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Faltava duas horas para que tudo começasse, mas ele já estava preparado.
Com o gilete em uma mão e o seu maxilar em outra, diante do espelho, Miguel terminava de se barbear.
Ele não gostava da sua barba grande, se sentia como um homem desleixado com ela e ao só pensar nessa palavra, Miguel franzia própria testa. Desleixado claramente não era uma palavra que estivesse em seus adjetivos.
Após passar mais uma vez o gilete em seu rosto, para que os resíduos dos fios saíssem de uma vez dela, Miguel faz o gilete dar uma leve batidinha na pia.
Preparado, calculista, minucioso... eram as palavras perfeitas para descreve-lo. Se você quer uma belíssima prova do que eu te digo, era você apenas olhar para o reflexo do espelho daquele banheiro. Ver os porta-retratos espalhados pela parede branca.
Daquele homem, já não havia mais nenhuma foto pela casa. Miguel fizera isso com a desculpa de evitar essa sua própria comparação com o morto.
― Está terminando, querido? ― Sua voz, vinha do andar de baixo da casa. ― Preciso de ajuda para por os balões no teto.
― Estou indo.
As vezes, ele se perguntava sobre as probabilidades do que poderia ter acontecido. Como e se eu tivesse tentado de uma maneira diferente? Após ela saber a morte daquele cara, Miguel aparecesse como alguém muito parecido ao marido falecido dela e tentasse conquista-la.
Ou então, se aquele Miguel voltasse, o que faria?
Ver aquele homem na qual não valorizou nada do que tinha, pegar tudo o que ele havia construído nesses três anos. Inadmissível.
