Estrela Desmond | Qin Shi Huang (concluída)

6.Os lábios da deusa

Chegava a ser incômodo para Meilin te ver ao lado de Qin enquanto ela estava tão afastada, mas aceitava os termos, afinal estava no palácio do rei e para você pouco importa. Veja bem, é apenas um protocolo com o qual não convivia e Qin também não se liga, pelo menos não agora. O Huang entendia que como Imperador tinha deveres com sua população e garantir uma longa e duradoura linhagem fazia parte dessa mera tradição, os casamentos em sua época nunca foram por amor e sim por união de interesses onde se garantiria impérios mais fortes e linhagens extremamente poderosas, mas para ele, não há um reino sequer que seja minimamente interessante ao ponto de casar-se por obrigação. Bem, o homem conquistou tudo, unificou a China que se dividia em diversos reinos menores sobre suas mãos, o que mais faltava conquistar? Seria mesmo necessário a existência de uma noiva?

Enquanto Huang se questionava, você conversava com Chun Yan a respeito da comida e sinceramente não foi ao reino dele com a intenção de tornar-se em vias de fato "sua mulher", primeiro, é uma deusa que pouco compreende a verdadeira natureza humana e segundo, ficou presa por séculos e estar ali tão cheia de escolhas sentia-se livre de verdade.

-- O que vocês deuses comem? -- Chun Yan perguntou ao te observar rejeitar toda e qualquer carne que viesse de frutos do mar.

-- Eu moro no palácio do Imperador dos mares, não posso comer um peixe, eu nado com eles. -- Comentou sem se importar. -- Mas não se preocupe com isso, podem degustar a vontade. Sei que nossos costumes são diferentes.

-- Então não ingere carne?

-- Não a de seres do mar, por exemplo, eu costumo comer Moussaka, são camadas de carne moída de cordeiro alternadas com camadas de berinjela. Por cima, uma generosa cobertura de molho béchamel.
Uma vez comi um pouco de carne vermelha de outro animal, mas foi só fazer um visita ao reino de Shiva que não consegui mais. -- Você sorriu.

-- Então não come carne alguma? -- Meilin perguntou confusa.

-- As vezes um pouco de Moussaka, ou outros quando sinto-me tentada a provar, mas peixe, baleia, tubarão, lula, polvo entre outros seres do mar não.

-- E esse costume foi adquirido por você? -- No mesmo momento entendeu que a pergunta se devia ao fato de seus irmãos controladores.

-- Sim, para Poseidon o ciclo não deve ser mudado, na verdade nada deve ser alterado e isso incluí a cadeia alimentar, entretanto, não consigo comer. Quer dizer, imagina comer carne de baleia e nadar com ela no dia seguinte e descobrir que comi um pedaço da mãe de alguém. Não me parece justo.

-- Interessante... -- Qin comentou. -- Pensei que pudesse optar por não comer.

-- E eu posso, mas depois de provar a comida é impossível deixar de lado a vontade. -- Sorriu amavelmente, sendo tão simples que chegava a deixar Chun Yan satisfeita, visto que a visão que tinha dos deuses era da mais pura soberba.

O restante do jantar foi feito entre conversas triviais e você gostou de cada conto que lhe foi dito. No fim ambos saíram em direção ao castelo enquanto os empregados tiravam a mesa.

-- Vamos nos recolher. -- Chun Yan afirmou e Meilin concordou esperando que você fosse junto, mas Qin se aproximou oferecendo o braço para você que aceitou sem pensar dias vezes e em um silêncio confortável andaram pelo jardim até chegar no mesmo lago ao qual ele te apresentou no passeio anterior.

-- Já viemos aqui antes belo rei, o que me leva a crer que tem algo a falar sem que outros possam escutar. -- Você se desvencilhou se aproximando das águas e pode ver o quão límpida é.

-- Não pense que estou escondendo algo Sn. -- Ele te observou sentar a margem passando os dedos pela água.

-- Então vá direto ao ponto Qin. -- Por um instante ele sentiu o rosto aquecer enquanto te olhava, principalmente ao dizer o nome dele tão suavemente. O rei tirou a venda e ofereceu a mão para que levantasse e você o fez. Nunca perderia uma chance de olhar naqueles belos e intensos olhos.