Capítulo 54: Ele a ameaçou.

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Felipe

Sai do prédio da reitoria, erguendo as mãos para esfregar meu rosto, me sentindo tão frustrado e irritado naquele momento. Ontem eu tinha ficado furioso, porque todas as coisas ruins sempre aconteciam comigo, como se o universo estivesse me punindo por alguma coisa que eu fiz. Não tinha sequer conseguido ouvir meus amigos ou Júlia. Eu estava me sentindo tão mal que só queria ficar sozinho.

Mas naquele momento eu estava absolutamente frustrado, porque tinha certeza que alguém estava querendo me sacanear. Primeiro alguém havia me acusado de vender drogas, a ponto de abrir meu armário e criar provas contra mim. Mas então, hoje, essa mesma pessoa ligou e avisou que tudo não passou de uma armação. A reitoria não parecia nem um pouco feliz ao conversar comigo, como se estivessem muito decididos a me punir mesmo assim.

Estava feliz por não ter sido expulso, mas sabia que eles iriam ficar de olho em mim daqui pra frente, como se tivesse uma placa escrito "suspeito" na minha testa. Eu não estava nem um pouco surpreso com isso, pra falar a verdade. Pessoas como eu sempre vão ser culpadas de algo, mesmo que nunca tenhamos feito nada de errado. Parece que o fato de apenas existirmos seja um insulto pro restante da sociedade. Bom, eu queria que a sociedade explodisse hoje e todo mundo fosse pro inferno. Principalmente a pessoa que me colocou nessa situação.

Segui pelo campus, querendo ir embora dali o mais rápido possível. Ainda tinha dois dias de aula antes do final de semana, mas eu queria apenas sumir dessa universidade por uns dias e esquecer todos os problemas. Não havia contado para os meus pais sobre isso, porque eles já estavam ocupados demais resolvendo a questão do roubo da casa. Queria poder ajudá-los nisso, mas não havia nada que eu pudesse fazer.

Parei de andar quando escutei um carro freando bruscamente em um dos estacionamos. Me virei para trás para olhar, ficando completamente confuso quando vi Léo saltar de dentro do carro de Eduardo, com ele e Bernardo logo atrás. Fiquei imóvel, tentando entender o que estava acontecendo. Léo estava gritando alguma coisa, mas não entendi o que era por conta da distância. Só vi o momento que ele parou na frente de um cara e deu um soco no seu rosto.

—Puta merda! —Soltei, correndo para atravessar a rua e alcançá-los, porque a confusão não demorou a começar, com Léo e o cara indo para o chão enquanto acertavam socos um no outro.

Todo mundo começou a gritar ao redor, alguns puxando o celular para gravar, e outros querendo separar a briga. Mas Léo estava por cima, segurando-o pela gola da camiseta e socando-o sem parar. Empurrei quem estava no caminho, até chegar aos meus amigos, que estavam parados assistindo aquilo com uma expressão de satisfação no rosto.

—O que diabos vocês dois estão fazendo? Por que não pararam a briga? —Exclamei, vendo-os olhar pra mim com uma expressão cautelosa.

—Estou esperando a minha vez de bater. —Eduardo afirmou, dando de ombros, enquanto eu soltava uma risada de incredulidade.

Corri para ajudar a separar a briga, escutando os palavrões que saiam da boca de Léo quando eu e mais dois rapazes conseguimos o tirar de cima do outro cara. Só então notei que era o ex namorado de Júlia, que estava com o rosto todo vermelho e mercado dos socos que Léo havia lhe dado. Mas antes que eu conseguisse perguntar o que estava acontecendo ali, Thiago ficou de pé e fez menção de vir pra cima de Léo, antes de Eduardo cruzar sua frente e acertar um soco no seu rosto, fazendo-o cair no chão de novo com o impacto.

—Parem com isso! —Afirmei, puxando Eduardo para longe de Thiago, vendo o ex de Júlia levar a mão até o nariz que estava torto e agora sangrava, grunhindo com uma expressão de dor e raiva. —Vocês estão ficando loucos? O que deu em vocês?

—Pergunta pra ele. —Bernardo apontou para Thiago, que lançou um olhar de raiva na nossa direção, ainda segurando o nariz. Os outros caras o ajudaram a ficar de pé, cuspindo um pouco de sangue que havia em sua boca, o que me fez exibir uma careta. —Pergunta pra ele quem fez a denúncia ontem e quem colocou as drogas no seu armário.

—O que? —Soltei, olhando para Bernardo, vendo que ele parecia com tanta vontade de bater em Thiago também, mas se segurando, já que o cara parecia acabado o suficiente. Olhei para Thiago, vendo-o passar a mão na boca e rir pra mim. —Foi você? Por quê?

—Porque ele é um ser humano horrível, que foi um namorado de merda pra minha irmã e não consegue deixá-la em paz! —Léo fez força para se soltar de quem o segurava, querendo avançar sobre Thiago. —Ele só estava tentando estragar a vida dela de novo, como fez da última vez.

—Isso não faz sentido. —Afirmei, apertando meus lábios unidos, tentando pensar direito, já que todos eles pareciam de cabeça quente naquele momento. —Por que você faria isso e depois ligaria pra reitoria para avisa-los de que foi uma armação? Por quê?

Porque assim a Júlia iria terminar com você, com medo de que ele fizesse algo pior ainda para te prejudicar. —Bernardo apertou as mãos em punho, olhando para Thiago como se pudesse reduzi-lo a pó. —Ele a ameaçou e a chantageou, não foi?

—Se vocês tem tanta certeza das coisas que eu fiz, porque estão me perguntando? —Thiago riu, fazendo uma careta logo em seguida, com o sangue escorrendo do nariz para seu queixo. —Aquela vadia desgraçada já deve ter feito minha caveira, como de costume.

—Seu filho da puta, eu vou te matar! —Léo tentou avançar em cima de Thiago de novo, fazendo três dos rapazes que estavam ali o agarrarem com mais força para tentarem o conter.

Mas ninguém estava me segurando para evitar que eu fosse pra cima dele. Os amigos de Thiago tentaram evitar que eu o acertasse, mas foram empurrados por Eduardo e Bernardo. Thiago ergueu a mão para se defender, mas eu a agarrei e acertei sua mandíbula, sentindo o impacto estremecer os ossos da minha mão.

Ele cambaleou para trás, antes de vir para cima de mim. A mão fechada em punho para tentar me acertar. Consegui desviar do primeiro soco, antes de sentir o próximo atingir meu olho. Agarrei os braços dele, tentando segura-li e acerta-lo. Nós dois fomos para o chão quando ele enroscou a perna entre as minhas. Cai por cima, acertando meu cotovelo na sua mandíbula, ouvindo o som dos seus dentes batendo uns contra os outros.

Acertei o rosto dele várias vezes, sentindo minha visão nublada pela raiva. Só parei quando me arrancaram de cima dele e pude ouvir os gritos de Júlia em meio a confusão. Me prenderam contra o chão, mas eu ainda consegui ver Bernardo segurando Thiago no chão, olhando-o de uma forma ameaçadora, enquanto apontava o dedo para o seu rosto e sussurrava alguma coisa pra ele.

A raiva só desapareceu quando Júlia surgiu na minha frente e me impediu de ver o momento que Bernardo soltava Thiago. Seu rosto estava pálido e repleto de lágrimas, com a preocupação exposta no rosto quando gritou para que eles me soltassem, antes de segurar meu rosto com cuidado para ver onde Thiago havia me acertado.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora