Delicia de matar (Protagonistas Lésbicas)

Capítulo Quatorze

— Então já terminou de limpar sua sujeira, gênio? — Tinha ido prender o Bob porque quando a marca surgiu ele ficou muito agitado até quase se transformando, provavelmente aquilo tinha uma energia muito forte.

— Sim. — Claire se jogou no sofá como se estivesse cansada. — Mas as letras sumiram cerca de uns 2 minutos depois e eu tive que limpar tudo de novo.

— Então temos que derrubar mais sangue para que as letras voltem a aparecer. — Constatei. Peguei o cartão e fui para a cozinha, peguei um sangue artificial de Claire e despejei no cartão, só que dessa vez na pia. Ela estava atrás de mim atenta

— A verdade pode nos custar caro, mas seguir falsos princípios custam ainda mais. — Li o que estava escrito no cartão e num passe mágica o sangue que formava as palavras escorreram.

— É... foi o que pensei. — Claire pegou uma faca e cortou seu pulso, derramando o sangue diretamente no cartão.

— Ai que nojo. — Falei quando senti o sangue gelado tocar na minha mão.

— Quando você bebeu enquanto transávamos você não falou isso, né?

— Foi uma gotinha. — Me defendi. — Aos céus pedimos por perdão na primeira badalada inaudível do dia. — Li em voz alta o que estava no cartão.

— Vira o cartão. — Assim eu fiz. — Seguidores da luz. — Claire falou quando olhou o cartão.

— Seguidores da luz?

— No vampírico também temos nossas crenças. Há muitos tipos de seitas, seguidores da luz surgiram mil anos após o sono de Caim. Eles veneram aquilo que não podem tocar, para se tornar um seguidor você precisa ficar por dois minutos inteiros no sol sem morrer, isso é loucura. O auge das crenças deles foi com os maias, depois sumiram por muito tempo, mas parece que não para sempre.

— Você conhece os... seguidores de Lilith? — Perguntei hesitante. Na verdade eu não sabia porque estava hesitante.

— Bom, sim. Todos conhecem. — Ela prontamente respondeu. — Caim foi o primeiro de nós após ser amaldiçoado por Deus, ele se alimentava do sangue de animais, até que um dia ele encontrou uma mulher na floresta e bebeu de seu sangue, até a última gota, cometendo novamente o pecado da morte. O que Caim não esperava era que Lilith acordaria na noite seguinte, se tornando uma de sua espécie.

— Então Caim e Abel existiram?

— Sim, mas óbvio que ele não era o primeiro a se tornar um vampiro, Matusalém foi o primeiro e Lilith é descendente dele. Matusalém podia caminhar durante o dia, então Lilith herdou esse poder dele. A verdade é que a maldição de Caim foi nunca mais poder ver o sol e viver eternamente como um animal.

— Então adeus existe?

— Olha essa é a história, eu não sei se ele existe ou não. — Claire deu uma risadinha.

— Mas então todos que não andam durante o dia são descendentes de Caim?

— Lilith assim que voltou a ter consciência e deixou o estado animalesco de apenas consumir, ela tratou de relatar os acontecimentos e buscar sua árvore genealógica, em paralelo ela tentava trazer humanidade a Caim. Em estado animalesco Caim gerou sete filhos, os quais Lilith criou e os doutrinou. Se você comer tudo que encontra pela frente sua comida acaba mais rápido e é preciso esperar que os humanos se reproduzam. Sem contar que no caso deles, eles eram indefesos durante o dia, então precisavam ter cuidado para não atraírem atenção.

— E Caim?

— Caim tomou consciência pouco depois e concordava com Lilith. Também proibiu seus filhos de procriarem, porque isso poderia implicar no fato deles perderem o controle. — Claire falou. — Lilith logo se tornou líder, ela tinha regras claras, mas perdoou seu filho mais novo por ter gerado uma prole. O filho mais velho não entendia porque o mais novo podia quebrar uma regra e não ser morto, ele e Caim no fim ficaram contra Lilith, eles queriam beber todo o sangue que pudessem sem consequências, a fera dentro deles estava falando mais alto. Numa armadilha prenderam Lilith numa caverna escura para que ela nunca encontrasse o caminho de volta.

— Coitada.

— Sim. Ela só queria o melhor para eles. Quando ela voltou, Caim havia enlouquecido e matou seis dos sete filhos. Restando apenas dois filhos, o mais novo e sua prole, que estavam em busca de Lilith.

— Mas como existem tantos vampiros?

— Lilith ficou presa por vinte anos, tempo suficiente para seus filhos e o próprio Caim terem gerado muitas outras proles ao redor do mundo. — Claire estava sentada no sofá pensativa. — Lilith e seu filho mais novo começaram a procurar esses vampiros para tentar conter seus instintos, mas nem todos entendiam.

— Você é uma seguidora de Lilith?

— Não, mas eu concordo com o fato de que não podemos matar as crias ou as fêmeas grávidas.

— Eu... conhecia essa regra dela.

— Você já conheceu um seguidor de Lilith? Dizem que eles são muito sérios e sem graça. Por isso eu jamais poderia seguir com eles.

— Uma das seguidoras de Lilith matou meus irmãos adotivos é quase me matou. — Claire tomou postura e ficou com um semblante bem sério. — Eu sofria abuso na casa adotiva, era horrível e eu encontrei essa mulher no parque, ela nos levou para comer lanches e foi tudo tão rápido, eu lembro apenas dos meus irmãos mortos no chão e de sentir muita dor.

— Ela fugiu?

— Não, outra vampira apareceu e era como chefe dela, disse que iria puni-la. Ela falou algo sobre os seguidores de Lilith e que ela havia matado a última descendente de Lilith.

— Impossível. — Claire começou a rir. — Os herdeiros de Caim mataram todos os descendentes de Lilith.

— Por que eles fizeram isso?

— Lilith tinha um plano de contenção da espécie. Durante a noite ela tentava conter o espírito animalesco dos vampiros e durante o dia, ela se unia aos humanos para matar e caçar aqueles que não queriam seguir as regras. Biologicamente, Lilith é a sua evolução, o ser humano perfeito, ela podia se alimentar normalmente como humana, assim como uma vampira, beber sangue prolongava sua vida. Ela podia ter filhos e andar no sol e aqueles que bebiam seu sangue temporariamente também podiam.

— Quantos filhos ela teve?

— Cinco, dois morreram ao nascer.

— Como você sabe tudo isso? — Perguntei intrigada.

— Bom, lembra quando eu falei que me largaram sozinha depois que me transformaram? — Concordei. — Os seguidores de Lilith me ajudaram, me ensinaram os princípios e como caçar propriamente. Só que quando as coisas começaram a ficar obscuras demais, eu pulei fora e essa é a minha história.

— Você conhece Lilith?

— Ah eu não sei, eu não tenho muitas memórias sobre isso. Eu acho que a vi uma vez sentada numa cadeira, mas tinha muita gente. Parecia um show, todo mundo querendo chegar perto e eu sou cansada demais para essas coisas. — Ela riu.

— E Lilith morreu?

— Bom, dizem que ela ficou doente e que beber sangue já não estava mais lhe dando vida eterna, então ela decidiu parar e seguir o fluxo da vida. Sendo sincera, acho que ela estava certa.

— Você também pensa em sabe... morrer? — Falar aquilo era desconfortável.

— Sim, eu penso.