Capítulo 10

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Meu apartamento tinha sido todo reformado. Notei isso manhã seguinte, quando voltei para lá de mala e cuia. Não perguntei quem se responsabilizou pelas contas, mas acredito que Troy tenha usado a verba disponibilizada pelo governo. Era a única explicação para todas as mudanças que tinha sido feitas. Tecnicamente, eram as mesmas que eu tinha planejado no quarto da cobertura de Camila. Senti meu estômago revirar ao me lembrar da bagunça e dos resmungos dela.

Léo parecia bastante satisfeito por estar em casa, embora o seu conceito de "lar, doce lar" tenha mudado bastante com as mordomias que tinha em nossa residencia de luxo temporária. Ele farejou aqui, olhou ali. Fiscalizou cada canto do apartamento e só se deu por vencido quando encontrou sua almofada velha, parecendo bem satisfeito por ninguém ter tido a ideia de manda-la para a lavanderia. Sendo assim, seu cheiro ainda estava lá, e ela estava a salvo.

Arrastei minhas malas até o meu quarto. O armário não estava mais marcado pelos tiros, e meu esconderijo secreto tinha sido, digamos assim, melhorado. Troy mandara instalar um cofre de última geração para que minhas armas ficassem em segurança. A campainha tocou, e eu resmunguei. Quem era o infeliz que ousava me atormentar?

Bem-vinda ao lar! - disse Lucy assim que me viu. Ofereceu-me um buquê de flores coloridas e abriu o maior sorriso que eu já tinha visto em seu rosto.

- Meu soco não foi o suficiente? - perguntei, respirando fundo várias vezes.

- Troy quer que você exercite seu lado humano, esqueceu? Seja boazinha e não use de violência.

Esbocei um sorriso debochado.

- Claro - respondi. - Tinha me esquecido, sim. Obrigada por me lembrar. Só espero que isso não se enquadre na lista de coisas não humanas de Troy.

E fechei a porta. Assim mesmo, na cara de Lucy. Ela protestou por um bom tempo, mas nada me fez mudar de ideia. Encostei na madeira, tapei os ouvidos e comecei a cantarolar uma música qualquer. Só parei quando percebi que era a canção que Camila tinha dito que fazia com que ela se lembrasse de mim. Suspire.

- Saia da frente, Lucy! - ouvi uma voz conhecida do outro lado e encostei a orelha na porta. - Lauren? Sou eu, Allyson! Precisamos conversar!

Abri na mesma hora. Puxei-a para dentro, oportunidade perfeita para Lucy passar correndo. Revirei os olhos. Ela seria devidamente ignorada, e eu esperava que minha expressão deixasse isso bem claro. Acompanhei Allyson até a sala. Ela colocou o laptop em cima da mesa e apontou para a tela.

- As pessoas te reconhecem, não importa onde e quando. Abaixei-me para ver o conteúdo. Uma foto minha entrando em meu prédio, tirada há mais ou menos meia hora. Lucy apareceu do meu lado e me abraçou.

- Já recebi ligações de jornalistas perguntando se vocês terminaram - ela continuou. - E querendo saber o que você estava fazendo neste prédio, a essa hora e com tantas malas. O que eu faço agora?

- Diga que terminaram, oras! - respondeu Lucy. - É a verdade, afinal.

Ela me lançou um olhar intimidador. Minhas mãos coçaram e comecei a contar mentalmente. Pelo menos, se eu partisse para cima da policial, eu poderia dizer que havia tentado me controlar, mas não consegui. E se eu alegasse que estava na TPM, não seria presa. Afinal, uma mulher nessa época pode ser o bicho mais perigoso do mundo, ainda mais se for provocada por uma idiota, como tinha sido o meu caso.

- Preciso checar com o Troy antes - falei abaixando a tela do laptop - Mas acho que pode dizer que terminamos. Afinal, eu não vou mais me envolver na história, não faz sentido eu continuar a ser namorada de Camila.

Ela não respondeu. Nós nos conheciamos por tempo o suficiente para Allyson saber que eu não estava nada feliz com o rumo que as coisas estavam tomando. Como se não bastasse eu sair da cobertura, ainda tinha sido afastada de um caso que era meu desde o começo. Tantas noites de sono perdidas, tantos litros de café que bebi para manter os olhos abertos. Tanto esforço e carinho por um caso especialmente dificil, e quem vai levar o Oscar no final é uma atriz coadjuvante. Não eu, a protagonista, que interpretou essa merda toda desde o início.

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