Capítulo 8

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Eu escrevia freneticamente em meu caderno de bolso. Tentava vez ou outra segurar uma folha que teimava em cair. Meu pequeno companheiro já estava velho e em frangalhos, mas era ali que eu organizava todos os meus pensamentos. Ou pelo menos tentava. A meu pedido. Troy enviara cópias das investigações anteriores para o apartamento de Camila. Li e reli cada página. Nada fazia sentido. Analisei os bilhetes pela centésima vez. Apesar de serem para a mesma pessoa e deixados sempre perto dos corpos, as caligrafias eram diferentes, o que dificultava o trabalho do grafologo contratado por Troy. O nosso objetivo era pegar o máximo de recados escritos à mão enviados para Camila e entregá-los ao profissional, que faria o reconhecimento das letras. Mas o plano não deu certo justamente pelas diferenças entre eles. Pensei em chamá-la para mais um interrogatório, mas seria o terceiro em uma única semana. E provavelmente terminaria como os anteriores: nenhuma informação diferente, nenhuma pista. Só um imenso vazio na minha cabeça e um sentimento chato no coração dela.

O quarto reformado tinha se tornado meu canto preferido, e era ali que eu passava grande parte do dia. Acompanhava todas as noticias sobre Camila pela internet, analisava cada foto, Nada parecia errado. Até mesmo a tal fã, Keana, havia sumido. Provelmente estava ocupada com a escola, faculdade ou qualquer coisa que ela fizesse da vida. Até mesmo planejando um próximo ataque, quem sabe? Nada me tirava da cabeça que aquela menina queria me ver morta,

Eu passava grande parte do dia sozinha também. Camila estava fazendo os famosos laboratórios. Segundo ela, era uma espécie de preparação para o personagem que ela interpretaria e era sua única chance de ver a cidade de um angulo que não fosse o das janelas de seu apartamento. Saia de casa logo cedo, cercada por oito seguranças, enquanto eu ainda dormia, e raramente voltava para o jantar. Sempre chegava depois, quando eu estava dormindo ou no Quarto Colorido, como ela apelidara meu es critório particular. De certa forma, isso passou a me incomodar. Era legal ter companhia para jantar, alguma coisa nova para ouvir. Apesar de ter passado tanto tempo sozinha em meu antigo apartamento, tinha sido facil me acostumar com o falatório de Camila durante a refeição. Ela realmente não conseguia calar a boca. Pela diferença de horários, todos os assuntos estavam sendo tratados, basicamente, por bilhetes. Eu escrevia, jogava por debaixo da porta do quarto dela, que lia, respondia e devolvia da mesma forma. No dia seguinte, quando eu acordava, là estava o papel com a caligrafia perfeita dela.

Uma batida na porta tirou minha atenção do caderno Camila não estava em casa, os empregados estavam de folga. Catelosamente, espiei pelo olho mágico que tinha mandado instalar. Nunca se sabe quando um bandido vai estar ali, esperando voce abrir, certo? Meu coração deu um pulo ao ver quem era.

- Fugiu do laboratório? - perguntei tentando esconder a pequena onda de felicidade que me invadia. Camila estava em casa, o que significava companhia para o jantar.

Ela encolheu os ombros e sorriu.

- Hoje eram as cenas de luta. Já estou acostumada com elas, então pedi dispensa.

Foi a minha vez de sorrir. Puxei-a para dentro do quarto e fechei a porta.

- Bom, até que o seu senso de decoração não é tão ruim assim - brincou ela, ao olhar melhor o ambiente. Era um pouco mais alegre do que ela estava acostumada, é verdade, mas até que a reforma tinha rendido um bom resultado.

Revirei os olhos, e Camila riu.

- É bem mais legal do que o resto do seu apartamento monocromático, tá? - respondi e fiz uma careta. - Tem mais vida, pelo menos. E a maior parede é azul, minha cor favorita.

Ela percorreu os olhos por todo o cômodo. Andou aqui, fucou ali. Sorriu ao ver fotos suas em alguns porta-retratos, ao lado da foto de meus pais, que eu tinha colado com fita adesiva. Minhas bochechas coraram. Só achei que era justo, já que o apartamento era dela, Camila apertou o play no meu iPod sem ver a música que tocaria. Ed Sheeran soltou a voz e cantou "Lego House" só para nós.

TO MY IDOL, with loveOnde histórias criam vida. Descubra agora