Todas as verdades não ditas / Vol. 2

Capítulo 28: Primeiro lugar.

Júlia

A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi responder as mensagens de Felipe, querendo que ele não estranhasse meu comportamento e achasse que era culpa dela. Depois me enfiei embaixo do chuveiro, onde ensaiei o que iria dizer pro meu irmão, na tentativa de achar a maneira mais fácil e tranquila de contar a ele que Thiago estava por aqui. Sabia que ele iria surtar quando soubesse, porque não existe ninguém que Léo mais odeie na vida do que meu ex namorado.

Me sentei na minha cama, abrindo um sorriso ao ver as mensagens de Felipe pra mim. Estávamos conversando com mais frequência que o normal, o que certamente era um alerta pra mim, avisando que estávamos ficando próximos demais. Ao mesmo tempo que eu nem estava mais me incomodando com isso, porque Felipe me fazia esquecer de absolutamente tudo. Eu gostava de conversar com ele. Eu gostava muito mesmo.

—Ei! —Abri um sorriso assim que meu irmão atendeu a ligação. Como sempre, estava com cara de quem havia acabado de sair do banho, assim como eu. Mas estava com um sorriso no rosto quando me viu.

—Ei, Juju, tudo bem? —Ele escorou o celular na escrivaninha, enquanto passava uma toalha nos cabelos molhados. —Achei que não fosse me ligar mais. Você anda um pouco quieta.

—O trabalho e a universidade estão consumindo a minha energia. —Afirmei, vendo-o fazer uma careta. —Você vai compreender isso ano que vem, quando passar no vestibular.

—Se eu passar. —Léo me corrigiu, como se passar no vestibular fosse completamente impossível. Não era fácil, mas estava longe de ser impossível também.

—Você vai. —Retruquei, o fazendo rir e dar de ombros. Escorei meu celular na cabeceira da cama, antes de encarar minhas mãos no meu colo. —Vai passar e vai vir morar comigo. Vamos poder voltar a nos ver todo santo dia, a ponto de ficar de saco cheio um da cara do outro. —Meu irmão riu mais ainda, negando com a cabeça, enquanto eu sentia meu peito um pouco apertado. —Estou com saudades de casa.

—Estamos com saudades também. Pelo menos as férias estão chegando, pra nós dois. —Léo afirmou, antes de olhar para o lado e abrir um sorriso enorme, jogando a toalha que estava na sua mão na cama atrás dele. —Espera, tenho que te mostrar uma coisa.

—O que você andou aprontando? —Indaguei, vendo-o sumir da frente da tela do celular, me deixando com a imagem do seu quarto super bagunçado, antes de surgir de novo, segurando uma medalha dourada na mão. —Ah, meu Deus!

—Primeiro lugar no campeonato de xadrez do colégio. Deixei todo mundo comendo poeira. —Afirmou, me arrancando uma gargalhada, enquanto Léo passava a medalha pelo pescoço e se sentava na frente da escrivaninha. —Tem alguns torneios de xadrez nos próximos meses. Meu professor de Ed Física sugeriu que eu me inscrevesse, porque ele acha que eu tenho chance.

—Vai deixar todos os enxadrista comendo poeira. —Falei, observando o sorriso enorme que estava no rosto dele. —Eu acho que você deveria mesmo se inscrever. Você é bom demais jogando xadrez.

—É, eu deixava você toda irritada quando jogávamos juntos e eu vencia. —Léo lembrou, me fazendo exibir uma careta pra ele, porque ele sempre foi bom em xadrez, desde o momento que aprendeu a jogar. —Como andam as coisas por aí? A Manu está bem? Seus outros amigos?

—Ah, eles estão ótimos. A Manu está praticamente namorando. —Falei, abrindo um sorriso, me lembrando da forma carinhosa que os dois agiram quando se encontraram hoje, quando nós duas saímos do trabalho. Eles eram tão fofos, que não tinha como não ficar feliz ao vê-los juntos. —Mas... eu queria te contar uma coisa.

—Você está quase namorando também? —Indagou, me pegando de surpresa e me arrancando uma risada, porque aquilo com certeza seria melhor que a notícia que eu tenho pra dar pra ele agora. Hesitei, parando de sorrir quando pensei em Thiago e no quão desagradável havia sido nosso encontro. —Juju, o que foi? O que está te incomodando?

—O Thiago está estudando aqui. —Contei de uma vez, vendo Léo ficar rígido na cadeira, apertando os dedos ao redor da medalha dourada com tanta força que eu vi quando eles ficaram brancos. —Eu o encontrei em um jogo da universidade a alguns dias e... hoje de novo, no mercado.

—Puta que pariu, Júlia, e você só conta isso agora? —Léo praticamente gritou, me fazendo encolher no lugar. —Ele falou com você? Ele chegou perto de você?

—Sim, mas... —Meu irmão fechou os olhos com força, enquanto eu sentia meu coração disparar. —Mas eu estou bem, Léo. Eu não estava sozinha em nenhum dos encontros. Ele não fez nada de mais, além de agir como um idiota. Ele não encostou em mim.

—É, mas ele está aí. —Meu irmão retrucou, como se a presença dele já fosse problema o suficiente. —Merda, Júlia, eu não acredito que isso está acontecendo.

—Eu sei, também achei que nunca mais ia vê-lo de novo. —Falei, esfregando as mãos nos meus braços. —Não conta pra mamãe e pro papai, por favor. Eles ficaram tão preocupados quando toda aquela merda com o Thiago aconteceu. Eu não quero que eles se preocupem comigo agora, quando eu estou longe deles.

—E você quer que eu fique aqui parado, esperando aquela criatura desagradável te machucar de novo? —Léo indagou, revirando os olhos como se eu estivesse ficando louca.

—Não, eu te contei porque sei que não posso esconder que ele está aqui. Não quero te deixar preocupado, mas também não quero omitir nada de você. Eu só... —Soltei um suspiro pesado, balançando a cabeça negativamente. —Vou ficar longe dele, Léo. E eu estou sempre com a Manu, com a Melissa e com o Diogo. Sabe que eu nunca saio sozinha.

—Eu sei, mas isso não me deixa menos preocupado. —Léo jogou a medalha de qualquer jeito ao lado do celular, como se ela não tivesse mais nenhuma importância pra ele agora. —Assim que eu pegar férias vou pegar um ônibus pra ficar com você aí, tudo bem? Já tínhamos falado sobre isso, mas agora é sério.

—Vou ficar esperando você. —Abri um sorriso pra ele, querendo que ele entendesse que estava tudo bem.

Léo sorriu de volta, mas eu vi a sombra da preocupação e da dúvida nos seus olhos. Tinha certeza de que ele iria dar um jeito de ficar de olho em mim, mesmo estando longe. Meu irmão sempre dava um jeito em tudo.

Continua...