Capítulo 24: Mas você gosta.

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Depois do encontro com Felipe, nós dois passamos a trocar mensagens com uma frequência impressionante. Ele estava sempre me perguntando alguma coisa sobre os gaúchos, como se quisesse conhecer cada parte da cultura do meu estado. Não tinha certeza do que pensar sobre isso, mas na maioria das vezes achava fofo o esforço dele.

Ergui os olhos do celular, observando Bernardo sair do quarto de Manu e correr para fora do apartamento. Era segunda de manhã e eu não tinha dúvidas que ele estava atrasado pra aula. Desde que os dois se acertaram ele costuma dormir aqui uma noite ou outra. Gosto de provocar minha amiga sobre isso, porque eles são namorados já, mesmo sem um pedido oficial.

—Pelo visto a noite foi boa. —Comentei, assim que Manu surgiu na sala. Escondi meu sorriso atrás da xícara de café quando minha amiga corou, soltando uma risada, antes de negar com a cabeça.

—Não fizemos nada demais além de dividir a cama. —Ela deu de ombros, indo em direção a cozinha pegar o próprio café. Esperei ela voltar, abrindo espaço para que Manu se sentasse ao meu lado no sofá. —As vezes acho que as coisas estão indo rápido demais, mas depois acabo pensando que esse é só nosso jeito de levar as coisas.

—Bernardo não parece incomodado com como as coisas estão indo entre vocês. Pelo contrário, ele parece muito feliz. —Dei uma cotovelada de leve nela, que abriu um sorriso tímido, com as bochechas coradas de uma forma adorável. —De nada, eu acho. Se não fosse eu, você não teria chamado ele pra te dar aulas.

—Obrigada, Sra. Cúpido. —Manu resmungou, me arrancando uma risada. —E como andam as coisas desse lado, hein? Felipe resolveu desistir depois daquela surpresa de sexta?

—Você sabia que ele ia fazer aquilo? —Me virei pra ela na mesma hora, quase derrubando café na minha roupa com o movimento brusco. Manu balançou a cabeça negativamente, mas a risada dela era quase como uma confirmação de que sabia. —Eu não acredito, Manuela. Você sabia e não me contou?

—Eu só fiquei sabendo mais no final do dia, quando encontrei o Bernardo e a gente foi andar de patins. —Afirmou, erguendo as mãos pra cima como se fosse inocente. —E eu não contei porque não queria estragar a surpresa.

—Inacreditável, eu não posso confiar nem na minha própria melhor amiga. —Estalei a língua, negando com a cabeça, fingindo estar muito incrédula. Manu soltou uma risada, me mandando um beijo, antes de correr para o quarto para se arrumar para a aula.

[...]

Enfiei os livros que havia usado na aula dentro do meu armário, sentindo meus braços doerem, porque eram muitos livros pra usar em uma manhã só. Mas era era uma das realidades de alguém que estudava história. Você ia estar sempre carregando livros ou com a cara enfiada em um, estudando sobre algum fato histórico e precisando gravar datas e nomes de pessoas reclamando. Não estou reclamando, eu realmente gosto disso, mas as vezes a coisa é extremamente cansativa.

—Você andou sumida sexta a noite. —Melissa se escorou nos armários ao meu lado, me observando ajeitar meus livros, antes de fechá-lo e trancá-lo. —Saiu com alguém ou tentou fugir do Felipe de novo, ficando em casa?

—Eu fui em um bar com uns amigos. —Afirmei, porque não havia contado para nenhum dos meus amigos sobre meu encontro com Felipe e tinha certeza que ele também não tinha, porque se tivesse contado para os amigos, Bernardo contaria para Manu, o que eu acabaria ficado sabendo porque ela me incomodaria até quando estivéssemos embaixo da terra. —Mas você não os conhece.

—Uau! —Melissa riu, tombando a cabeça de lado enquanto me lançava um olhar debochado. —Dona Júlia anda cheia de amigos novos pelo visto. Tudo bem então.

—Não é isso, é só... —Dei de ombros, pegando minha mochila e caminhando para a saída do prédio com Melissa. —Eu queria fazer alguma coisa diferente na sexta, só isso.

—Tudo bem, as coisas estão mudando super rápido no nosso grupo. Manu está ficando com Bernardo e provavelmente eles logo vão começar a namorar. Diogo anda meio silencioso, porque ele deve estar superando o fato de Manu estar com alguém e ele ter continuado na amizade. Você está saindo com outros amigos. —Melissa soltou um suspiro pesado, negando com a cabeça de uma forma super teatral. —Era uma vez a Melissa solitária.

—Para de drama, guria! —Ri e dei uma cotovelada nela, que soltou uma gargalhada

Puxei meu celular quando ele começou a vibrar, tomando cuidado para que Melissa não visse quem era, já que o nome de Felipe apareceu na tela do meu celular, quando eu vi que as mensagens eram dele. Abri o chat na mesma hora, mordendo o lábio para não rir quando vi o que ele havia me mandado.

Luiz Felipe — Como se prepara um chimarrão?
Tem alguma coisa sobrenatural que eu precise fazer, ou é só colocar a erva-mate na cuia e jogar água quente?
Eu comprei as coisas necessárias, antes que me pergunte.

Júlia — Não acredito que você comprou as coisas para fazer.
E se você não gostar?

Luiz Felipe — Mas você gosta.
Então se eu não gostar, eu faço chimarrão pra você quando vier me visitar na minha humilde residência.

Júlia — Posso te mostrar como fazer.
Mas quero estar junto, porque preciso muito ver sua reação quando beber pela primeira vez.

Luiz Felipe — É um tipo de teste de caráter?
Se eu não gostar, serei reprovado?

Júlia — Não sei porque te levo a sério.

Luiz Felipe — Assim você me magoa, Jujuba.

Mandei uma figurinha mostrando o dedo do meio pra ele, que me respondeu com uma cheia de corações. Um grande idiota, apesar de aquilo ter me arrancado uma risada genuína, antes de guardar o celular na bolsa de novo, percebendo que Melissa estava me observando com uma expressão desconfiada.

—O que foi? —Lancei um olhar debochado pra ela, antes de me apressar para fora do prédio, porque ela ainda estava me encarando fixamente. —Não posso mais trocar mensagens agora?

—Eu nem disse nada! —Ela soltou uma risadinha e deu de ombros, como se eu estivesse me entregando sozinha. Aquilo me fez bufar, mas ainda assim, não consegui tirar o sorriso do rosto ao imaginar Felipe tentando fazer chimarrão por minha causa.


Continua...

Todas as verdades não ditas / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora