"Você está quebrada ao chão
E você está chorando, chorando"
— Broken, Isak DanielsonHadara Earonwood — 15 anos de idade
— Marrie, querida — chamei ao entrar no quarto, fechando a porta rapidamente atrás de mim — Marrie?
Minha gatinha pulou na cama, miando e inclinando adoravelmente a cabecinha para o lado ao me ver. Eu me aproximei e a peguei, colocando-a no chão perto de sua tigela, então despejei todo o leite do copo que eu havia conseguido pegar na cozinha. Marrie imediatamente começou a beber e meus olhos arderam, meu coração doendo por ela ter que passar por isso.
Maya havia encontrado um modo muito eficiente de me fazer obedecer. Papai me deu a Marrie de presente de aniversário e minha bebezinha estava comigo apenas a três dias e eu não tinha conseguido alimentá-la direito, porque toda vez que eu fazia ou agia de um jeito diferente ou sequer pensava em contradizer minha dama de companhia, ela não só tirava meu jantar ou meu almoço, como também tirou a ração de Marrie.
Ela me dava pão e água, dizia que me faria pensar melhor da próxima vez que tentasse desobedecê-la. Então eu vinha dividindo minha comida com Marrie e hoje, eu consegui pegar um copo generoso de leite com uma das criadas da cozinha.
E quando eu não estava sentenciada a pão e água, Maya quem escolhia o que eu comeria. Era sempre uma coisa estranha que eu nunca tinha ouvido falar, ela dizia que uma princesa tinha o paladar refinado. Resumindo, eu nunca comia o que eu queria, mas sim o que ela achava que eu deveria comer.
Eu nem sequer sabia do que eu gostava de comer, meu Deus.
Sentei no chão encostada na cama, perto de Marrie e abracei meus joelhos contra o peito, sentindo as lágrimas se acumularem e deslizarem pelas minhas bochechas.
Eu nem sequer sabia quem eu era.
Sabia quem ela queria que eu fosse.
E não podia fazer nada para escapar. Não podia opinar. Não podia dizer nada a menos que ela deixasse. Não podia contar ao papai. Não podia arriscar colocá-lo na mira dela. Ela já me avisou. Ela já descreveu o que faria se eu dissesse uma palavra e papai era uma das únicas coisas boas na minha vida e eu jamais o colocaria em perigo por minha causa.
Eu posso suportar isso. Eu posso passar por isso. Posso aguentar.
***
— Olha a postura, garota — gritou Maya e eu enrijeci, tentando me manter o mais reta possível.
Continuei andando em linha reta com aqueles sapatos altos horríveis. Estávamos fazendo isso a mais de uma hora e minhas pernas estavam doendo, mas eu não reclamei ou disse uma palavra, mantendo-me calada e submissa. Não podia arriscar deixar Marrie sem comida ou perder outro jantar.
Maya continuou me analisando, seus olhar reprovador percorrendo-me de cima a baixo, tentando encontrar um erro. Respirei fundo e mantive a cabeça erguida como ela me ensinou. Maya dizia que uma princesa nunca deve andar de cabeça baixa, que nunca deveria se igualar aos plebeus.
Eu odiava a forma como ela falava das pessoas que eram meu povo.
Eu odiava a forma como ela achava que podia me controlar.
Eu odiava o fato de me sentir sempre impotente.
Eu odiava deixá-la controlar cada respiração minha.
Eu odiava me sentir como uma marionete.
Eu odiava estremecer cada vez que ela gritava comigo.
Eu odiava não saber quem eu sou, por causa dela.
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Broken Hearts Fit Together (Duologia Broken Hearts, Livro 02)
RomanceEra uma vez, uma princesa que foi quebrada, forjada e moldada ao bel prazer pela última pessoa na face da terra que deveria ousar pensar em tais atitudes inimaginavéis contra ela. Mas aconteceu e a garota que desde o 5 anos vem sendo escrava em seu...