"Não quero perder o controle
Não posso fazer mais nada
Tentando todos os dias quando prendo minha respiração
Girando no espaço, pressionando meu peito"
— Control, Zoe WeesHadara Earonwood — dia que o Gael chegou ao reino
Olhei mais uma vez para a mulher que me encarava no reflexo e me perguntei como era possível olhar para seu próprio reflexo e ver uma estranha? Alguém que você não faz a menor ideia de quem é?
Era exatamente assim que eu me sentia.
Desde que recebemos a carta do rei Nolan de Raen, Maya não havia me permitido sair do meu quarto. As cortinas foram puxadas e eu não tinha permissão para abri-las. Isso foi há três dias. Ela disse que era para eu me focar. Para pensar no que realmente importava.
O momento para o qual ela me preparou toda a minha vida. O motivo pelo qual ela me moldou, quebrou e brincou ao seu bel prazer desde que entrou na minha vida. Não houve um só segundo na minha existência que não odiei a pessoa na qual ela tinha me tornado ou que eu não vomitasse a cada vez que voltava para o meu quarto depois de passar uma simples tarde do chá com Maya na qual eu deveria demonstrar exatamente o que ela queria ver. O que eu aprendi. Na pessoa que ela me transformou.
Uma verdadeira megera.
Uma mulher desprezível.
Uma mulher que todos odiavam.
Uma mulher da qual as criadas e guardas falavam e cochichavam.
Uma mulher que o maldito reino inteiro conhecia por ser o pior ser humano que já pisou nessa terra.
Às vezes eu escutava comentários sobre eu ser um filhote de bruxa perdida que Maya encontrou na floresta. Já ouvi até mesmo que posso ter sido cuspida de algum monstro.
Diziam que minha mãe, a rainha Catarina, era um anjo. Uma pessoa tão boa que os pássaros vinham pousar em sua varanda apenas para poder pegar um pouco de seu brilho, da beleza que seu sorriso e sua gentileza irradiavam.
E então, eu nasci.
E ela morreu.
E fui intitulada anos depois por maldição.
Que eu fui a maldição que matou minha mãe.
E Maya cumpriu exatamente suas expectativas. Porque dia após dia, ela tirava mais um pedaço de mim, ela me fazia maltratar pessoas inocentes, ela fez com que todos me odiassem. E eu sequer podia fraquejar, sabia muito bem o que acontecia depois.
E eu nem podia culpá-los. Quem poderia? Eu definitivamente era tudo que eles diziam. Ou pelo menos era essa a pessoa em que ela queria que eu fosse. A pessoa a qual ela moldou, quebrou, aniquilou e tornou-me.
Olhei para minha janela aberta, para os últimos raios de sol do dia e senti meu peito doer. Às vezes ser privada de luz era a menor das minhas preocupações. Mas eu ainda me importava o suficiente para ela continuar me privando dela. Ela dizia que tirar aquilo que eu gostava me faria valorizar mais. E de certa forma, ela tinha razão.
— Sente-se, Hadara — A voz dela me atingiu e desviei rapidamente o olhar da janela, voltando meu olhar para meus próprios pés ao me sentar no banquinho da penteadeira — Vire-se para mim — ela exigiu.
Eu me virei.
Ela segurou minha cabeça e ergueu meu queixo, expondo meu rosto, avaliando-me.
— Precisa de mais cor nesses lábios — resmungou, fazendo uma careta e esticou a mão para o pincel e o pequeno pote com a cor vermelha viva. Então, começou a aplicar uma segunda camada em minha boca e tive que desviar o olhar e conter um suspiro, porque meu estômago já estava começando a se rebelar.
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Broken Hearts Fit Together (Duologia Broken Hearts, Livro 02)
RomanceEra uma vez, uma princesa que foi quebrada, forjada e moldada ao bel prazer pela última pessoa na face da terra que deveria ousar pensar em tais atitudes inimaginavéis contra ela. Mas aconteceu e a garota que desde o 5 anos vem sendo escrava em seu...