Não fiquei fazendo companhia pra Felipe, mesmo depois de ele ter cantado aquela música pra mim. Ele ficou rodeado o tempo todo, com todo mundo querendo pedir uma música pra ele tocar. Então me mantive afastada, evitando ser o centro das atenções junto com ele. Quando me cansei de ficar observando ele ser paparicado como uma celebridade, peguei minhas coisas e me despedi de Melissa e Diogo, querendo ir embora dali.
—Pensei que ia dormir aqui. —Melissa fez um biquinho enquanto abria a porta pra mim. —Você nem parecia tão animada hoje. O que foi? Foi porque eu chamei o Felipe?
—Ele não é um problema pra mim. —Afirmei, vendo ela comprimir os lábios como se não acreditasse nem um pouco em mim. —Não faz essa cara. Você me conhece bem o suficiente pra saber que eu não me envolvo.
—Isso não significa que não possa mudar. —Mel deu de ombros, me fazendo erguer as sobrancelhas pra ela. Era como se todos os meus amigos tivessem se juntado pra me empurrar para Felipe, como se nós dois tivéssemos sido feitos um para o outro. Mas na verdade, não éramos nem um pouco compatíveis. —O que seu ex te fez pra você odiar relacionamentos, Júlia?
Olhei pra ela por tanto tempo, querendo que os últimos segundos regredissem e ela não tivesse feito aquela pergunta, porque ela causou uma avalanche de sensações desagradáveis dentro de mim, a ponto do meu estômago dar um nó e toda comida subir para minha garganta, deixando ácido queimando na minha língua.
—Isso não é da sua conta. —Sibilei, antes de pensar se estava sendo grosseira com minha amiga ou não. Melissa não apareceu ofendida, mas também não parecia nem um pouco feliz com a minha resposta. Balancei a cabeça negativamente e sai do apartamento dela sem olhar pra trás, querendo esquecer o que havia acabado de acontecer ali.
Sai do prédio, caminhando pela rua pouco movimentada. Já havia anoitecido e eu não via a hora de chegar em casa e ouvir Manu falando sobre seu dia com Bernardo, que com certeza foi melhor do que o meu, exceto pelos seus pais babacas. Peguei meu celular para chamar um Uber, erguendo a cabeça e me segurando para não revirar os olhos quando a adorável kombi de Felipe parou ao lado da calçada onde eu estava.
—Quer uma carona? —Indagou, com um sorrisinho amigável até demais, que me fez morder o lábio para não soltar uma risada.
—Minha mãe me ensinou a nunca entrar em carro de estranhos. —Afirmei, o que o fez rir, enquanto olhava para o movimento na rua como se estivesse pensando, antes de se virar pra mim de novo. —Estou começando a pensar que você está mesmo me seguindo.
—Ou o destino quer mesmo nós dois juntos. —Rebateu, e eu explodi em uma gargalhada, porque de tudo que eu esperava que ele falasse, essa era certamente a última coisa. —Entra aí, Júlia. Não vou sequestrar você nem nada do tipo.
—Tenho minhas dúvidas. —Sussurrei, vendo-o sorrir enquanto eu dava a volta pela frente do carro e me sentava no banco ao seu lado. —Cansou de ser tratado como uma celebridade?
—Ficou com ciúmes? —Foi a resposta dele, que me fez bufar enquanto passava o cinto de segurança e o via colocar o carro em movimento. Balancei minha cabeça negativamente, preferindo não responder aquilo. Felipe sempre parecia ter uma resposta pronta pra tudo, não importava o que eu dissesse.
—Você trabalhava com seu pai antes de entrar na universidade? —Indaguei, querendo mudar de assunto, vendo Felipe me lançar um olhar demorado antes de voltar a prestar atenção na rua. —Lembro que você disse que vocês dois consertaram essa kombi juntos, antes de ele te dar ela de presente.
—Sim, eu trabalhava. Ele me ensinou absolutamente tudo sobre carros. Acho que ele tinha certeza de que eu escolheria algo relacionado a carros pra cursar. —Seu sorriso não diminuiu, mas vi que havia alguma coisa ali. —Acho que ele ficou um pouco decepcionado quando escolhi química, mas também nunca reclamou.
—Não se pode agradar todo mundo. —Falei, lembrando da reação dos meus próprios pais. —Os meus ficaram felizes quando passei no vestibular, apesar de ambos quererem que eu fizesse veterinária, como eles. Pelo menos meu irmão mais novo quer seguir nesse mesmo caminho.
—Espera, você tem um irmão mais novo? —Felipe indagou, parecendo ter sido pego de surpresa com essa informação. Mas balancei a cabeça que sim, tentando imaginar o que Léo pensaria de Felipe e vice versa. —Você não faz do tipo "irmã mais velha".
—Meu irmão concordaria com isso. Normalmente é ele quem age como irmão mais velho. —Afirmei, arrancando uma risada de Felipe. —Acho que vocês dois iam se dar bem.
—Mesmo? Já está pensando em me apresentar a sua família sem me dar o meu encontro antes? —Indagou, me fazendo olhar pra ele com uma expressão indignada, porque era óbvio que ele ia falar sobre isso de novo.
—Seu encontro? —Eu soltei uma risada, estalando a língua enquanto negava com a cabeça. —Já está se cansando de esperar, Luiz? Quer que eu busque uma cadeira pra você esperar mais confortavelmente o dia de São Nunca?
—Engraçadinha. —Ele sorriu mais ainda, como se nada do que eu falasse pudesse mudar o que ele pensa. —Estou muito confortável esperando, porque sei que no final eu vou ganhar.
—Isso virou uma competição pra você agora? —Indaguei, tombando a cabeça de lado e o encarando com uma careta no rosto. —Eu sou o seu prêmio de consolação?
—Não, não uma competição. Não trataria você como um prêmio. —Retrucou, estacionando o carro na garagem do nosso prédio, que eu nem havia notado que chegamos tão rápido em meio a nossa conversa. —Penso nisso como um jogo de futebol que estamos em times opostos. Acho que o jogo está empatado por enquanto. Mas ainda vou virar.
—Que bela analogia. —Afirmei, soltando uma gargalhada que fez ele olhar pra mim e sorrir, dando de ombros de uma forma muito inocente. —Não perca seu tempo comigo, Luiz. Tenho certeza de que existem milhares de garotas que iriam amar sair com você.
—Eu sei disso. —Ele balançou a cabeça, abrindo a porta pra descer. —Mas nenhuma delas é você, certo? E quando eu coloco uma coisa na cabeça, é difícil tirar.
Continua...
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Todas as verdades não ditas / Vol. 2
RomanceJúlia não tem medo de erguer a cabeça e enfrentar os desafios que a vida coloca em seu caminho. Sendo uma estudante de história, ela quer escrever a melhor história de todas pra si e isso a faz aproveitar suas noites da melhor maneira possível. Mas...