baixinho, mesmo gostando muito do Shuji eu tenho uma certa insegurança.

— Eu não garanto nada — Ele diz no tom de brincadeira usual, mas me deixou com a mesma pulga atrás da orelha.

— Hanma! — apoio meu queixo no peito dele, olhando pra seu rosto enquanto faço uma cara feia.

— Como que eu trairia a confiança dessa carinha linda? — ele segurou meu queixo, sorrindo — e você me quebraria na porrada se descobrisse que eu fiz merda.

Ele ri e me beija carinhosamente, eu consegui relaxar... Mas não por muito tempo. Meu celular começou a tocar logo depois e eu atendi só por ser a Karui.

— Já volto, gatinho —Assopro um beijo pra ele e me afasto para atender — Oi amiga!

Já atendi sorrindo, tudo estava tão bom.

— Finalmente você atendeu, né porra... Karina, você fica se agarrando por aí e nem aparece pra treinar! — O meu sorriso foi morrendo aos poucos.

— Eu... Só tô me despedindo, cara, eu treinei a semana toda — A minha voz era baixa.

— O Hanma tá deixando seu rendimento baixo! Vai acabar perdendo o título por causa desse merda — Ela parecia tão brava que assustava, sorte dela que só tem coragem de falar comigo assim pelo telefone! — Vem treinar comigo, agora.

Ela estava abertamente mandando em mim.

— Não vou porra nenhuma — Grito no telefone — Pra sua informação, eu vou foder com o meu namorado hoje bem gostoso, pode ficar com o tatame todinho pra você.

Eu desliguei meio trêmula de raiva, assim que virei de costas dei de cara com Hanma apoiado em um poste com os braços cruzados.

— Eu não pedi pra me seguir — Cruzo meus braços após guardar o celular.

— Não, mas eu fiquei curioso — ele acende um cigarro, era daqueles de menta, ele só fuma desses perto de mim a bastante tempo — não é como se eu não tivesse gostado do que você tá planejando ai...

— Você ouviu até isso? — Eu senti tanta vergonha.

— Foi a segunda parte que honestamente mais me interessou nessa conversa — Ele dá uma risadinha soltando fumaça entre os dentes levemente amarelados — A que mais me interessou foi de um jeito ruim...

— Do que tá falando? — Reviro meus olhos, pensando que não dava para ele se interessar em alguma coisa além de sei lá... Querer transar comigo.

— Essa sua amiga... — ele passa a mão livre nos cabelos, bagunçando o seu topete — Ela tá te machucando.

— Ela só é bruta assim mesmo, Shuji, ela sempre foi assim — Sorrio um pouco, zero preocupada.

— Não parecia ser antes de a gente namorar... — Ele parecia estar pescando algo que eu não ia gostar de falar.

Pensar em desfazer minha amizade com a Karui era por si só doloroso, então eu simplesmente abracei Hanma.

— Eu não quero falar disso — Murmurei com o rosto grudado na camisa dele.

— Tá bom... Sua... Coisinha — Ele me pega no colo mas eu estapeio ele enquanto faz isso — Tchutchuquinha agressiva.

— Esse apelido só piora! — mas não dava pra conter a risada falando disso.

— Dá pro casalzinho parar de namorar na nossa frente? é horrível de assistir — Kisaki grita do outro lado da rua, onde ele e Marin devoravam um balde de pipoca.

Eu nunca vou dizer que te amo - Shuji Hanma Onde histórias criam vida. Descubra agora