— Caramba, seja lá o que for aquilo, fez um estrago. — Clarissa pegou um braço decepado do chão e ficou acenando para mim com ele.
— Não toca em nada. — Falei, enquanto esperava alguém no departamento atender.
— Ele estava comendo o rosto desse aqui. Ele comeu tudinho, mas tem alguns dentes para identificar.
— Clarissa larga esses dentes aí! Finalmente. — Falei quando atenderam. — Brendan por que ninguém está atendendo o celular?
— Estamos... sem... luz... sinal...
— Merda! — Desliguei a ligação. — Parece que a falta de luz não é apenas aqui na estrada. Alguma coisa afetou os transformadores e o sinal de telefone no departamento está horrível.
— Primeiro me chama de Claire, segundo vamos largar isso aqui, pegamos sua motinha e seguimos nosso caminho, ninguém vai saber.
— Eu vou saber.
— Saber o quê? Viu é fácil, tenta.
— Você pode ficar aqui se quiser, mas eu vou rastrear aquela criatura, seja lá o que for ela pode continuar fazendo vítimas. — Peguei minha arma e deixei minha moto ligada no meio da estrada para sinalizar.
— Boa sorte. — Claire deu tchau.
— Do que está com tanto medo? Você é imortal. — Virei para ela antes de entrar na floresta, eu tinha avistado um rastro de sangue no chão, provavelmente a criatura havia levado um pedaço do corpo com ela.
— Viu, se eu que sou imortal estou com medo, você que é só um bloco de carne deveria estar apavorada e correndo para o outro lado.
— Se outros chegarem aponta em que direção eu fui e o Jhon vai me rastrear.
— Beleza, pode ir lá heroína.
— ... — Comecei a adentrar na floresta.
— EU CONHECI MUITOS HERÓIS E SABE A SEMELHANÇA DELES... — Claire gritava, porque eu já estava longe, mas eu já estava bem distante que não conseguia mais ouvi-la.
Estava escuro e mesmo com uma lanterna quase não dava para ver a frente, estava bastante frio naquela parte da floresta, meus dedos estavam meio duros e eu sentia meu coração bater mais rápido. Meu corpo estava alerta e a qualquer mínimo sinal eu dava uma leve tremidinha. Aos poucos ia tentando controlar minha respiração, eu sabia que era a preza, estava no território dele e ele me observava. Quando o som de um galho quebrar atrás de mim, eu destravei a arma e mirei naquela direção, mas pela visão periférica vi uma sombra escura pular da outra direção, virei o mais rápido que eu pude atirei, meu corpo tocou ao chão e algo pesado caiu em cima de mim.
— A semelhança entre os heróis é que eles estão mortos... Sua idiota! — Claire saiu de cima de mim e depois levantou. — Ah, que droga, eu adorava essa blusa. É uma edição limitada sabia. — Em suas costas estava uma marca de três garras e rapidamente ela ia cicatrizando. — Você ainda atirou em mim. — Ela mostrou o braço. — Eu devia ter deixado ele te comer, garota leviana.
— Você viu o que era?
— Eu encontrei chifres gigantes perto do carro. Parece que é Wendigo, devia estar atravessando a rua e foi acertado pelo carro, viu a chance e comeu todo mundo.
— Não tem Wendigos nessa floresta, eles foram remanejados para o norte e alimentam eles com servos e outros animais.
— Vocês moveram os Wendigos? Seres humanos são absurdamente controladores. Eu nem sei como posso conviver com essa espécie.
— Você já foi um ser humano.
— Eu sei, mas agora eu não sou mais. — Ela levantou as mãos. — O fardo é todo seu.
— Você... — Ouvi um som de algo se movendo na floresta e apontei a arma e a lanterna naquela direção.
— Ahhhh! — Dois adolescentes apareceram, um menino e uma menina. Eles tinham uma garrafa de bebida e uma camisinha.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Perguntei.
— Só estamos querendo fazer xixi e o que nessa garrafa não é álcool pode cheirar. — O menino respondeu.
— Não obrigada. — Claire falou.
— Vocês precisam sair da floresta, ela está interditada no momento.
— Sabe eu sinto falta quando as pessoas não saiam de madrugada com medo de que nós vampiros pudéssemos matá-las, agora vocês andam por aí como se não tivesse nada que pudesse matar vocês.
— Matar a gente? — Ele deu uma risadinha.
— Vampiros são legais, meu carteiro é vampiro. — A menina falou.
— Meu vizinho é um vampiro e ele sempre me dá doces. — O menino respondeu a ela.
— Talvez ele esteja fazendo isso para te matar de diabetes, porque vampiros são maus. Olha as minhas presas, tão vendo elas? Elas matam pessoas.
— Chega disso, ela não vai machucar vocês. Eu preciso que vocês saiam da floresta seguindo aquele caminho. Pelo que sabemos o Wendigo estava indo naquela direção e nós vamos caçá-lo.
— Aquela direção? — O garoto falou assustado.
— Sim.
— Está rolando uma festa no meio da floresta, perto da carne dos amantes.
— Quantas pessoas? — Perguntei.
— Não sei, umas vinte ou trinta pessoas.
— Ele não pode chegar lá antes de nós. — Falei com Claire. — Vão para fora da floresta e tentem ligar para polícia. Avisem que vocês encontraram a sargento Torres do departamento 333 e informem que tem um Wendigo aqui, eles vão mandar ajuda.
— Tudo bem. — Eles estavam tremendo.
— 333? Meio besta? — Claire me pegou no colo.
— Cala a boca e anda logo.
Estar nos braços dela enquanto ela corria em alta velocidade pela floresta era quase como estar dentro de um carro com todas as janelas abertas e o vento gelado batendo no seu rosto, eu precisava fechar os olhos porque aquilo incomodava. Quando ouvimos gritos Claire parou e parecia estar tentando escutar de onde estava vindo os sons.
— É par lá. — Apontei.
Chegamos e ela me colocou no chão, o Wendigo, agora revelado pela luz da fogueira, estava com um braço pendurado na boca e andando atrás de outro jovem que estava se rastejando para tentar fugir, mas estava com a perna machucada.
— EI! — Claire chamou pela criatura. — Chifrudo, estamos aqui. Que tal esse buffet maravilhoso. — Ela puxou um pouco minha jaqueta para mostrar meu ombro. — Carne de primeira, alcatra dos seres humanos. — Claire com a unha fez um pequeno corte na região que começou a sangrar.
— Ai! O que você está fazendo?
— Salvando o moleque e torcendo para o braço que está na boca dele não seja de outro moleque. Caramba seu sangue tem um cheiro muito forte. — Claire falou e logo em seguida colocou a mão no nariz. — Parece que você ganhou atenção dele. Atira nele!
Dei um tiro e a criatura só foi para trás, eu havia esquecido que para Wendigos precisamos de uma arma especial, já que sua pele é bem dura e pistolas não perfuram.
— Atira de novo! — Claire falou nervosa.
— Não vai funcionar.
— Então começa a correr porque eu vou tentar segurar ele.
A criatura correu na minha direção e Claire entrou na frente, mas um monstro de dois metros e meio e uma vampira de um metro e sessenta, parecia que era até uma luta desleal, os dois estavam rolando pelo chão, foi a última coisa que eu vi enquanto tentava ajudar o rapaz a levantar.
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Delicia de matar (Protagonistas Lésbicas)
FantasyEm um mundo onde vampiros, lobisomens, fadas e todo tipo de criatura podem viver em sociedade com os humanos, a lei é necessária para que o possa existir um bom convívio entre as espécies. Sendo assim Clarissa, uma vampira condenada por assassinato...