Capítulo 14: Cinema.

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Felipe me lançou um olhar demorado, parecendo não saber o que dizer, da mesma forma que eu. Engoli muito lentamente, sentindo meus sentimentos absolutamente confusos naquele momento, enquanto eu deixava a colher sobre a pia e saia da cozinha. Fiquei feliz por Felipe não me chamar ou tentar me parar. Eu não era uma pessoa de fugir de nada. Mas haviam coisas que mexiam comigo e me deixavam perdida.

A última pessoa com quem senti uma conexão verdadeira, que eu jurava ser um completo sonho, acabou se tornando um pesadelo depois de alguns meses. Sinto uma conexão com Felipe também, desde o momento que entramos naquele banheiro. A faísca que se acende toda vez que nossos olhos se encontram. O quanto o beijo foi simplesmente único. Além de eu me perder no tempo sempre que estávamos conversando.

—Que cara é essa? —Érika parou ao meu lado quando entrei na sala, erguendo as sobrancelhas. —Você e o Felipe discutiram? Quer que eu vá lá dar um soco nele por você?

—O que? —Me surpreendi com a gargalhada que deixou meus lábios ao ouvir aquilo de Érika, vendo-a dar de ombros de forma inocente.

—Eu sou pequena, mas eu sei brigar, viu? —Ela balançou o punho fechado, enquanto eu ainda tentava conter a risada, antes de tocar o ombro dela e balançar a cabeça negativamente. —Vocês brigaram ou não?

—Não, a gente não brigou. Eu só estava pensando longe. —Afirmei, passando as mãos nos meus cabelos, enquanto tentava esquecer toda a sensação eletrizante que tomou conta de mim quando eu e Felipe estávamos próximos demais. —Mas é bom saber que você é boa de briga, apesar de eu também ser.

—Ah, sim, você tem cara de quem sabe dar um bom soco. —Érika murmurou, me arrancando uma risada baixa dessa vez. —Você estava pensando em que?

Abri a boca para respondê-la, percebendo que não fazia ideia do que dizer. Eu precisava urgentemente de um momento longe de Felipe. Vê-lo frequentemente estava bagunçando minha cabeça mais do que seria recomendado. Eu precisava me distrair e, principalmente, colocar minha cabeça no lugar.

[...]

Manu foi ver os rapazes tocando de novo, enquanto eu me recusei na mesma hora. Sexta feira deveria ser o melhor dia de todos e eu não queria atrapalhar minha noite com Felipe tomando conta dos meus pensamentos, naquele mesmo bar que ficamos semana passada. Uma semana, que parece mais uma eternidade.

—Tem certeza que você está bem? —Melissa indagou pelo que eu achava ser a centésima vez, me fazendo lançar um olhar demorado na direção dela, que ergueu as mãos como se estivesse se rendendo. —Tudo bem, só tô perguntando. Você nunca foi do tipo que trocava um bar por um cinema. Ainda mais numa sexta à noite.

—Eu só quero fazer uma coisa diferente hoje. —Afirmei, dando de ombros. Não era uma mentira tão grande assim. Eu queria fazer algo diferente, ao mesmo tempo que estava tentando evitar uma pessoa, que eu tinha certeza de que Melissa sabia quem era. —Se você não queria vir, era só ter me dito que eu chamava outra pessoa.

—Quem? A Manu foi ver o Bernardo tocar e o Diogo foi junto com ela. —Melissa tombou a cabeça de lado, abrindo um sorrisinho pra mim. —Se você tiver mais algum melhor amigo ou amiga além de nós três, me fala, porque eu não conheço.

—Maldita hora que eu te chamei pro cinema. —Suspirei, arrancando uma risada dela. —Podemos apenas ignorar tudo e assistir um filme? Pelo menos você não vai precisar me levar pra casa bêbada.

Melissa apenas me olhou, antes de nós duas irmos escolher o filme que iríamos assistir. Deixei ela escolher, na verdade, enquanto ia comprar pipoca. O cinema estava lotado naquele horário da noite, enquanto entrávamos na sala para ocupar nossos lugares. Olhei para Melissa, observando ela digitar apressadamente no celular, com um sorriso esquisito no rosto.

—Está conversando com quem? —Indaguei, fazendo-a erguer os olhos, enquanto se sentava ao meu lado, dando um gole no refrigerante com uma expressão disfarçada. —É com o Eduardo?

—O que? Claro que não. Por que eu ia estar conversando com ele? —Ela fez uma careta, enquanto eu erguia as sobrancelhas e lançava um olhar pra ela meio óbvio, já que eu sabia que ela havia ficado com ele aquele dia na praia. —Eu não falo com ele desde aquele dia na praia. Na verdade... —Ele suspirou, balançando a cabeça negativamente. —Ele foi meio grosseiro comigo depois que a gente ficou.

—O Eduardo? —Ela balançou a cabeça positivamente. —Estamos falando do mesmo Eduardo? Porque eu não acho que o Edu tem a capacidade de ser grosseiro com alguém.

—Bem, mais ele foi, como se esperasse que eu o pedisse em namoro depois de um beijo e a ideia fosse terrível pra ele. —Melissa bufou, parecendo um pouco irritada com aquilo. —Olha, esquece, já conversamos depois daquilo e ele agiu normalmente. Mas depois do que rolou na praia, não estou nem um pouco disposta a ficar com ele de novo.

Fiquei em silêncio, um pouco surpresos com aquele lado do Eduardo que eu não fazia ideia que existia. Felipe havia dito que Eduardo não gostava de relacionamentos, assim como o próprio Eduardo afirmou que não queria um. Mas eu não achava que isso seria a esse ponto, de ele literalmente ser rude com uma garota depois de ficar com ela.

Melissa não disse mais nada, assim como não tocou mais no celular depois que o filme começou. Quase não prestei atenção em nada, ocupada demais em comer pipoca e imaginar o que Manu e Diogo estariam fazendo no bar junto com os outros. Queria ter ido, ao mesmo tempo que não queria. É um pouco frustrante ficar perdida sobre o que fazer.

—Júlia? —Olhei para o lado, com a respiração se prendendo na minha garganta quando Felipe se sentou ao meu lado, segurando um pacote de pipoca. —Ei, que coincidência encontrar vocês duas aqui.

—Eu não acredito! —Olhei pra ele, observando seu sorriso, enquanto não acreditava no quão cara de pau ele podia ser. Virei minha cabeça para olhar para Melissa, vendo-a comendo pipoca com uma expressão disfarçada ao olhar pro filme, que deixava claro que ela sabia que ele viria.



Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora