Capítulo 9

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Já era mais de três da manhã quando Camila e eu resolvemos dar uma pausa na conversa e fazer um lanche, Johnny Cash cantava no rádio da cozinha, fazendo com que suas melodias alegres praticamente nos obrigassem a dançar. Inventamos coreografias idiotas, rimos e devoramos o resto de pizza que tinha sobrado do jantar. Léo apareceu como se não quisesse nada e, pela primeira vez em meses, abanou o rabo quando Camila lhe lançou um generoso e crocante pedaço da massa.

- Ha! - disse ela. - Sabia que ele se renderia. Ninguém resiste ao charme da garota aqui!

Revirei os olhos. Eu devia mesmo tê-la mandado para a terapeuta da corporação. Ela tinha sérios problemas mentais! Coloquei meu prato e meu copo na pia e chamei Léo. Bati em meus ombros e ele ficou em pé colocando uma pata dianteira de cada lado de meu rosto e, de um jeito desengonçado, começamos a dançar. Camila ria e tirava o sarro do pobre animal, que apenas o ignorava. No final do primeiro refrão de "Man in Black", ela apelou e deu o resto de sua pizza para o cachorro.

- O Léo vai ficar obeso e vou te obrigar a correr 10 km todas as manhas com ele! - resmunguei.

- Nem ligo. Contanto que eu possa dançar com a dona dele todas as noites, corro até uma maratona por dia.

- Vou me lembrar disso quando ele estiver acima do peso - dei uma piscadela e fui girada por uma atriz que quebrava um ótimo galho como dançarina.

Quando a música acabou, decidimos subir e dormir. Ameacei me despedir e ir para o meu quarto, mas Camila me segurou pela mão.

- Não - sussurrou. Tivemos uma noite tão legal. Fica aqui comigo. A cama é grande, cabem as duas. Se bem que, com o tanto de pizza que você comeu, acho que vai ficar meio apertada. Dei um tapa em seu braço, e ela riu. Eu devia confessar que tinha adorado passar aquele tempo todo com ela, da hora em que Camila tinha chegado em casa até aquele momento. Olhei para baixo, Minha mão parecia ter sido feita para caber dentro da dela. O formato, o tamanho, tudo se encaixava com uma perfeição tão grande que parecia surreal. Ela me puxava lentamente para dentro de seu quarto. Como se fosse a coisa mais certa a fazer, fui com ela. Não tinha reparado que a porta que dava para a sua varanda particular estava aberta. Só percebi quando o vento entrou e bagunçou o que tinha sobrado do meu coque, fazendo meu cabelo cair sobre meus ombros como uma cascata. Ela sorriu. Tirou uma mecha de meu rosto e colocou atrás de minha orelha. Nossos olhos se encontraram, e eu senti um formigamento estranho, além de uma imensa vontade de me aproximar ainda mais de Camila.

- Acho que eu nunca te disse isso, mas adoro seus olhos. O formato deles, o verde vivo que eles carregam. Nunca vi algo tão lindo disse ela, suas bochechas corando e um sorriso tímido brotando entre seus lábios.

Eu nunca te disse nada sobre seus olhos - respondi, divertida - e nem vou dizer. Se eu bem te conheço, vai se achar a melhor do mundo, além de me atormentar eternamente com qualquer elogio que eu possa fazer.

Camila riu.

- Eu sei que você gosta deles. - Ah, é? Sabe como?

Passei meus braços por sua nuca e senti que ela me abraçava: pela cintura. Era idiota a forma como tentávamos nos manter ocupadas com qualquer conversa, só para evitar o que já tinhamos total certeza de que iria acontecer.

- Pela maneira com que você olha para eles, como nunca pisca quando eles encontram os meus. E como você sempre fica corada quando percebe que eles não estão prestando atenção em mais nada, só em você.

Xinguei-a em voz baixa por ter dito de forma tão simples o que eu, sem me dar conta, estava sentindo. Ela deu uma última risada antes de colar os lábios nos meus, num beijo doce e urgente. Nossas linguas lutavam como na vez em que simulamos uma festa para que Allyson pudesse nos fotografar. Mas, naquela hora, não era uma disputa para ver quem beijava melhor, e sim uma necessidade que vinha sendo abafada e posta de lado há mais tempo do que deveria.

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